Organizado pelo IVH, o livro pretende contar a trajetória de 15 mulheres que lutam por Memória, Verdade e Justiça
O projeto Heroínas dessa História, organizado pelo Instituto Vladimir Herzog, lança nesta segunda-feira (18 de março) uma campanha de financiamento coletivo para terminar de produzir seu primeiro conteúdo: um livro que contará a trajetória de 15 mulheres que tiveram seus familiares assassinados e desaparecidos por agentes do Estado durante a ditadura militar (1964-1985) e transformaram suas vidas em luta por Memória, Verdade e Justiça.
A campanha ficará no ar por 45 dias, até o dia 29 de abril, e pretende arrecadar 150 mil reais para finalizar a produção dos perfis do livro, que será lançado no final deste semestre. O Heroínas é um livro sobre mulheres e inteiramente produzido por mulheres. Serão 15 perfis redigidos por 15 autoras jornalistas. Eles tocam em diferentes aspectos da ditadura militar brasileira e abrangem as diversas regiões do país, retratando um mosaico de resistências cotidianas.
As doações envolvem diferentes opções de valores (entre 10 e 1000 reais) e também de recompensas, que vão desde uma edição impressa do livro a cartazes, ecobags e bottons exclusivos do projeto. Também será possível escolher outras publicações do IVH. Todos os doadores terão um agradecimento público e nome na galeria de apoiadores.
Participe e faça sua doação no Catarse! Por memória, verdade e justiça!
Acesse o link: www.catarse.me/heroinas
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SOBRE O HEROÍNAS DESSA HISTÓRIA
A obra pretende jogar luz sobre o percurso dessas mulheres, protagonistas de grandes batalhas, mas que tiveram suas caminhadas invisibilizadas. São histórias que começaram durante a ditadura militar (1964-1985) e seguem até os dias de hoje.
São mães, esposas, filhas e irmãs de homens e mulheres que morreram nas mãos dos agentes da repressão e de quem pouco se sabe. Foi graças à determinação delas que foi possível recontar parte da história das vítimas e obter algumas vitórias na Justiça. Agora, neste livro, queremos contar os caminhos que percorreram e prestar-lhes homenagem.
A intenção do Instituto Vladimir Herzog é que o “Heroínas desta história” se transforme em um projeto permanente, com edições bianuais, e que tratem da grande diversidade de mulheres que atuou em busca de esclarecimento das circunstâncias das mortes de seus familiares.
SOBRE AS MULHERES
Ana Dias: Liderança da Zona Sul de São Paulo que organizou a luta de mulheres por direitos e viúva do operário Santo Dias, assassinado pela ditadura. Participa ativamente do Comitê Santo Dias e anualmente organiza atos no local onde Santo foi morto.
Carolina Rewaptu: Cacica Marawatsede, virou professora para entender a perseguição sofrida por seu povo no Mato Grosso, expulso de sua terra pela ditadura. Ela foi uma das lideranças na investigação das mortes provocadas pelo deslocamento forçado e na retomada das terras.
Clarice Herzog: Publicitária, Clarice tem travado uma luta contínua para esclarecer as circunstâncias e os responsáveis pela morte de seu companheiro, o jornalista Vladimir Herzog, preso, torturado e assassinado no DOI-Codi. Recentemente conquistou a condenação do Estado brasileiro pela omissão em elucidar o crime e punir os torturadores.
Clara Charf: Foi militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e da Ação Libertadora Nacional (ALN), fundada por seu companheiro de vida e militância Carlos Marighella, morto em em 1969. Clara se exilou em Cuba, onde viveu até 1979. Desde o retorno tem lutado para manter viva a memória do companheiro.
Crimeia Schmidt de Almeida: Ex-guerrilheira do Araguaia, companheira de Andre Grabois, desaparecido em 1973. Aos seis meses e meio de gravidez, foi sequestrada e torturada. Uma das fundadoras da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos. Em 2005, ela e familiares foram vitoriosos em ação movida contra o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro agente da ditadura a ser declarado torturador.
