Projeto Territórios da Memória registrou em quatro episódios as narrativas e as pessoas que mantêm vivas as memórias de lugares invisibilizados da cidade
O Instituto Vladimir Herzog lança nesta quarta-feira, 06 de novembro, o primeiro episódio da websérie “Territórios da Memória”, que tem como objetivo registrar e valorizar as narrativas, os lugares e as pessoas que resistem e mantêm vivas as memórias de territórios periféricos da cidade de São Paulo. Para compor o episódio de lançamento, foi escolhida a história da descoberta de ossadas na Vala Clandestina de Perus e da constituição do Grupo de Trabalho Perus, responsável pela análise das ossadas no Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF).
Apresentamos como o CAAF foi criado pela luta e pelos esforços conjuntos da Unifesp, da então Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, por meio da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos e da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC) da Prefeitura de São Paulo. O episódio 1 pretende mostrar como um trabalho de perícia humanizado pode servir para a defesa dos direitos humanos e para a criação de elos entre memórias e territórios.
A iniciativa faz parte do projeto Territórios da Memória, lançado em maio de 2019 e que realizou uma série de encontros para articular trocas de experiências, escuta de memórias invisibilizadas e ações artístico-culturais de territórios periféricos. A websérie é resultado destes encontros potentes e terá quatro capítulos, publicados às quartas-feiras de novembro nas redes sociais do Instituto Vladimir Herzog. Em cada episódio, escutaremos sobre novos territórios, explorando as 5 macrorregiões de São Paulo por meio do CAAF, do Quilombaque, da Ocupação 9 de Julho, do Ponto de Economia Solidária do Butantã, da Ocupação Cultural Mateus Santos e da Praça João Pais Malio.
A websérie é uma realização do Instituto Vladimir Herzog, da agência de notícias Alma Preta e da Entremeios – Articulação e Formação, com apoio do mandato do vereador Eduardo Suplicy e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo.
Confira abaixo um resumo dos temas abordados em cada episódio:
Episódio #1 – Perícia, Memória e Territórios
O episódio conta a história da ossadas descobertas na Vala Clandestina de Perus e como se constituiu o Grupo de Trabalho Perus, responsável pela análise das ossadas no Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF). O CAAF investiga também os Crimes de Maio de 2006. Tendo estes dois casos como exemplo, o episódio mostra como um trabalho de perícia humanizado pode servir para a defesa dos direitos humanos.
Episódio #2 – As lutas e memórias de Perus – para além da Vala
Territórios: Quilombaque e o Centro de Defesa de Direitos Humanos Carlos Alberto Pazzini
O episódio apresenta uma história pouco contada sobre Perus: a luta dos queixadas e uma greve que durou 7 anos, narrativas que inspiraram e ainda inspiram diferentes gerações de ativistas que atuam no território. Mostra também espaços de resistência, como a Quilombaque e o Centro de Defesa de Direitos Humanos Carlos Alberto Pazzini, duas referências na luta por direitos humanos em Perus. O episódio faz ainda uma breve homenagem a José Soró, coordenador da Quilombaque e grande semeador de memórias, que faleceu no último dia 3o de outubro.
Episódio #3 – Ocupar os territórios, ocupar as memórias
Territórios: Ocupação 9 de Julho e Ponto de Economia Solidária do Butantã
O episódio conta como as lutas por moradia, pelo direito à cidade e por uma economia inclusiva são lutas também por territórios da memória. A memória é um território a ser disputado, em que narrativas, histórias e pessoas são muitas vezes apagadas e invisibilizadas por uma memória tradicional. O episódio mostra como a Ocupação 9 de Julho e o Ponto de Economia Solidária do Butantã, de maneiras distintas, são espaços que lutam pelo enfrentamento à violência de Estado e contra o silenciamento de pessoas marginalizadas pela sociedade.
Episódio #4 – A arte e a cultura como memória dos territórios
Territórios: Ocupação Cultural Mateus Santos e Praça João Pais Malio
O último episódio da websérie apresenta como a cultura tem sido uma bandeira, mas também uma ferramenta de luta dos territórios periféricos. Aponta, assim, como estes não tem apenas cobrado políticas públicas do Estado, mas ensinado como elas podem ser construídas na valorização dos saberes e das memórias de cada território. É isso que estes lugares nos contam: como a arte e a cultura não apenas preservam e disseminam a memória, mas também constroem o terreno para uma outra forma de viver e pensar o espaço comunitário.