A Praça Memorial Vladimir Herzog é local da obra pública “Alguns Personagens desta História”, um mural de autoria do artista e chargista Renato Aroeira, que presta homenagem a figuras emblemáticas que lutaram por justiça em nome de Vladimir Herzog e da democracia.

Constam no mural de azulejos de 38 m² membros da família de Vladimir Herzog (Clarice, Ivo, André), figuras próximas do jornalista ou diretamente ligadas à luta por verdade travada durante a ditadura, e que também são representados no mural, como Fátima Pacheco Jordão, Gunnar Carioba, João Batista de Andrade, João Bosco, João Guilherme Vargas Netto, Juiz João Gomes Martins, Juiz Márcio Moraes, Laerte Coutinho, Marco Antonio Barbosa, Samuel MacDowell, Sergio Bermudes. In memoriam foram retradados Vlado e Zora Herzog, Aldir Blanc, Audálio Dantas, Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Elifas Andreato, Fernando Pacheco Jordão, Heleno Fragoso, Henfil, Lélia Abramo, Milton Coelho da Graça, Perseu Abramo, Rabino Henry Sobel, Reverendo James Wright, Ruth Escobar e Terezinha Zerbini.

Conheça um pouco destes que são “Alguns Personagens Desta História“:

 

VLADIMIR HERZOG

Nasceu: 27 de junho de 1937

Assassinato: 25 de outubro de 1975

Vlado Herzog nasceu em Osijek (antigo reino da Iugoslávia, atual Croácia), e morou em Banja Luka até agosto de 1941, com a ocupação nazista do território, ele e sua família mudaram-se para a Itália. Passado alguns anos em diferentes cidades do país, inclusive por um campo de refugiados em Bare, a família Herzog veio para o Brasil em 1946.

Antes de começar sua carreira como jornalista em 1959, Vladimir, naturalizado brasileiro, se formou no Curso Clássico do Colégio Estadual de São Paulo, chegou a participar de grupos amadores de teatro, e ingressou na Faculdade de Filosofia, na USP, onde, inclusive, conheceu Clarice Ribeiro com quem se casou. Vladimir foi professor de jornalismo na Escola de Comunicações e Artes (ECA) também na Universidade de São Paulo e da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap).

Vlado também se dedicou à produção cinematográfica com a produção de um curta-metragem (Marimbás) e colaborando em outras duas obras, Subterrâneos do futebol (Maurice Capovilla) e Viramundo (Geraldo Sarno). Essa proximidade de Vlado com a sétima arte aparece também na obra de Lélia Abramo, para quem o jornalista já enviou carta falando sobre o teatro, com comparações, sentimentos e avaliações críticas das produções.

Sua primeira passagem pelo jornalismo foi no jornal O Estado de S. Paulo, quando começou a assinar como Vladimir. Em 1963 começou sua carreira na televisão e após dois anos passou a integrar a equipe da BBC (rádio), quando se mudou para Londres, Inglaterra, onde nasceram seus filhos Ivo e André. Em 1968, de volta ao Brasil, trabalhou na revista Visão por cinco anos e em 1975 foi escolhido por José Mindlin, então secretário da Cultura de São Paulo, para dirigir o jornalismo da Fundação Padre Anchieta (TV Cultura), dois anos antes ele já tinha coordenado a redação do jornal Hora da Notícia. Ele também passou pela agência de publicidade J. Walter Thompson, TV Universitária da UFPE e  pelo jornal Opinião.

Em outubro de 1975, foi chamado para prestar esclarecimentos sobre suas ligações com o Partido Comunista Brasileiro. No dia 24 foi procurado por militares na emissora, no dia seguinte, conforme combinado, compareceu à sede do DOI-CODI, na Vila Mariana, em São Paulo para depor. Ali sofreu torturas e no dia seguinte foi morto. Na época, a versão dada pelos militares sobre a morte do jornalista foi a de que Vladimir Herzorg teria se enforcado com um cinto, apresentando uma foto do suposto enforcamento. 

A versão com diversos problemas não foi aceita e testemunhos de jornalistas presos apontavam para o assassinato, inclusive, em 1978 o legista Harry Shibata afirmou ter assinado o laudo sem ter visto ou examinado o corpo. Após uma semana do assasinato, mais de 8 mil pessoas participaram de um culto ecumênico na Catedral da Sé realizado por Dom Paulo Evaristo Arns, com presença do rabino Henry Sobel e o reverendo evangélico Jaime Wright. O movimento estimulou e fortificou a repressão ao regime ditatorial, sendo de muita importância para pressionar a restauração da democracia no Brasil. Em 1978 a justiça brasileira condenou a União pela prisão, ilegal, tortura e morte do jornalista. 

Em 1996 a Comissão Especial dos Desaparecidos Políticos também reconheceu e concedeu indenização à família, que recusou, exigindo mais investigações. O atestado de óbito do jornalista só foi retificado mais de 15 dias depois. No ano de 2009 foi criado o Instituto Vladimir Herzog (IVH) pela família e por amigos com intuito de celebrar a vida, trajetória e o legado do jornalista, além de trabalhar a defesa dos valores da Democracia, dos Direitos Humanos e da Liberdade de Expressão.

Fontes:

FFLCH-USP

Instituto Vladimir Herzog

Memórias da Ditadura

Aldir Blanc

Nasceu: 2 de setembro de 1946

Falecimento: 4 de maio de 2020

Carioca de nascimento, Aldir Blanc Mendes foi um compositor, letrista, compositor, cronista e médico brasileiro, sendo considerado um dos maiores artistas do país. Sua obra é marcada por músicas e poemas que retratam o Brasil, sua história e o seu povo.

