Evento de lançamento contará com protagonistas da luta por Memória, Verdade e Justiça e acontece em 1º de setembro, às 18h, nas redes sociais do IVH
Na semana em que se completam 30 anos da abertura da Vala de Perus, o Instituto Vladimir Herzog lança o projeto “Vala de Perus: uma biografia”, no qual o jornalista Camilo Vannuchi conta a história do ossário clandestino construído no Cemitério Dom Bosco, em São Paulo, para ocultar vítimas da Polícia Militar, dos esquadrões da morte e do sistema de repressão durante a ditadura militar. Nos anos 1970, a vala pode ter sido o destino de dezenas de desaparecidos políticos. Somente cinco deles foram identificados até hoje.
Para marcar a efeméride e a publicação do primeiro capítulo da obra, o IVH realiza uma live no dia 1º de setembro, das 18h às 20h, com a participação de protagonistas da luta por Memória, Verdade e Justiça, como Rogério Sottili, Eugênia Gonzaga, Suzana Lisboa, Amelinha Teles, representantes do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF), da Unifesp e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos (SMDHC) da Prefeitura de São Paulo. Além do debate ao vivo, serão exibidos depoimentos de: Toninho Eustáquio, Caco Barcellos e Luiza Erundina, nomes fundamentais nesta história. A transmissão será feita pelo Facebook e pelo YouTube do IVH, com retransmissão do Jornalistas Livres.
CONFIRME PRESENÇA NO EVENTO DO FACEBOOK
O livro “Vala de Perus: uma biografia” pretende resgatar e registrar, por meio de pesquisa documental e das memórias de seus protagonistas, os bastidores de um dos episódios mais escandalosos e representativos das violações de direitos humanos praticadas durante a ditadura militar no Brasil: a criação em 1976 e a deflagração, em 4 de setembro de 1990, de uma vala comum construída ilegalmente pela Prefeitura de São Paulo no Cemitério Municipal Dom Bosco, no distrito de Perus. Do local foram retiradas 1.049 ossadas, em parte constituídas por vítimas dos esquadrões da morte e por ativistas políticos executados durante o regime militar. Os oito capítulos do livro serão publicados semanalmente em formato digital no portal Memórias da Ditadura a partir de 1º de setembro – e serão apresentados ainda este ano em edição especial no formato impresso. Além das duas versões do livro, também será lançada nos próximos meses uma série de vídeos temáticos sobre a trajetória da Vala de Perus, editados a partir dos depoimentos recolhidos para a construção da obra.
“Esse é um trabalho inédito, pois até hoje não tínhamos uma publicação que contasse os diversos momentos da história da Vala de Perus”, afirma Rogério Sottili, diretor executivo do IVH. “Após três décadas da abertura da vala, que foi um marco fundamental para todos que lutam por Memória, Verdade e Justiça, vivemos infelizmente um momento em que o presidente do nosso país elogia torturadores publicamente e não hesita em fazer apologia ao terror ditatorial. Neste contexto, este livro existe para que as pessoas saibam o regime de morte e terror que foi a ditadura brasileira. Os familiares de mortos e desaparecidos no período nunca desistiram de buscar justiça. Nós nunca desistimos. Vamos até o fim para que conheçamos a nossa história e possamos responsabilizar aqueles que cometeram graves violações de direitos humanos no Brasil. Esse é o compromisso do Instituto Vladimir Herzog.”
Confira a programação da live de lançamento do projeto “Vala de Perus: uma biografia”:
18h-18h20 // Abertura
Moderação: Lucas Paolo Vilalta, coordenador da área de Memória, Verdade e Justiça (IVH)
Ana Claudia Carletto, Secretária Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC)
Carla Osmo, vice coordenadora do CAAF e professora da Faculdade de Direito da Unifesp
Juliana Cardoso, vereadora da Câmara Municipal de São Paulo
Rogério Sottili, diretor executivo do Instituto Vladimir Herzog18h20 – 18h40 – Apresentação
Moderação: Camilo Vannuchi, jornalista e autor do livro “Vala de Perus: uma biografia”
Caco Barcellos, jornalista (vídeo)
Luiza Erundina, deputada federal pelo Estado de São Paulo (vídeo)
Toninho Eustáquio, ex-administrador do Cemitério Dom Bosco (vídeo)18h40-19h20 // Painel 1: 30 anos da abertura da Vala
Moderação: Camilo Vannuchi, jornalista e autor do livro “Vala de Perus: uma biografia”
Amelinha Teles, familiares de mortos e desaparecidos
Iara Xavier, familiares de mortos e desaparecidos
Ivan Seixas, familiares de mortos e desaparecidos
Suzana Lisboa, familiares de mortos e desaparecidos19h20-20h // Painel 2: Direito à memória e à verdade
Moderação: Camilo Vannuchi, jornalista e autor do livro “Vala de Perus: uma biografia”
Carla Borges, ex-coordenadora de Direito à Memória e à Verdade da SMDHC
Eugênia Gonzaga, procuradora regional da República e ex-presidente da CEMDP
Gilberto Molina, familiares de mortos e desaparecidos
Soraya Smailli, reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Tereza Lajolo, relatora da CPI de Perus
A abertura da Vala de Perus
Embora familiares já soubessem desde os anos 1970 que o Cemitério Dom Bosco escondia corpos de ativistas políticos mortos pela ditadura militar, foi somente vinte anos depois que essa história ganhou repercussão. Em 1990, o repórter Caco Barcellos, ao investigar evidências da violência policial no IML de São Paulo, encontrou indícios de que haveria naquele cemitério uma vala clandestina. Entrevistou Toninho Eustáquio, administrador do cemitério, e descobriu tanto a localização da vala quanto a suspeita de que ela ocultava também ossadas de indigentes e desaparecidos da ditadura. Acompanhada pela Comissão de Familiares de Presos Políticos Desaparecidos, a Prefeitura de São Paulo, na época sob mandato de Luiza Erundina, realizou no dia 4 de setembro de 1990 uma ação histórica para a luta por Memória, Verdade e Justiça: a abertura da Vala de Perus. A partir da escavação, foram retirados 1049 sacos plásticos contendo ossadas sem identificação. São mais de mil corpos mortos pela violência de Estado, seja pela fome, pela perseguição política ou pela violência policial, sepultados sem a garantia de seus direitos, ocultados pelas estratégias repressivas da ditadura militar. No entanto, como indica o monumento que hoje há no local, “os crimes contra a liberdade serão sempre descobertos”.