Wagner Baggio
08/09/2021

Wagner Baggio

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Ao reler sobre a trágica morte do jornalista e meu professor na Escola de Comunicações e Artes da USP senti um frio na espinha. Foi exatamente na passagem em que ele se apresentou espontaneamente para depor no DOI-CODI e ali foi assassinado.

Meu frio na espinha tem a ver com uma intimação semelhante que recebi em casa por um agente da Polícia Federal também em 1975 para depor na sede da entidade, nas imediações da Estação da Luz. O curioso é que a orientação era para estar acompanhado da minha mãe. Ela estranhou a intimação e me perguntou o que eu estava aprontando. Nem eu sabia. Lá fomos. Um delegado tomou meu depoimento e relatou que eu estaria envolvido numa conspiração em um grupo de professores que estavam articulando a destituição do diretor da ECA (não lembro o nome).

Minha participação no manifesto “Em Nome da Verdade” foi espontânea e natural diante do trauma que a morte de Herzog nos causou. No dia seguinte à sua morte, ao chegar na ECA, faixas cobriam a fachada relatando sua morte. O trauma foi grande. A assinatura do manifesto, se bem me lembro, foi no Sindicato dos Jornalistas.

Pessoalmente, o local da morte de Vladimir Herzog me toca muito. Quando criança, toda a molecada do bairro nossos amigos jogávamos futebol em um campinho de terra na rua Tutóia. Nossa família morava a 100 metros dali, na Rua do Livramento. Mais tarde, por volta de 1965, o terreno deu lugar a uma delegacia de polícia. Durante as obras andávamos lá dentro, inclusive usando as celas para brincar de presos. Dez anos depois, já cursando jornalismo na ECA, o local foi palco do assassinato de Herzog.

A partir de 1977, com 28 anos, já formado, trabalhei por um ano como repórter da Agência Folha, colada na redação da Folha de S. Paulo e outros jornais do grupo (Folha da Tarde, Notícias Populares…). Minha carreira teve uma reviravolta quando, em dezembro de 77, me mudei para Santa Catarina, cidade de Joinville, como correspondente da Folha, onde estou até hoje. Há 45 anos vivenciei toda essa tragédia, que continua viva e traumática em nossa história.

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