Com uma carreira de 5 décadas, Aldir escreveu mais de 600 músicas, como  “O Mestre-sala dos Mares”, “O Ronco da Cuíca”, “O Bêbado e a Equilibrista” e “De Frente pro Crime”, canções que  permanecem vivas no imaginário popular nacional.

Grande boêmio das noites do Rio de Janeiro, o artista iniciou sua carreira no final dos anos 60 e, em 1968, competiu no III Festival Internacional da Canção como compositor da música “A noite, a maré e o amor”, feita em parceria com Silvio da Silva. 

No ano de 1971, Aldir conheceu João Bosco -na época, ainda estudante -. Dessa parceria, surgiram emblemáticas canções da Música Popular Brasileira. Muitas das composições da dupla nasciam por meio correspondências e foram gravadas por artistas que possuíam grande visibilidade no cenário cultural da época. Mesmo sendo um grande compositor, são poucas as músicas gravadas pelo próprio Aldir. Em 1984, ao lado do parceiro Maurício Tapajós, Blanc gravou o LP “Aldir Blanc e Maurício Tapajós”, com canções inéditas da dupla.

Em 4 de maio de 2020, Aldir faleceu por conta do COVID-19, durante a época do isolamento social. Sua morte foi lamentada por muitas personalidades e deixou uma imensa lacuna no cenário da cultura nacional. Em junho do mesmo ano, o Governo Federal regulamentou a Lei Aldir Blanc, que prevê auxílio financeiro ao setor cultural.

Fonte: SABRA

Audálio Dantas

Nasceu: 8 de julho de 1929

Falecimento: 30 de maio de 2018

Audálio Dantas (Tanque d’Arca-AL, 1929-2018) foi um dos jornalistas mais importantes de sua geração. Iniciou sua carreira aos 17 anos revelando fotografias na Folha da Manhã e passou pelos principais veículos de comunicação do país. Era conhecido por seu olhar humanitário e pela sua atuação em prol da defesa dos direitos humanos durante a ditadura militar.

Uma de suas reportagens mais memoráveis foi resultado de uma apuração sobre a favela de Canindé, em São Paulo, onde conheceu Carolina de Jesus. A moradora, que viria a se tornar autora de títulos como “Quarto de Despejo” (1960), registrava o cotidiano difícil com seus três filhos pequenos enquanto trabalhava como catadora de papel.

Audálio assumiu o cargo de presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo na década de 70 e foi peça chave na denúncia do assassinato de seu colega Vladimir Herzog. Ele expôs que Herzog havia sido torturado e morto no DOI-CODI e contrariou a versão oficial do governo militar, que falava em suicídio.

No ato ecumênico em memória a Vladimir Herzog ocorrido na catedral da Sé em outubro de 1975, fundamental para a redemocratização do país, Audálio declamou “Navio Negreiro”, de Castro Alves. Enquanto grande ativista, usou seus recursos para lutar contra as injustiças de um período de censuras e violências por parte da ditadura.

Em 1978, tornou-se deputado federal por São Paulo enquanto filiado ao antigo MDB. Foi o primeiro presidente eleito por voto da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e integrava o conselho consultivo da Associação Brasileira de Imprensa (ABI).

Em 1981 recebeu o Prêmio de Defesa dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas por sua mobilização durante a ditadura militar. Em 2013, foi presidente da Comissão Nacional da Memória, Justiça e Verdade dos Jornalistas Brasileiros. 

Em sua carreira, passou por cargos de redator e chefe de reportagem da revista O Cruzeiro e foi editor de turismo na revista Quatro Rodas. Foi também correspondente de guerra em Honduras pela Veja e trabalhou na revista Realidade na década de 1970. Foi chefe de redação da revista Manchete e editor da Nova.

Audálio também lançou livros, como “As Duas Guerras de Vlado Herzog” (2012), pelo

 qual recebeu o prêmio Jabuti e o prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, em 2013.

Fonte:

OBORÉ Projetos Especiais

Memorias da Ditadura

Brasil de Fato

Folha

 

Dom Hélder Câmara

Nasceu: 7 de fevereiro de 1909

Falecimento: 27 de agosto de 1999


Nascido em Fortaleza em 7 de fevereiro de 1909, Hélder Pessoa Câmara foi um dos maiores ícones da Igreja Católica no Brasil. Quatro vezes indicado ao prêmio nobel da paz – o maior número de indicações recebidas por um brasileiro – sua trajetória foi marcada por um compromisso com a justiça social, a luta contra a pobreza e a defesa dos direitos humanos, que o colocou na linha de frente da resistência à ditadura civil-militar brasileira. 

Hélder Câmara ingressou na Igreja Católica aos 22 anos, quando foi ordenado sacerdote em 1931. Desde cedo, atuou junto aos Círculos Operários Cristãos e à Juventude Operária Católica (JOC), onde se dedicou à alfabetização de jovens pobres e à
organização sindical de mulheres trabalhadoras.

Sua atuação social e seu viés nacionalista o levaram a se envolver com movimentos como a Legião Cearense do Trabalho e a Ação Integralista Brasileira. No entanto, com o início do Estado Novo, Dom Hélder se afastou desses grupos.

Em 1952, foi nomeado bispo, cargo que o colocaria ainda mais próximo das lutas do povo brasileiro. Como secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) entre 1955 e 1963, Dom Hélder desempenhou um papel fundamental na modernização da Igreja Católica e na aproximação da instituição com os problemas sociais do país.

