25/08/2020

IVH repudia ameaça de Jair Bolsonaro a jornalista

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Mais uma vez, presidente ameaça a ordem democrática e desafia a Constituição.

O Instituto Vladimir Herzog vem a público para, mais uma vez, repudiar ataques de Jair Bolsonaro a um jornalista.

No último domingo, 23 de agosto, Bolsonaro ameaçou um profissional da imprensa ao ser questionado sobre depósitos realizados por Fabrício Queiroz na conta da primeira-dama, Michelle Bolsonaro. “Eu vou encher a boca desse cara na porrada” e “Minha vontade é encher tua boca na porrada”, disse Bolsonaro ao repórter do jornal “O Globo”.

Em 600 dias de governo, foram centenas de episódios semelhantes a este, em que o presidente da República demonstra sua total incapacidade de conviver com o trabalho da imprensa e ataca jornalistas de diferentes maneiras, sempre recorrendo à grosseria, à ignorância e à covardia.

Enquanto isso, as instituições responsáveis por investigar e punir o presidente por tais declarações e por tantos outros indícios de condutas irregulares e crimes de responsabilidade fazem vistas grossas e resumem suas ações a notas de repúdio e manifestações em redes sociais que, como temos visto, têm pouco – ou nenhum – efeito concreto.

Como se não bastasse, setores da sociedade que dizem se engajar na defesa da democracia insistem em recorrer a discursos torpes e comparações infundadas a fim de traçar paralelos entre eventuais erros cometidos por presidentes do passado com o obscurantismo que tomou conta do país a partir da eleição de Jair Bolsonaro.

Para que não haja dúvidas: a ofensiva deste governo contra o Estado democrático de direito não encontra precedentes no período pós-ditadura. E enquanto Jair Bolsonaro estiver no poder, a escalada de violência contra a imprensa não terá fim, o princípio constitucional da liberdade de expressão será constantemente violado e a democracia brasileira estará sob permanente ameaça.

Ao dizer que vai encher de porrada a boca de um jornalista que faz o seu trabalho de forma correta, atendendo ao interesse público e cumprindo com o seu dever profissional, Bolsonaro se iguala aos líderes de regimes totalitários, como o nazismo, o fascismo e a ditadura militar que assolou o Brasil por longos 21 anos, e deixa claro que seguirá atuando prioritariamente para coibir a contraposição de ideias, conter o avanço da cidadania e suprimir investigações de casos de corrupção e irregularidades cometidas por ele e seus familiares durante o exercício do poder.

Diante de mais esta ameaça do presidente ao trabalho de um profissional da imprensa, é inevitável lembrarmos de Vladimir Herzog – o jornalista que foi cruelmente torturado e assassinado por promover um jornalismo crítico, investigativo, voltado às questões da cidadania e dos direitos humanos, o que incomodava os detentores do poder da época.

Diferente do cenário que culminou com a morte de Herzog – e de tantos outros jornalistas e cidadãos brasileiros – as instituições, hoje, têm autonomia e instrumentos para defender, de forma efetiva, a Constituição. Cabe a elas agir e reconhecer, de forma inequívoca, que, neste momento, a ameaça fundamental à ordem democrática e ao bem-estar do país é o próprio presidente da República.

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