Reconhecimento é um passo fundamental na luta por reparações históricas a todos que lutaram pela democracia brasileira
Nesta quarta-feira (3), a Comissão de Anistia da Câmara dos Deputados em Brasília aprovou de forma unânime o reconhecimento de Clarice Herzog como anistiada política.
A viúva do jornalista Vladimir Herzog, torturado e morto em 25 de outubro de 1975 por agentes do antigo DOI-CODI de São Paulo, lutou por décadas pela memória, verdade e justiça para Vlado.
A sessão contou com a presença de seu filho, Ivo Herzog, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog, que recebeu em nome de sua mãe as homenagens e o perdão do Estado, durante a solenidade no Auditório Nereu Ramos.
Em discurso, Ivo ressaltou que a heroína da história em busca da elucidação da fraude sobre a morte de Vlado, construída e publicada nos jornais da época, foi Clarice Herzog. Ivo ainda dedicou a sessão às mulheres e às mães que lutaram por justiça durante e depois da ditadura.
Nesse mesmo sentido, a presidente da Comissão de Anistia, Eneá de Stutz e Almeida, classificou o julgamento como emblemático. “Nós estamos simultaneamente fazendo dois registros com este julgamento. O primeiro é uma homenagem às mulheres. Às mulheres que deram o pontapé inicial em todo movimento, toda luta, pela anistia política lá em 65, no Brasil. […] Tem um simbolismo duplo, tanto de homenagem quanto de marcar mais uma vez que nossa posição é ‘ditadura nunca mais e democracia sempre’”, disse.
Para o Instituto Vladimir Herzog, o reconhecimento da anistia de Clarice Herzog é um acontecimento histórico, que reforça a importância de sua trajetória na busca por verdade e justiça sempre de forma incisiva contra um governo militar que oprimia e calava a sociedade.
Quem é Clarice Herzog?
Clarice é uma das principais heroínas que contribuíram para o início de uma nova democracia no Brasil.
Nascida Clarice Ribeiro Chaves, herdou de Vladimir o sobrenome Herzog. Conheceu Vlado quando cursava Ciências Sociais na USP. Nos primeiros anos da ditadura, casaram-se e juntos se exilaram em Londres, onde nasceram seus filhos Ivo e André Herzog.
Apesar da ditadura, a família retornou ao Brasil em 1968 com a esperança de que poderiam viver dias tranquilos em meio aos atos repressivos que ocorriam na época.
Em 24 de outubro de 1975, os dias pacíficos foram interrompidos quando agentes do DOI-CODI em São Paulo convocaram seu marido, recém contratado como diretor de jornalismo da TV Cultura, para prestar depoimentos. Vlado jamais voltou. E é neste momento da história que nasce a indignação de uma mulher que bradou contra o regime militar e o autoritarismo.
Em 1978, Clarice denunciou e conseguiu o reconhecimento da responsabilidade do Estado sobre a morte de Vlado, numa vitória considerada histórica por diversos especialistas do período.
Em 1996, a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos reconheceu oficialmente que Vlado fora assassinado. O atestado de óbito, porém, só foi retificado mais de 15 anos depois.
Em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos considerou o Estado brasileiro como responsável pela falta de investigação, de julgamento e de punição dos responsáveis pela tortura e pelo assassinato de Vlado. A sentença foi publicada em 2023, mas ainda faltam cumprimentos por parte do Estado.
Por mais políticas públicas
A anistia concedida para Clarice é um passo fundamental na luta por reparações históricas, que não começa nem termina com esse importante reconhecimento do Estado.
O IVH, inspirado pela história de Vlado e Clarice, seguirá cobrando o Brasil, hoje e sempre, para que avance na garantia de direitos e de todas as políticas públicas de memória, verdade e justiça.
Solenidade em São Paulo
Nesta sexta-feira (5), a Assembleia Legislativa de São Paulo concederá para Clarice Herzog, Eunice Paiva e Ana Dias a honra máxima em solenidade de outorga de colar de honra ao mérito legislativo da casa, pela luta que travaram durante a ditadura militar para que a redemocratização fosse possível.
A honraria acontecerá no auditório Juscelino Kubitschek, a partir das 19h, com a presença de Ivo Herzog representando Clarice para o recebimento da homenagem.
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