No Concílio Vaticano II (1962-1965), Dom Hélder se tornou um dos principais expoentes da ala progressista da Igreja. Foi um dos signatários do “Pacto das Catacumbas”, um documento que defendia uma Igreja mais pobre e comprometida com os pobres. Essa visão influenciou profundamente o surgimento da Teologia da Libertação, corrente teológica que defendia a luta pela justiça social como parte da fé cristã.

Quando os militares tomaram o poder em 1º de abril de 1964, Dom Helder Câmara acabara de ter sido designado ao cargo de arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, cargo que deixaria somente em 1975. Ao longo de seus 21 anos como arcebispo, Dom Hélder denunciou torturas, prisões arbitrárias e assassinatos políticos cometidos pelo regime à  imprensa internacional. 

Sua postura de resistência lhe rendeu perseguições e ameaças por parte dos militares, que fizeram campanha difamatória contra a sua imagem, ora associando-a com a AIB, ora com o comunismo. Movimento que atrapalhou sua nomeação aos prêmios Nobel para os quais foi indicado. 

Dom Hélder tinha 76 anos quando deixou o comando da arquidiocese de Olinda e Recife e se mudou para a casa dos fundos da Igreja de Nossa Senhora das Fronteira, na capital pernambucana, onde morreu, em 24 anos depois, em 27 de agosto de 1999. Em 2015, o religioso foi reconhecido pelo Vaticano com o título de “Servo de Deus”, considerado a primeira etapa para a sua beatificação, que segue sendo avaliada pela Igreja Católica. 

Fonte: Arquidiocese de Fortaleza

 

Elifas Andreato

Nasceu: 22 de janeiro de 1946

Falecimento: 29 de março de 2022

 

Elifas Vicente Andreato foi um designer gráfico e ilustrador brasileiro.Nasceu em Rolândia (PR) em 22 de janeiro de 1946 era irmão do ator Elias Andreato e foi casado com a fotógrafa Iolanda Huzak Furini. Falecido em 29 de março de 2022 em São Paulo após complicações decorrentes de um infarto que havia sofrido anteriormente. 

Com mais de quarenta anos de atividade como artista plástico, Elifas foi especialmente reconhecido como ilustrador de inúmeras capas de discos de vinil nos anos 70, incluindo grandes nomes da Música Popular Brasileira, como Chico Buarque de Holanda, Elis Regina, Adoniran Barbosa, Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Toquinho e Vinícius de Moraes.

Chegando a produzir a capa de 362 discos, Elifas foi um dos maiores capistas da geração do vinil.Com destaque para a Ópera do Malandro, de Chico Buarque, A Rosa do Povo, de Martinho da Vila, Clementina de Jesus, O Sorriso Ao Pé da Escada, de Jessé e A Arca de Noé, obra de Vinícius de Moraes. Elifas começou sua produção de capas em 1973, quando criou a do long-play Nervos de Aço, de Paulinho da Viola. Nos anos 70 também ilustrou obras de literatura brasileira, como A Legião Estrangeira, de Clarice Lispector.

 

O traço poético com profundo sentido social definiu os trabalhos de Elifas como um ícone de uma geração que protestava, por meio da arte, contra a ditadura militar vigente.

Além dos trabalhos genuinamente engajados, Elifas produziu peças de grande qualidade artística, com projeção internacional e reconhecimento no mundo inteiro. Produziu também cartazes, gravuras e ilustrações, e foi diretor editorial do Almanaque Brasil de Cultura Popular, revista distribuída a bordo das aeronaves da companhia aérea TAM, para assinantes e bancas.

Nenhum outro artista foi capaz de traduzir com mais brilhantismo a indignação de toda a sociedade pelo assassinato de Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975. É dele, por exemplo, a tela “25 de outubro”, registro marcante e emocionante da prisão, tortura e assassinato de Vlado. A obra, inclusive, ganhou uma reprodução em forma de mosaico na Praça Vladimir Herzog, localizada no centro de São Paulo, próximo ao prédio da Câmara Municipal.

O espaço conta ainda com outras duas obras de arte de autoria de Elifas: uma versão ampliada da escultura Vlado Vitorioso e a versão em ponto grande do troféu do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que também foi desenhado por ele.É dele ainda o troféu do Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão e o design do logo do Instituto Vladimir Herzog, entidade da qual participou da fundação, era conselheiro e um grande parceiro, sempre pronto a produzir artes e ilustrações para diferentes projetos e iniciativas.

Em 2011, Elifas recebeu o Prêmio Especial Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. No troféu, está grafada uma frase que resume bem a importância deste personagem para a história do nosso país: “A arte é amiga da Liberdade e os artistas sempre lutam por ela. Se a ditadura de Franco teve que encarar o Picasso, a nossa precisou encarar o Elifas”.

 

Fonte: 

G1

 

Fernando Pacheco Jordão

Nasceu: 1937

Falecimento: 2017

Fernando Pacheco Jordão nasceu em 1937. Pai de Rogério, Beatriz e Júlia e marido da socióloga Fátima Pacheco Jordão. Iniciou a carreira no jornalismo em 1957 na antiga Organização Victor Costa, em São Paulo, rádio jornal que englobava as rádios Nacional, Excelsior e Cultura. Em seguida foi para a rádio Difusora e atuou como copidesque no jornal O Estado de S.Paulo, onde trabalhou com Vladimir Herzog. 

