11/09/2014

Paço das Artes abre exposição de João Pina sobre as marcas da Ditadura Militar

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O Paço das Artes inaugura no dia 23 de setembro, a exposição “Operação Condor”, do fotógrafo português João Pina. A curadoria é de Diógenes Moura. A partir das 19h, haverá uma mesa-redonda com a participação de Pina, do curador e de Maurice Politi, retratado pelo fotógrafo na mostra, e de Priscila Arantes, diretora técnica e curadora do Paço das Artes, seguida do lançamento do livro “Condor” (Editora Tinta da China). A entrada é gratuita.Priscila Arantes chama a atenção para a relevância histórica e política da obra de João Pina num momento em que a Comissão da Verdade investiga as violações de direitos humanos no Brasil durante o regime militar, que completa 50 anos em 2014. “Como instituição preocupada com a memória e registro de suas ações, o Paço das Artes considera de extrema importância a realização desta exposição num período de abertura dos arquivos da Ditadura Militar brasileira”, diz.

A mostra, que reúne 113 imagens em preto e branco e em formatos variados, é composta pelas séries “Brasileiros”, “Retratos”, “Paisagens”, “Laboratório”, “Prisões”, “Julgamentos”, “Salas de Tortura” e “Arquivos”. Por meio destas fotografias, Pina investiga e documenta as histórias de brasileiros e outros sul-americanos, que foram diretamente afetados pelas ditaduras militares em geral, e, em particular, pela Operação Condor. “A série ‘Operação Condor’, que o fotógrafo João Pina realizou nos últimos nove anos vai muito além de imagens documentais. Elas falam de ausência, da perda do que é irrecuperável, da procura de identidades desaparecidas e ainda sem explicação, da dor dos que deixaram de conviver com familiares e amigos, do corte seco que levou para sempre os que tiveram a liberdade tolhida nos anos da ditadura. É mais que uma exposição: é um documento sobre cicatrizes”, afirma Diógenes Moura.

A Operação Condor, segundo definição utilizada por João Pina, foi um plano secreto que uniu, em 1975, no auge da Guerra Fria, seis países latino-americanos –Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Uruguai e Paraguai–, que viviam sob regimes militares de extrema-direita. “Através da partilha de informações, recursos, técnicas de tortura e prisioneiros políticos, estes países pretendiam aniquilar a oposição política, a quem chamavam a “ameaça comunista” ou os “subversivos”, afirma.

Cientistas da EAAF (equipe argentina de antropologistas forenses) tentam identificar restos mortais de dois desaparecidos políticos (Foto: João Pina / Buenos Aires, janeiro de 2012)
Cientistas da EAAF (equipe argentina de antropologistas forenses) tentam identificar restos mortais de dois desaparecidos políticos (Foto: João Pina / Buenos Aires, janeiro de 2012)

Entre 2005 e 2014, com a máquina fotográfica numa mão e o gravador em outra, João Pina entrou provisoriamente na vida de algumas pessoas, a quem pediu que partilhassem tanto as suas memórias como os lugares onde viveram experiências terríveis. “Sabendo eu, por via familiar, dos efeitos que um longo regime ditatorial pode provocar na sociedade e nas vítimas diretas dos abusos cometidos pelos repressores, a minha curiosidade persistiu o suficiente para eu concluir que estas experiências podiam e deviam ter uma existência visual. Assim, decidi usar a fotografia, que é a minha linguagem, para observar as vítimas do Condor”, relata Pina.

No Brasil, Pina retratou e entrevistou sobreviventes da luta armada, parentes de vítimas das ditaduras e militares que participaram da repressão, acompanhou prisões e julgamentos, além de fotografar antigos centros de detenção como a antiga sede do DOI-Codi em São Paulo, que hoje abriga a 36ª DP, na Vila Mariana.

