13/04/2019

Resistência e memória marcam inauguração da Escultura Troféu Prêmio Vladimir Herzog

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A Praça Memorial Vladimir Herzog foi ponto de encontro para indivíduos e entidades compartilharem o Dia do Jornalista, a memória de Vlado e de tantos outros que lutaram por democracia, justiça e direitos humanos.

Com informações do site da Oboré Projetos Especiais
Fotos: Augusto Godoy (Oboré)

Na manhã do último sábado, 6 de abril, foi inaugurada a Escultura do Troféu Prêmio Vladimir Herzog, de Elifas Andreato, na Praça Memorial Vladimir Herzog – localizada na Rua Santo Antônio com a Praça da Bandeira. O evento comemorou o Dia do(a) Jornalista, celebrado dia 7 de abril desde 1931.

O troféu do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que acontece desde 1979 – três anos após o assassinato de Vlado – surge como reconhecimento da sociedade brasileira aos profissionais da imprensa que, por meio de seu trabalho cotidiano, colaboram com a promoção da Democracia, da Liberdade e dos Direitos Humanos.

A atividade e a escultura foram financiadas com recursos de emenda parlamentar ao orçamento da Prefeitura apresentada pela vereadora Soninha Francine, que conduziu a cerimônia. O coral da Guarda Civil Metropolitana deu início ao ato cantando “São Paulo, São Paulo”, “O Bêbado e o Equilibrista” e “Aquarela do Brasil”.

Desde 2013 sob os cuidados da Câmara, a praça conta com três obras de Elifas. Além da peça inaugurada – versão ampliada do troféu entregue anualmente aos vencedores do prêmio – há outras duas obras do autor:

– Uma delas consiste em um mosaico, realizado pelas crianças do Projeto Âncora em 2013, que reproduz a tela “25 de Outubro” do autor, conhecida como “Guernica brasileira” e pintada originalmente em 1981 em alusão ao método de tortura da “cadeira do dragão”, ocupado durante a ditadura militar. O título faz referência à data de nascimento de Picasso e a do assassinato de Herzog.

– A outra se trata de uma versão ampliada da escultura “Vlado Vitorioso”, encomendada pela ONU no ano de 2008 em comemoração aos 60 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

Ainda serão instalados dois painéis – um à direita do mosaico, com o nome de todos os premiados do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. E outro à esquerda, com o nome de todas as pessoas que assinaram o manifesto “Em nome da verdade”, documento entregue à Justiça Militar dia 6 de janeiro de 1976 e publicado na edição número 6, de janeiro 1976, do Jornal Unidade, órgão do SJSP, contestando a versão farstante do Exército de que Vlado havia se suicidado.

“Os monumentos são erguidos para nos lembrar a história, memórias da nação, conquistas, lutas dos povos…E aqui, modestamente construímos monumentos em memória não apenas do Vlado, mas de muitos. A partir de hoje nós temos que entender esta praça como um ponto de resistência diante de uma grande ameaça”, elucidou Elifas minutos antes da inauguração.

Entre os presentes estavam o jornalista Juca Kfouri, o cineasta João Batista de Andrade (diretor do filme “Vlado – 30 anos depois”), o jornalista Everaldo Gouveia – representando Antônio Donato, e os vereadores Eduardo Suplicy e Eliseu Gabriel, estes dois últimos fizeram uso da palavra. Futuros profissionais e presentes comunicadores, estudantes dos Centros Acadêmicos; Lupe Coltrim (ECA-SUP), Vladimir Herzog (Cásper Líbero) e Benevides Paixão (PUC-SP), também fizeram sua representação no evento.

Elifas Andreato expôs em suas obras elementos políticos e críticos.

Praça Memorial Vladimir Herzog
Em 2012, a Câmara Municipal de São Paulo criou a Comissão Municipal da Verdade “Vladimir Herzog” para investigar crimes cometidos durante a ditadura na cidade paulistana. A praça foi idealizada no mesmo ano por iniciativa do vereador Ítalo Cardoso, e então Presidente da Comissão de Direitos Humanos do Parlamento, e o presidente da CMSP, Police Neto, como um memorial em defesa da liberdade de imprensa.

“Quando surgiu a Comissão Nacional da Verdade, conversando com os vereadores aqui na casa, falamos que São Paulo tinha uma contribuição muito grande a dar a Comissão Nacional da Verdade por tudo que aconteceu aqui, de bem e de mal. Infelizmente na cidade de São Paulo ocorreram coisas muito tristes, muito duras. Portanto, nós tínhamos que instalar uma comissão aqui no município”, conta Ítalo Cardoso.