Jordão chegou à televisão pela TV Excelsior, onde inovou como editor e apresentador do telejornal Show de Notícias, mais tarde em 1967 passaria pela BBC de Londres, onde também trabalharia com Vlado, depois retornaria ao Brasil para um papel importante no jornalismo da TV Cultura até então inexistente. Em entrevista, Jordão fala que partiu principalmente da sua experiência na TV Excelsior e na BBC para organização do jornalismo na TV da Fundação Padre Anchieta, o telejornal Foco na Notícia, passando depois a se chamar “Hora na Notícia” foi criado por ele. 

Em 1974 o jornalista ingressa na Globo e passa a ser o editor do Jornal Nacional e posteriormente diretor do Globo Repórter. Pacheco Jordão também passou pelas revistas Istoé e Veja e atuou em campanhas eleitorais como assessor de imprensa para os governos de Mário Covas e Geraldo Alckmin.

Na ocasião da morte de Vlado, Jordão era diretor cultural do Sindicato dos Jornalistas e teve um papel fundamental nos atos que surgiram após a morte do jornalista. Junto com Audálio Dantas, presidente do Sindicato na época, organizaram o Ato ecumênico da Catedral da Sé e participaram na elaboração do documento “Em nome da verdade”, que exigia respostas sobre a morte de Vlado. O documento contestava a versão oficial dada pelo regime e foi assinado por mais de mil jornalistas.

Jordão também é autor do “Dossiê Herzog – prisão, tortura e morte no Brasil”, no qual detalha a história do Caso Vlado. O livro reúne as fraudes em torno do assassinato e relata a resistência de familiares, amigos e jornalistas.

Fonte:

TV Cultura 

Instituto Vladimir Herzog

Grupo Autêntica

G1

Oboré

Revistas USP

Grupo Editorial Global

Gunnar Carioba

Nasceu: 26 de março de 1940

Francisco Gunnar Muller Carioba nasceu em São Paulo (SP), em 26 de março de 1940.

Gunnar passou a infância e adolescência nos bairros do Jardim Paulista e Brooklin. Estudou em escolas particulares e gostava de natação, esporte em que chegou a competir. Graduou-se em Administração na FGV-SP e dedicou sua vida profissional à publicidade. Atualmente é aposentado.

Conheceu Clarice Herzog na empresa Standart, em São Paulo. Divorciado da primeira mulher, a mãe de seus filhos, encontrou Clarice na posição de atendimento de contas enquanto ela chefiava um setor de pesquisa. Com o desdobramento do assassinato de Vlado, Gunnar respeitava e tratava como uma questão particular de Clarice. Sempre ficava por trás sem se envolver. 

Gunnar acredita que o Instituto Vladimir Herzog vai além da preservação da memória. Ele acredita que a entidade é uma iniciativa para conscientizar a sociedade e informar sobre diversos temas relacionados aos direitos humanos e às necessidades das pessoas

Fonte: 

Acervo Vladimir Herzog

Heleno Fragoso

Nasceu: 5 de fevereiro de 1926

Falecimento: 18 de maio de 1985

Heleno Cláudio Fragoso foi advogado e jurista. Durante a ditadura militar, notabilizou-se como um dos mais importantes advogados de presos políticos do país.

Nascido em 5 de fevereiro de 1926, em Nova Iguaçu-RJ, filho de Luciano de Souza Fragoso e Felícia Ayres Fragoso. Perdeu o pai aos 2 anos de idade, e trabalhou desde a adolescência. Formou-se em Direito em 1951 e abriu o escritório de “Fragoso Advogados” já no ano seguinte.

Aos 32 anos, lançou sua principal obra, “Lições de Direito Penal”. Aos 35, ainda pouco conhecido, derrotou um desembargador do Tribunal de Justiça do Distrito Federal na disputa pela Livre Docência de Direito Penal na Faculdade Nacional de Direito, com a tese “Conduta Punível”.

Durante o regime militar de 1964, Heleno atuou permanentemente em favor de perseguidos políticos na Justiça Militar Federal e nas Comissões Gerais de Investigação. Foi o advogado que impetrou o Habeas Corpus coletivo que libertou os estudantes reunidos em Ibiúna para o Congresso da União Nacional dos Estudantes, em 1968. 

Defendeu ainda, entre outros casos, a dona do jornal Correio da Manhã, Niomar Moniz Sodré Bittencourt, que atacara a ditadura em editorial; o escritor Caio Prado Junior; religiosos católicos e o jovem Stuart Angel Jones, quando este já tinha sido assassinado na Base Aérea do Galeão. Atuou ainda em prol da família do jornalista Vladimir Herzog, assassinado no II Exército, em São Paulo.

Heleno foi vice-presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Conselheiro Federal da OAB e vice-presidente da Seção da OAB do antigo Estado da Guanabara, além de membro efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros e integrante de seu Conselho Superior. Chegou a ser sequestrado em sua casa em 1970 por agentes não identificados e ficou desaparecido por dois dias, enquanto era vice-presidente da OAB-Guanabara.

Ao longo da carreira, conquistou os títulos de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Coimbra (Portugal), Professor Titular de Direito Penal das Universidades do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e Candido Mendes (UCAM), e Livre-Docente da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UFRJ). Escreveu 14 livros sobre Direito Penal e ocupou a vice-presidência da Comissão Internacional de Juristas, em Genebra (Suíça), e da Associação Internacional de Direito Penal (AIDP), em Paris (França).

Heleno Fragoso morreu em maio de 1985, no Rio de Janeiro, aos 59 anos, como advogado militante.

