A pergunta feita foi: em que circunstâncias você assinou o documento? Por intermédio de quem o recebeu, onde trabalhava, que idade tinha etc.
Antonio Luiz Bernardo
Primeiro, que notícia boa a reedição do livro do Fernando [Pacheco Jordão], assim como a iniciativa de enriquecê-lo com este trabalho a partir dos jornalistas que, naquelas circunstâncias dramáticas e cruciais, assinaram o manifesto “Em nome da Verdade”, cuja repercussão foi muito importante não só para que a versão “fake” da ditadura sobre o assassinato de Herzog não vingasse, mas também para acelerar o processo de pôr fim àquele sombrio período da vida nacional.
Vamos à declaração:
Lançar o manifesto “Em Nome da Verdade” foi a forma encontrada por mais mil jornalistas brasileiros de expressarem sua revolta e indignação diante do brutal assassinato de Vladimir Herzog e da tentativa de camuflar este crime hediondo com uma caluniosa versão de que ele teria se suicidado. E exigir justiça e o fim do longo período sombrio de ditadura militar vivido pelo país.
Ele surgiu em um contexto em que a sociedade brasileira, e em particular os jornalistas, submetidos a vergonhosa censura prévia, já vinham dando sinais de revolta, cansaço, impaciência e insatisfação com a ditadura militar e seus crimes, como nas eleições de 1974, nas quais ela foi fragorosamente derrotada, de norte a sul do país, obrigando-a a ensaiar uma manobra, a chamada “distensão lenta, gradual e segura”, que visava assegurar sua continuidade por meio de mudanças cosméticas. A repercussão deste manifesto foi decisiva não apenas para impedir que a versão caluniosa da ditadura tivesse credibilidade, mas também para acelerar o fim da própria ditadura, abrindo caminho para uma retomada democrática da vida nacional.
Os jornalistas brasileiros estiveram, desde o início, à frente dos protestos contra o assassinato de Herzog, liderados pelo presidente do Sindicado dos Jornalistas de São Paulo, Audálio Dantas, em ampla aliança com a sociedade civil, onde se destacavam as presenças de dom Evaristo Arns, do pastor Jaime Wrigth e do rabino Henry Sobel.
Os que, como eu, com 27 anos à época, trabalhavam no jornal Movimento, uma publicação sob forte censura prévia, tiveram participação ativa nestes protestos, estimulados por seus principais editores, Raimundo Pereira, Marcos Gomes e Sérgio Buarque de Gusmão, contribuindo, inclusive, para sua nacionalização, por meio da mobilização de suas sucursais espalhadas pelas principais capitais do país.
29/9/2020.