Damaris Lucena: Operária maranhense, atuou na militância sindical e de oposição à ditadura. Foi companheira de Antônio Raymundo Lucena, morto em 1970. Damaris foi presa junto com os filhos e torturada nas dependências da Oban. Banida do país, foi para o México com os filhos e de lá para Cuba, onde ficou até a Anistia. Desde então luta por Justiça pelo marido.
Diana Piló Oliveira: Mãe de Pedro Alexandrino Oliveira Filho, o “Peri’, desaparecido em 1974. A casa de seus pais foi várias vezes invadida por policiais à sua procura. Não suportando as constantes invasões, Diana, mudou-se para o Rio de Janeiro para tentar ter notícias do paradeiro do filho, o que aguarda até hoje, aos 95 anos.
Elizabeth Teixeira: Liderança camponesa, militou nas Ligas Camponesas e até hoje é grande uma referência. Presa várias vezes, perseguida pela ditadura e por jagunços, teve que ir para a clandestinidade após o assassinato do marido, João Pedro Teixeira, em 1962. Fugindo da perseguição, Elizabeth e os 11 filhos não conseguiram seguir juntos para escapar da morte, indo cada um para um canto diferente do Brasil.
Elzita Santa Cruz: Um século de vida, metade dedicada à luta pela memória. Ela ainda espera estar viva para receber notícias do filho, Fernando Santa Cruz, desaparecido nas mãos do Estado, em 1974. Sua busca inspirou outras famílias Brasil afora e ela tornou-se um símbolo da luta pela memória dos anos de chumbo.
Eunice Paiva: Foi casada com o deputado Rubens Paiva, desaparecido pela ditadura em 1971. Ficou 12 dias presa no DOI-Codi do Rio de Janeiro com a filha de 15 anos. Eunice passou a exigir a verdade sobre o paradeiro do marido, o reconhecimento de sua morte e a revelação de onde o corpo estaria enterrado, o que jamais descobriu. Formou-se advogada aos 47 anos e passou a militar pela verdade e direitos civis dos desaparecidos e de seus familiares.
Genivalda Melo da Silva: Foi casada com José Manoel da Silva, cabo da Marinha morto pela ditadura na ação conhecida como Massacre da Chácara São Bento, em 1973, e enterrado como indigente. Após a morte do marido, foi presa e estuprada. Depois de solta, não desistiu até conseguir enterrar as ossadas do marido em sua terra natal, em 1995.
Maria José Araújo: mãe de Luiz Almeida de Araújo, desaparecido em São Paulo numa ação até hoje não esclarecida. Foi à sede do DOI-CODI/SP com seu outro filho, Manoel, onde sofreram uma série de constrangimentos. Dona Maria José ainda aguarda respostas do Estado sobre o paradeiro do filho.
Marli Pereira Soares: Ficou conhecida como Marli Coragem, pois em 1979 testemunhou o assassinato de seu irmão, Paulo, pela polícia militar, no Rio de Janeiro. Enquanto estava na delegacia para fazer a denúncia, reconheceu e apontou um dos assassinos de seu irmão, que nunca foi preso. Ao contrário, passou a sofrer ameaças e se manteve escondida por muito tempo. Anos mais tarde, seu filho Sandro, de 15 anos, também foi assassinado pela polícia.
Ilda Martins da Silva: Viúva de Virgílio Gomes da Silva, o primeiro desaparecido da ditadura militar. Em 1969, Ilda foi presa com três de seus quatro filhos. Ficou detida por nove meses, permanecendo incomunicável por todo o período. Depois de solta e sem conseguir emprego, exilou-se no Chile e depois em Cuba, com os quatro filhos. Ilda segue lutando para saber onde está o corpo do marido.
Zuzu Angel: Estilista internacionalmente conhecida, procurou incansavelmente o filho, Stuart Edgard Angel Jones, morto pela ditadura, abordando autoridades nacionais e internacionais e concedendo entrevistas à imprensa, tendo alcançado grande repercussão. Morta em circunstâncias suspeitas,e acredita-se que possa ter sido também vítima dos agentes da repressão.