Ao longo dos anos, a proposta foi abraçada pelos sucessivos presidentes da Casa – vereadores José Police Neto, José Américo, Antônio Donato e Milton Leite, e contou com igual apoio de vereadores como Gilberto Natalini, Eliseu Gabriel, Juliana Cardoso e Soninha Francine.

“A recuperação desta praça atravessou várias gestões da Câmara Municipal. É uma homenagem a figura do Vladimir Herzog. Não diria que é uma conclusão porque a gente espera que a ocupação da praça, mais e mais, seja a continuidade dessa parte física das intervenções”, confirmou Soninha Francine.

“Eu acho que nós temos uma falência em um projeto de Educação. As pessoas não sabem o que aconteceu neste país e essa praça, que no início do projeto de Ítalo [Cardoso] era um local de memória, eu acho que hoje, com o contexto que a gente tem, é mais que apenas um local de memória. É um local de resistência, é um movimento contra essa situação que está tentando se impor no Brasil”, comentou Ivo Herzog, filho do ex-jornalista.

O espaço memorial abriga a praça, a Banca dos Jornalistas “Vladimir Herzog”, além de servir de recanto para funcionários da Câmara, moradores do bairro e transeuntes do centro. É também parada obrigatória no Programa Permanente de Visitação da Edilidade Paulistana.

A realização do projeto da Praça é também fruto do esforço coletivo de entidades dentre as quais Instituto Vladimir Herzog, OBORÉ Projetos Especiais, Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, além das instituições que integram a Comissão do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos: Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo; Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo; Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; Ordem dos Advogados do Brasil – Secção São Paulo; Federação Nacional dos Jornalistas; Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo; Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo; Conectas Direitos Humanos, Coletivo Periferia em Movimento, Centro de Informação das Nações Unidas no Brasil; Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – Intercom e Instituto Vladimir Herzog.

Ítalo Cardoso foi até a casa de Clarice em abril de 2012 para pedir autorização para o uso do nome de Vlado.

Aqui, agora, em nome do futuro
Ao final do evento, a viúva de Audálio Dantas, Vanira Kunc, realizou a leitura do documento “Aqui, agora, em nome do futuro”, assinado por todas as entidades representativas dos direitos e interesses dos jornalistas. Falecido em maio de 2018, Audálio era amigo de Vlado, foi presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo durante a ditadura, articulou manifestações póstumas ao assassinato, além de escrever o livro “As duas guerras de Vlado Herzog”.

O manifesto reafirma o profundo compromisso dos envolvidos com a Democracia, Liberdade de Expressão, Direito à Informação, Defesa da Dignidade Profissional e Respeito aos princípios da Constituição de 1988. A leitura antecedeu o final do evento, marcado pela execução do Hino da República (que traz o verso “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”) pelo coral da GCM.

Leia o manifesto na íntegra:

AQUI, AGORA, EM NOME DO FUTURO
Pela primeira vez em muitos, muitos anos, TODAS as entidades representativas dos direitos e interesses dos jornalistas em São Paulo estão UNIDAS para celebrar o DIA DO JORNALISTA. Em plena “Praça Memorial Vladimir Herzog”, logo após a solenidade de inauguração da escultura “Troféu Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos” do grande Elifas Andreato, aqui estamos para reafirmar nosso profundo compromisso com:

Democracia, Liberdade de Expressão, Direito à Informação, Defesa da Dignidade Profissional, Respeito aos princípios da Constituição Cidadã de 1988

Nunca mais Ditadura, Censura, Tortura!!!
Liberdade! Liberdade!
Abre as asas sobre nós

São Paulo, Brasil, 6 de Abril de 2019

Assinam este documento:
Artigo 19
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
Associação dos Cartunistas do Brasil
Associação dos Correspondentes Estrangeiros
Associação Paulista dos Jornalistas Veteranos
Associação Profissão Jornalista
Associação dos Quadrinhistas e Caricaturistas do Estado de São Paulo
Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo
Centro de Estudos da Mídia Independente “Barão de Itararé”
Chapa ABI – Luta Pela Democracia / Representação São Paulo
Conectas Direitos Humanos
Federação Nacional dos Jornalistas
Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação
Instituto do Memorial de Artes Gráficas do Brasil 
Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social
Projeto Repórter do Futuro / OBORÉ
Repórteres Sem Fronteiras
Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo
Vlado Proteção / Instituto Vladimir Herzog

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