Fonte: Heleno Fragoso

Henfil

Nasceu: 5 de fevereiro de 1944

Falecimento: 4 de janeiro de 1988

Henrique de Souza Filho (Ribeirão Neves/Minas Gerais), mais conhecido como Henfil, foi um cartunista, jornalista e ativista político brasileiro. Ganhou destaque pela construção de tirinhas e charges que abordavam questões sociais do Brasil em meio à Ditadura Militar. Seu trabalho era marcado por um humor ácido e crítico, muitas vezes utilizando-se de personagens caricatos para satirizar figuras da política. 

Especializou-se em ilustração e produção de histórias em quadrinhos na década de 60. Em 1965, começou a fazer caricatura política para o Diário de Minas. Henfil também trabalhou no hebdomadário alternativo O Pasquim, criado em 1969, junto de figuras como Ziraldo e Millôr Fernandes. 

No semanário, teceu críticas satíricas ao regime da época. Com seus personagens, como os Fradins e Graúna, expressou o anseio de liberdade em meio à censura e à repressão política. Usando o humor como arma, seus quadrinhos buscavam o equilíbrio entre o riso e a resistência.

Criador do slogan “Diretas Já!” Henfil também foi defensor dos direitos humanos. Mobilizou-se pela anistia aos presos e exilados políticos e pela retomada das eleições presidenciais diretas. Além das críticas aos autoritários, seus cartuns problematizavam todo tipo de preconceito e a fome e levantavam bandeira em prol dos direitos trabalhistas.

Vítima do HIV, contraído em uma transfusão de sangue em razão de ser hemofílico, como seus irmãos, o sociólogo Herbert de Souza (1935-1997), o Betinho, e o violonista Chico Mário (1948-1988), faleceu em 4 de janeiro de 1988. Seu legado influenciou gerações de artistas e continua relevante até os dias atuais.

O documentário biográfico Henfil (Brasil, 2017), dirigido por Angela Zoe, conta um pouco da história do artista a partir de depoimentos dos seus colegas de O Pasquim. Ivan Cosenza, seu filho, mantém o blog As Cartas do Pai (referência à coluna Cartas à Mãe publicadas na IstoÉ), onde ele publica mensagens direcionadas ao cartunista.

Fonte:

Memórias da Ditadura

Arquivo Nacional – Governo

Instituto Claro

Agência Brasil

MST

Henry Sobel

Nasceu: 9 de janeiro de 1944

Falecimento: 22 de novembro de 2019

Rabino radicado no Brasil desde 1970. Ainda na primeira infância, a família de Henry Sobel se estabeleceu em Nova York, onde ele se formou rabino. Durante a ditadura militar, foi um grande defensor dos direitos humanos.

Em 1975, Sobel se recusou a enterrar o jornalista Vladimir Herzog na ala dos suicidas do cemitério israelita, por rejeitar a versão oficial acerca das circunstâncias da morte do jornalista. Sobel também se juntou a líderes de diferentes religiões no ato ecumênico em homenagem ao jornalista, em 31 de outubro de 1975, uma semana depois de seu assassinato, na Praça da Sé. Além de Sobel, estavam presentes o católico Dom Paulo Evaristo Arns e o protestante Jaime Wright. O evento atraiu 8 mil pessoas, além de 500 policiais e agentes da repressão.

 

Fontes:

Portal Memórias da Ditadura

Instituto Vladimir Herzog

Jaime Wright

Nasceu: 12 de julho de 1927

Falecimento: 29 de maio de 1999

Jaime Wright, pastor presbiteriano e ativista dos direitos humanos, nasceu em 12 de julho de 1927, em Curitiba, Paraná.

Filho de missionários norte-americanos, era conhecido como Jaime, mas seu nome verdadeiro era James Nelson Wrigth. Estudou Teologia e fez pós-graduação na Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, em 1950. Retornou ao Brasil e dirigiu o Instituto de Educação Presbiteriano Ponte Nova, na Bahia, e em 1968 assumiu a direção da Missão Presbiteriana do Brasil Central, em São Paulo.

Em 1973, seu irmão, Paulo Stuart Wright, desapareceu e foi assassinado pelos órgãos de repressão do regime militar. Motivado por esse evento, Jaime publicou, pela Coordenadoria Ecumênica de Serviço, 1,8 milhão de exemplares da edição ecumênica da Declaração Universal dos Direitos Humanos e escreveu artigos para o exterior denunciando violações de direitos humanos no Brasil. Fundou, com Jan Rocha e Luiz Eduardo Greenhalgh, o Comitê de Defesa dos Direitos Humanos nos Países do Cone Sul.

Em 1975, participou do culto ecumênico em memória de Vladimir Herzog, junto com Dom Paulo Evaristo Arns e o rabino Henry Sobel. A partir de 1979, a convite de Dom Paulo, trabalhou pela causa dos direitos humanos na Arquidiocese de São Paulo e coordenou o projeto “Brasil: Nunca Mais”, que resultou na publicação de um livro documentando a tortura no Brasil durante a ditadura.

Jaime Wright faleceu em 29 de maio de 1999, em Vitória, Espírito Santo, vítima de um infarto. Em 2012, o pastor Derval Dasilio lançou o livro “Jaime Wright – o pastor dos torturados”, que narra sua história. Em 2023, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria, que homenageia brasileiros com excepcional dedicação e heroísmo.

