Fotografia em preto e branco de Stuart Angel, jovem branco, de cabelos curtos e lisos. Na foto ele aparece vestindo uma camisa de cor clara e sorrindo para a câmera.
24/03/2023

Instituto Vladimir Herzog repudia leilão de carta-confissão sobre morte de Stuart Angel

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Foto: Wikimedia

Na tarde desta sexta-feira, 24 de março de 2023, fomos surpreendidos com o tweet da jornalista Dorrit Harazim sobre a disponibilização em leilão privado de um importante documento relativo à história da ditadura militar brasileira (1964-1985): trata-se aparentemente de uma carta-confissão onde Marco Aurélio Carvalho, oficial da Aeronáutica, narra com detalhes as torturas sofridas por Stuart Edgar Angel Jones na Base Aérea do Galeão, em maio de 1971.

O então estudante de Economia e integrante do grupo MR-8 foi cruelmente assassinado, depois de violentas torturas, e tornou-se uma das vítimas mais conhecidas do período. Grande parte da visibilidade do caso deveu-se aos esforços de sua mãe, a estilista Zuzu Angel, cuja luta por memória, verdade e justiça alcançou projeção internacional ainda no contexto ditatorial. Zuzu, morta no ano de 1976 em um acidente automobilístico provocado por agentes do aparato repressivo, integra o rol dos vitimados pelo regime, elaborado pela Comissão Nacional da Verdade (CNV).

A carta-confissão é inédita, embora não apresente informações desconhecidas. Trata-se supostamente de documentação pessoal, envolvendo graves violações de direitos humanos, que deveria estar salvaguardada em um arquivo público, preferencialmente o Arquivo Nacional (AN), responsável pela preservação de milhões de documentos que atestam os crimes cometidos por agentes de Estado entre 1964 e 1985, no Brasil.

O surgimento de um registro dessa natureza nos remete a outros documentos da ditadura, cujo paradeiro segue desconhecido e seu conteúdo, ignorado. Ademais, causa espanto e repulsa a disponibilização de um documento como esse, com informações relevantes sobre o caso Stuart Angel, ocorrido em um dos momentos mais truculentos de nossa história, para venda em um leilão.

Neste Dia Internacional do Direito à Verdade, solicitamos aos órgãos competentes a pronta incorporação do material ao acervo da CNV, sob a guarda do AN, e a investigação de sua procedência e veracidade. Por fim, reafirmamos o nosso compromisso com a elucidação completa dos crimes da ditadura militar, com o tratamento adequado do acervo do período e a responsabilização de todos os perpetradores do regime.

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