03/05/2023

Unicamp e Instituto Vladimir Herzog divulgam resultado do III PRADH

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Os vencedores da terceira edição do Prêmio de Reconhecimento Acadêmico em Direitos Humanos foram divulgados pela Unicamp e pelo Instituto Vladimir Herzog nesta terça-feira (2/5). Foram contempladas 15 pesquisas em cinco áreas do conhecimento. O prêmio é voltado para instituições de ensino paulistas e tem como finalidade reconhecer trabalhos de graduação, mestrado e doutorado que contribuam para a proteção e a promoção da dignidade da vida e de todas as formas de existência. Os homenageados desta edição foram Adriana Dias, Silvio Almeida, Bruno Pereira e Dom Phillips.

Acesse o resultado na página da DeDH.

A comissão de avaliação foi composta por 43 membros de instituições de ensino de todas as regiões do país. As cinco áreas contempladas pelo prêmio são: ciências exatas, engenharia e tecnologia; ciências biológicas e da saúde; ciências humanas, sociais e econômicas; artes, comunicação e linguagem e educação. A cerimônia de premiação ocorre no dia 22 de maio.

“Comparado ao ano passado, tivemos aumento no número de pesquisas de exatas e tecnológicas, o que mostra que o prêmio está se expandindo. Além disso, incorporamos os institutos e centros de pesquisa, o que trouxe uma diversidade maior”, avalia a coordenadora da Comissão de Avaliação e assessora da Pró-reitoria de Pesquisa da Unicamp, Angela Cristina Lucas.

Apenas trabalhos publicados ao longo de 2022 foram analisados. Os temas contemplados estão conectados com problemáticas atuais, como pobreza, desigualdades de gênero e de raça, acessibilidade, migrações, violência e sustentabilidade.

Para Angela Lucas, o prêmio cumpre o papel de incentivar a produção de pesquisas que tenham o comprometimento com a dignidade humana e de outras formas de vida. “Premiar pesquisas em direitos humanos é uma forma de incentivar os trabalhos na área e ao mesmo tempo desmistificar o fato de que seria um tema apenas de ciências sociais. Existem pesquisas que contribuem para os direitos humanos em todas as áreas.”

Os prêmios honorários, que homenageiam nomes de destaque na promoção de direitos humanos, foram concedidos a personalidades com atuação no combate ao racismo, na defesa dos povos indígenas e do meio ambiente e na investigação de grupos neonazistas.

Confira a lista de premiados

Ciências exatas, engenharia e tecnologia

Pesquisa de Graduação: Investigação de ações em sustentabilidade em universidades públicas federais nos eixos água, energia e resíduos – Iara Ivana Pereira – Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia (Campus São Carlos) da Universidade Federal de São Carlos

Pesquisa de Mestrado: Aprendizado auto-supervisionado para reconhecimento de cenas em imagens de abuso sexual infantil – Pedro Henrique Vaz Valois – Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de Doutorado: Foodômica para agricultura sustentável: diferenciação do perfil de voláteis de hortelã e feijão carioca cultivados pelos sistemas agrícolas convencional, orgânico e permacultura, usando hs-spme/gc-ms e quimiometria – Luan Felipe Campos Oliveira – Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas

Ciências biológicas e da saúde

Pesquisa de Graduação: Construção e validação de cartilha em libras sobre saúde sexual e reprodutiva para mulheres surdas – Juliana Maria Teobaldo Martins – Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Pesquisa de Mestrado: Gestação e covid-19: a cor da pele importa? Uma análise do estudo rebraco – Amanda Dantas Silva – Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de Doutorado: Fatores de risco para feminicídios na cidade de campinas: revisão de literatura, estudo caso-controle espacial e análise qualitativa – Monica Caicedo Roa – Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas

Ciências humanas, sociais e econômicas

Pesquisa de Graduação: Lugar de mulher: experiência e projeto da casa Laudelina de Campos Melo – Helena Sá Barretto Prado Garcia – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Pesquisa de Mestrado: Produção do espaço urbano e equipamentos comunitários públicos de educação, saúde e assistência social: um estudo da dinâmica urbana de Limeira/SP –  Noan Sallati – Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de Doutorado: Quem sangra na fábrica de cadáveres? As chacinas em São Paulo e RMSP e a chacina da Torcida organizada pavilhão nove –  Camila de Lima Vedovello – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas

Artes, comunicação e linguagem

Pesquisa de Graduação: Folha de S. Paulo e os 50 anos do golpe militar: a memória jornalística de mulheres militantes – Caroline Cavalleiro Campos – Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design (Campus de Bauru) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Pesquisa de Mestrado: Tecendo vozes e B.O.s: a ressemiotização da violência semiótica contra a mulher em redes sociais online – Camila Rebecca Busnardo – Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de Doutorado: Nomear o humano: a migração como acontecimento discursivo – Giulia Mendes Gambassi – Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas

Educação

Pesquisa de Graduação: Ensino inclusivo do tema modelos atômicos por meio de história em quadrinhos em Braille e materiais manipuláveis – João Pedro Ponciano – Faculdade de Ciências (Campus Bauru) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Pesquisa de Mestrado: Ensino de história e cultura afro-brasileira: de pauta do movimento negro à lei 10.639 – Adriano Bueno da Silva – Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas

Pesquisa de Doutorado: Sonhos de adolescentes em desvantagem social: vida, escola e educação matemática – Daniela Alves Soares – Instituto de Geociências e Ciências Exatas (Campus de Rio Claro) da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Prêmios Honorários

Adriana Dias, em homenagem póstuma, por suas importantes pesquisas e incansável luta contra o extremismo e pela defesa da inclusão e diversidade.

Adriana Abreu Magalhães Dias formou-se em Ciências Sociais na Unicamp e realizou o mestrado e o doutorado em Antropologia também na Unicamp. Obteve reconhecimento no país por sua pesquisa em relação ao neonazismo. Dias descobriu a existência de pelo menos 334 células nazistas no Brasil, organizadas em ambiente virtual. Também encontrou uma carta do ex-presidente, Jair Bolsonaro, endereçada aos grupos nazistas, em que ele afirmava: “Vocês são a razão da existência do meu mandato”. A antropóloga era portadora de osteogênese imperfeita, uma doença genética rara, e foi ativista pelos direitos de pessoas com deficiência e doenças raras. Fundou o Instituto Baresi, fórum nacional congregando pessoas com doenças raras, deficiências e outros grupos de minoritários. Dias faleceu em janeiro de 2023. Ao longo de sua trajetória, também coordenou o Comitê “Deficiência e Acessibilidade” da Associação Brasileira de Antropologia, integrou a American Anthropological Association e a Frente Nacional de Mulheres com Deficiência. Além disso, foi membro da Associação Vida e Justiça de Apoio às Vítimas da Covid-19, participou de audiências da Comissão Parlamentar de Inquérito da Câmara de Campinas que investigava crimes nazifascistas e participou da equipe de transição do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2022.

Bruno da Cunha Araújo Pereira e Dominic Mark Phillips, assassinados no Vale do Javari em 2022, em homenagem póstuma. Bruno, pela sua luta a favor dos indígenas isolados e da preservação do meio ambiente. Dom Philips, jornalista inglês, pela sua liderança em investigações sobre desmatamento no Brasil.

Bruno da Cunha Araújo Pereira era indigenista e atuava junto a povos indígenas na Amazônia, na região do Vale do Javari. Fez carreira na Fundação Nacional dos Povos Indígenas (antiga Fundação Nacional do Índio) e era especialista em povos isolados. Na Funai, tornou-se o coordenador-geral de Índios Isolados e de Recém Contatados em 2018. No ano seguinte, no entanto, após coordenar uma megaoperação de combate ao garimpo, foi exonerado pelo governo Bolsonaro e passou a trabalhar junto à União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja). Junto à organização, atuou na guarda do território indígena. O indigenista foi assassinado em junho de 2022, assim como Dom Phillips.

Dominic Mark Phillips, conhecido como Dom Phillips, foi jornalista e trabalhou para jornais como Washington PostThe New York Times e Financial Times. Morou em Israel, Grécia e Dinamarca e mudou-se para o Brasil em 2007. Na ocasião do assassinato, trabalhava em um livro sobre desenvolvimento sustentável na Amazônia. Em sua carreira, também contribuiu para uma investigação do The Guardian sobre as fazendas de gado e o desmatamento no Brasil. Em Salvador, última cidade de residência do jornalista, Dom também lecionava aulas de inglês em um cursinho popular. No início da carreira jornalística, cobriu temas relacionados à música. No Brasil, ele reportou os preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de 2016. Depois disso, passou a cobrir essencialmente questões ligadas à crise ambiental e seus impactos para populações originárias e tradicionais.

Silvio Almeida, homenageado por sua pesquisa, que identifica as bases do racismo estrutural, lançando luzes para políticas públicas antirracistas, e pelo resgate de importantes figuras históricas negras, como Luiz Gama.

Silvio Luiz de Almeida, atual Ministro de Direitos Humanos e Cidadania do governo Lula, é advogado, filósofo e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie e da Fundação Getúlio Vargas. Formou-se em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP). Fez o mestrado em Direito Político e Econômico na Universidade Presbiteriana Mackenzie e doutorou-se em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela USP. Foi professor visitante da Universidade de Duke (2020) e de Columbia (2022). Uma de suas obras mais destacadas foi Racismo estrutural, em que aborda a constituição do racismo na estrutura social. Preside o Instituto Luis Gama, organização que desenvolve ações de combate ao preconceito e de defesa dos direitos dos negros e das minorias. Também atuou na Frente Pró-Cotas e foi um dos responsáveis pela formulação das políticas de ações afirmativas no estado de São Paulo.

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