Fonte:

Unisinos

Memórias da Ditadura
Agência Senado

Algo Sobre

João Batista de Andrade

Nasceu: 1 de dezembro de 1939

João Batista de Andrade é um diretor, produtor, roteirista e escritor. É considerado um dos nomes mais relevantes do cinema brasileiro, conhecido por sua atuação no campo artístico e político.

Nascido em 14 de dezembro de 1939, em Ituiutaba, Minas Gerais, Andrade é filho de uma professora e de um camponês sem-terra. Em 1960, iniciou seus estudos em Engenharia na Escola Politécnica da USP. Foi nessa época que o estudante começou sua carreira cinematográfica.

João Batista logo se aproximou do cinema e da televisão, onde encontrou um meio poderoso para expressar suas inquietações sociais e políticas. Seu trabalho é caracterizado por um forte compromisso com a realidade brasileira, abordando questões sociais, políticas e culturais que permeiam a história do país.

Uma das suas obras mais conhecidas é o filme “O Homem que Virou Suco” (1980), que se tornou um clássico do cinema brasileiro. O filme retrata a vida de um nordestino que migra para São Paulo em busca de melhores condições de vida, mas acaba se deparando com a dura realidade da cidade grande. Esta obra é um exemplo claro do realismo social presente nos trabalhos de Andrade, onde ele busca dar voz aos marginalizados e criticar as injustiças sociais.

Além de sua contribuição artística, João Batista de Andrade também se destacou por sua atuação política, especialmente durante a ditadura militar (1964-1985). Ele foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Documentaristas (ABD), uma entidade que teve um papel crucial na resistência cultural e na luta pela liberdade de expressão durante o regime autoritário. Sua trajetória como cineasta sempre esteve intimamente ligada à sua militância em prol da democracia e dos direitos humanos.

Nos anos 2000, Andrade continuou a influenciar o cenário cultural e político do Brasil. Ele foi Secretário de Cultura do Estado de São Paulo e, mais tarde, Ministro da Cultura do Brasil em 2017, durante o governo de Michel Temer. Em ambos os cargos, ele trabalhou para promover e democratizar o acesso à cultura no país.

João Batista de Andrade é, portanto, uma figura multifacetada: um cineasta comprometido com a realidade social e política do Brasil e um militante incansável pela democracia e pelos direitos humanos. Sua obra e atuação política refletem uma vida dedicada à luta por um país mais justo e igualitário, onde a cultura e a arte sejam ferramentas de transformação social.

Fonte: Museu da Pessoa

 

João Bosco

Nasceu: 13 de julho de 1946

Nascido em Ponte Nova, interior de Minas Gerais, João Bosco de Freitas Mucci é descendente de libaneses e passou a infância cercado por instrumentos musicais, como o piano de sua mãe e o violino da irmã. O artista começou a tocar violão aos doze anos de idade inspirado por grandes ídolos dos anos 1950, como Cauby Peixoto e Elvis Presley, e junto com amigos fundou sua primeira banda chamada X-Gare, em que começou a ter um contato mais profundo com o mundo da música.

Em 1967, Bosco entra no curso de engenharia civil na Universidade Federal de Ouro Preto e chega a se formar 5 anos mais tarde, mesmo assim, seu maior foco foi na prática do violão e em sua carreira musical. No mesmo ano, conheceu o já famoso Vinicius de Moraes, que foi como um mentor na MPB para ele, juntos compuseram as músicas “Samba do Pouso” e “O Mergulhador”.

Em 1970, conheceu Aldir Blanc, seu amigo e parceiro mais frequente, com quem compôs dezenas de músicas, como por exemplo:  O Mestre Sala dos Mares, O Bêbado e a Equilibrista, Bala com Bala, Kid Cavaquinho, Caça à Raposa, Falso Brilhante, O Rancho da Goiabada, De Frente pro Crime, Fantasia, Bodas de Prata, Latin Lover, O Ronco da Cuíca, Corsário, e muitas outras.

Com a carreira em iminência, o estopim se dá em 1972, no lançamento de Agnus Sei. A música saiu no lado B do compacto d’O Pasquim, disco de bolso que vinha de brinde com o jornal e tinha em seu conteúdo um artista já famoso e uma revelação. Na edição de João, Tom Jobim ficou no lado A com Águas de Março, mas o novo músico se destacou e atraiu os olhares  da grande mídia. Como resultado, assinou contrato com a gravadora RCA no ano seguinte.

Sua relação com o caso Vladimir Herzog se dá em 1979, por meio de uma homenagem feita na música O Bêbado e A Equilibrista. A composição foi feita junto a Blanc, mas a canção se popularizou na voz de Elis Regina, famosa por lançar artistas jovens nos anos 1970. O verso Choram Marias e Clarices, é uma referência  a Clarice Herzog, esposa de Vlado, o jornalista que tinha sido assassinado 4 anos antes.

Atualmente, o cantor continua a produzir álbuns e a fazer shows. Com mais de 50 anos de carreira, já ganhou os seguintes prêmios:  Prêmios à Excelência Musical e da Junta Diretiva do Grammy Latino, Grammy Latino: Melhor Canção Brasileira por Abricó-de-Macaco e Prêmio da Música Brasileira – MPB: Cantor. Além disso, já teve oito indicações ao Grammy Latino e não pensa em aposentadoria: “A música é tudo para mim”.

 

Fonte:

João Bosco

Câmara dos Deputado

Instituto Vladimir Herzog

João Guilherme Vargas Netto

Nasceu: 25 de dezembro de 1942

Natural de Minas Gerais, João Guilherme Vargas Netto foi dirigente do PCB e perseguido pela ditadura militar. João Guilherme se mudou para o Rio de Janeiro no final da década de 50, quando ingressou na faculdade de Nacional de Filosofia, na Universidade do Brasil, hoje Universidade Federal do Rio de Janeiro, da qual viria a ser expulso em plena ditadura – anos depois a Faculdade anulou a expulsão e pediu desculpas aos alunos.