 

O fotógrafo viajou também a Pernambuco, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Pará, Tocantins, onde entrevistou, inclusive, personagens da guerrilha do Araguaia, como Josias Gonçalves, ex-guerrilheiro que na década de 1970 lutou contra o exército brasileiro na região do Araguaia; e Sebastião Rodrigues de Moura “Curió”, coronel do exército brasileiro responsável pela repressão e exterminação da guerrilha do Araguaia, no início dos anos de 1970. “Curió”, que foi fotografado em Brasília (DF), afirmou ter participado da Operação Condor, no âmbito das missões dos serviços secretos militares brasileiros na Argentina, no Chile, no Uruguai e no Paraguai. Apesar de ter sido denunciado pelo Ministério Público Federal em 2012, “Curió” não pode ser acusado judicialmente devido à lei de anistia que ainda existe no Brasil.

Josias “Jonas” Gonçalves, ex-guerrilheiro da década de 1970, foi fotografado na Serra das Andorinhas, onde lutou contra o Exército brasileiro, na região do Araguaia (Foto: João Pina, 2011)
Josias “Jonas” Gonçalves, ex-guerrilheiro da década de 1970, foi fotografado na Serra das Andorinhas, onde lutou contra o Exército brasileiro, na região do Araguaia (Foto: João Pina, 2011)

João Pina testemunhou, ainda, como alguns dos sobreviventes e familiares lidam com traumas gerados por este período, que vão desde depressões agudas a estados de paranoia e outros problemas psíquicos menos visíveis, mas que de alguma maneira transformaram a vida de várias gerações. “Ainda hoje, da selva amazônica no Brasil até as terras geladas da Patagônia, milhares de vítimas continuam enterradas em fossas não identificadas. As fotografias que serão mostradas fazem parte de um projeto que tenta prestar homenagem a todas as vítimas das ditaduras que governaram com mão de ferro esta região”, completa.

 

Matérias sobre este trabalho de João Pina foram publicadas recentemente em grandes veículos como CNN , os jornais The New York Times e O Globo, as revistas New Yorker, Time, Newsweek, entre outros.

Arquivos

A preocupação com a memória é recorrente no Paço das Artes, que realizou a exposição “Arquivo Vivo” em 2013. Com curadoria de Priscila Arantes, a mostra reuniu obras de 22 artistas, como a instalação La no-Historia, da chilena Voluspa Jarpa, com arquivos censurados pelo Serviço de Inteligência Secreta dos Estados Unidos sobre a Operação Condor.

O Brasil e a América Latina estarão também na pauta do Seminário Internacional de Arte Contemporânea, que o Paço das Artes promove nos dias 26 e 27 de setembro, com o tema “Arte em Deslocamento: trânsitos geopoéticos”. Entre outros assuntos, o evento pretende discutir algumas questões contemporâneas como o papel da América Latina dentro do contexto da arte em tempos de globalização, a identidade nacional na América Latina e no Brasil, e os lugares que as manifestações artísticas podem ocupar em um mundo marcado pelo nomadismo, impermanência e simultaneidade.

 

SERVIÇO

“Operação Condor” | João Pinacondor_divulgacao

Curadoria: Diógenes Moura

Abertura: 23 de setembro de 2014 (terça-feira) >> 19h

Mesa-redonda com João Pina, Diógenes Moura, Maurice Politi e Priscila Arantes

Visitação: até 7 de dezembro

Terças a sextas > 10h às 19h | Sábados, domingos e feriados > 11h às 18h

Apoio: Epson e Tinta da China

Paço das Artes

Avenida da Universidade, 1, Cidade Universitária, São Paulo/SP; tel.: (11) 3814-4832

 

Informações para a imprensa – Paço das Artes

Carolina Ferreira | [email protected] | (11) 3814-4832

Josimar Valerio | [email protected] | (11) 3814-4832

 

Informações para a imprensa – Secretaria de Estado da Cultura

Jamille Menezes | [email protected] | (11) 3339-8243

Natália Inzinna | [email protected] | (11) 3339-8162

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