João Guilherme se tornou militante e dirigente do PCB na clandestinidade. Em 1970 mudou-se para São Paulo, atuou na política de forma ilegal até se exilar na França em 1975. Ele ajudou a elaborar a “Carta de São Paulo” (São Paulo, o Povo e Seus Problemas), lida na Assembleia Legislativa do Estado no auge da repressão às liberdades.

Envolvido nas atividades sindicais há anos, atualmente ele é um dos principais consultores sindicais de diversas entidades de trabalhadores em São Paulo e membro do corpo técnico do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar).

Fontes:

Oboré

SINESP

CNTU

Eliseu Gabriel

Laerte Coutinho

Nasceu: 10 de junho de 1951

Laerte Coutinho é cartunista, ilustradora e roteirista. Criadora de personagens que marcaram a iconografia brasileira, como os Piratas do Tietê, Hugo Baracchini e Overman, usa o humor para explorar não apenas aspectos sociais relevantes, mas, também, questões acerca da existência humana. Junto com outros nomes, como Angeli, revolucionou a produção de quadrinhos brasileira.

Laerte ingressou no curso de Comunicação para fazer Música e Jornalismo na Escola de Comunicações e Artes da USP em 1969, mas não chegou a concluir nenhum dos cursos. Foi uma das criadoras da revista em quadrinhos Balão e uma das fundadoras da Oboré em 1978, empresa de jornalistas e artistas em colaboração com movimentos sociais e trabalhadores urbanos para produção de veículos jornalísticos e de comunicação.

Com mais de 50 anos de carreira, a cartunista produziu para, dentre outros, O Pasquim, O Bicho, a revista piauí, o Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo, onde publica até hoje. Também trabalhou como roteirista na e participou da redação de programas de TV como TV Pirata, TV Colosso e Sai de Baixo, da Rede Globo. Apresentou, também, o “Transando com Laerte”, no Canal Brasil.

Laerte também é voz ativa no movimento LGBTQIA+, e narrou sua trajetória no documentário “Laerte-se” (2017) de Lýgia Barbosa e Eliane Brum. Participou, também, do curta “Vestido de Laerte” de Claudia Priscila e Pedro Marques de 2012.

A cartunista foi agraciada com o título de melhor arte do 42º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos com a charge “Infernópolis” em outubro de 2020.

Fonte: Itaú Cultural

Lélia Abramo

Nasceu: 8 de fevereiro de 1911

Falecimento: 9 de abril de 2004

Filha de imigrantes italianos, Lélia Abramo nasceu em 8 de fevereiro de 1911 em São Paulo. A casa da sua família era um ponto de encontro entre jornalistas, escritores, artistas e políticos da esquerda brasileira e ela era próxima de grupos trotskistas desde a década de 1930. Lélia Abramo participou na fundação da Oposição de Esquerda e na Frente Única Antifascista. Ela também foi assessora especial da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo na gestão da prefeita Luíza Erundina (1989 – 1993) e trabalhou com projetos de inserção social nos anos 1990.

Defensora da liberdade de expressão, Lélia também viria a participar da fundação do Partido dos Trabalhadores, assinando a ata da fundação do PT com Mário Pedrosa, Manuel da Conceição, Sérgio Buarque de Holanda, Moacir Gadotti e Apolônio de Carvalho. E esteve presente em muitas atividades políticas, como na campanha “Diretas Já!”.

Entre 1938 e 1950, Lélia Abramo viveu na Itália e nesse período foi vítima de erro médico, que prolongou sua estadia por lá, além do início da guerra. Numa cirurgia para extração do ovário esquerdo, teve retirado o rim direito, que era sadio; também chegou a ter um vaso não devidamente suturado que lhe causou um choque hemorrágico pós-operatório. Além disso, em uma entrevista em memória da atriz, houve relato de que ela teria sido deixada em uma sala de cirurgia pelos médicos no susto da guerra.

Na Itália, Lélia também foi presa durante a luta contra Mussolini. Tentou pedir ajuda à embaixada brasileira para retornar, mas não obteve sucesso e foi considerada italiana, sendo forçada a se esconder. Segundo ela, seu sobrenome judeu agravou a perseguição. Durante a guerra, passou por necessidades e fome. Em uma entrevista, mencionou que, por pelo menos duas vezes, foi avisada por seu porteiro para que pudesse se esconder.

Formada em jornalismo, Lélia tinha o sonho de se tornar atriz. Isso aconteceu quando ela tinha 47, ela estreou na peça “Eles não Usam Black-Tie”, direção de José Renato Pécora e texto de Gianfrancesco Guarnieri, e ganhou o prêmio de melhor atriz coadjuvante além dos prêmios Saci e Associação Paulista de Críticos Teatrais (APCT). Lélia Abramo teria participado de 24 telenovelas, 13 filmes e 30 peças de teatro.

Abramo, foi também presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões (SATED) (1979 – 1981), e teve grande importância na luta pela legalização da profissão de ator, que foi reconhecida na lei, em maio de 1978. Aos 86 anos Lélia lançou o livro Vida e Arte – Memórias de Lélia Abramo, onde conta muito de sua vida artística e militante e os atritos que tinha, como por exemplo, a demissão da TV.

Fonte: 

YouTube – Antônio Camara

O Tempo

Itaú Cultural

Esquerda

 

Márcio José de Moraes

Márcio José de Moraes iniciou sua carreira no direito em 1968, após se formar Bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, tendo exercido a advocacia em escritórios como o do professor Miguel Reale. Em 1972, se estabeleceu em escritório próprio, tendo advogado para diversos clientes até 1973, quando ingressou através de concurso na Procuradoria do Município de São Paulo. Em 1976, ingressou na magistratura federal, exercendo o cargo de juiz titular da 7.ª Vara da Justiça Federal de São Paulo por 12 anos. O jurista exerceu diversos cargos, como conselheiro, desembargador e corregedor. Desde 2001, é presidente do Tribunal Regional Federal da 3ª Região.

Embora fosse estudante da Universidade de São Paulo em plena vigência da ditadura, Moraes seria considerado pela militância política da época como um alienado, uma vez que evitava a participação em embates políticos. O então jovem, saído de Jacareí, no interior de São Paulo, tinha em mente que estava na universidade estritamente para estudar. Moraes inclusive chega a reconhecer que, em certa medida, foi simpático ao regime em seu início. O jovem, que não concordava com os ideais de João Goulart, logo viu que a ideia de restabelecer a democracia o mais cedo possível não seria colocada em prática. Durante certo tempo, reconhecia que pudesse haver certa perseguição política, mas era cético em relação à prática de torturas e assassinatos por parte dos militares. A situação só mudou após a morte do jornalista Vladimir Herzog. “Não dava para engolir a história de que ele havia se apresentado espontaneamente ao DOI-Codi e que, no mesmo dia, decidiu suicidar-se. Essa tragédia está realmente acontecendo e não fiz nada, disse a mim mesmo”, afirmou Márcio em entrevista.

Em 1978, Márcio de Moraes, então titular da 7ª vara, foi definido como juiz responsável pelo julgamento do processo que Clarice Herzog havia movido contra a União. Moraes assumiu o caso após o Juiz João Gomes Martins ter sido substituído, uma vez que os militares acreditavam que Martins, por estar na iminência de sua aposentadoria compulsória, não teria nada a perder e por isso sua decisão seria favorável à condenação da União. Márcio José de Moraes estava no início de sua carreira na magistratura federal. Com 33 anos de idade, os militares acreditavam que, em virtude disso, Moraes ficaria relutante em considerar o Estado.

Em entrevista à Veja em 2013, o juiz recorda que as provas eram irrefutáveis. “Os jornalistas Rodolfo Konder e George Duque Estrada, que estavam presos no DOI-Codi no dia da morte de Vladimir Herzog, ouviram os sons que vinham da sessão de tortura. Eles viram o amigo. Mais: o corpo foi encontrado em suspensão incompleta. Se as pernas tocam o chão, o suicídio é impossível. Ao contrário do que alegavam os militares, o cinto com o qual Herzog teria se enforcado não fazia parte do macacão usado pelos presos”, afirmou.

À época, segundo Moraes, havia uma certa atmosfera opressiva no judiciário, mas a pressão ostensiva por parte dos militares não se fazia necessária. Isto porque a justiça federal de primeira instância foi criada em 1965, justamente para servir como a Justiça da ditadura militar. Tal influência direta era tão marcante que, embora alguns juízes tenham sido nomeados através de concurso público, uma outra parte havia sido indicação direta do ministério da justiça, com a sanção presidencial.

Ainda durante a ditadura, o juiz soube que o então presidente Ernesto Geisel e o ministro da justiça Armando Falcão haviam conversado a respeito de uma possível punição ao magistrado, e que Geisel havia decidido que não pretendia cassar mais nenhum membro do judiciário. A decisão foi muito simbólica na época e seu simbolismo perdura até hoje. Uma condenação da União por parte do judiciário federal, em um caso movido pela viúva de um jornalista torturado e assassinado pelo regime, cuja causa da morte oficial havia sido definida como suicídio pelas forças de segurança, representou um movimento de oposição e resistência dentro da institucionalidade.

Por muito tempo, Márcio José de Moraes evitou tocar no assunto. O juiz informa que grande parte do motivo se deu pelo medo de retaliações e represálias, mas também para evitar uma certa personalização da sentença. “Não era uma decisão pessoal, mas do Poder Judiciário como órgão do Estado.”, afirmou em 2013.

Fonte: 

Veja

Milton Coelho da Graça

Nasceu: 30 de novembro de 1930

Falecimento: 29 de maio de 2021

Milton Coelho da Graça nasceu na Gamboa, Rio de Janeiro, em 1930, era formado em Direito, Economia e Administração, mas se encontrou de fato no jornalismo. 

Ao longo de sua carreira foi editor ou diretor de redação dos jornais Última Hora, O Globo, Jornal do Commercio, Jornal dos Sports, trabalhou nas revistas Realidade, Istoé, 4 Rodas, Placar e Intervalo e, defensor da ética e da liberdade de expressão, trabalhou em veículos clandestinos como Notícias Censuradas (com Marco Antônio Tavares Coelho) e Resistência. Também foi membro do Conselho Deliberativo da ABI e colunista do site Comunique-se.

Torcedor do Vasco e da escola de samba Império Serrano, era filho de imigrantes portugueses, perdeu os pais para a tuberculose, e estando órfão aos três anos de idade foi criado por seu padrasto. Fugiu de casa aos quatorze anos e anos depois, a convite de Givaldo Siqueira, participou da sua primeira reunião da juventude comunista contra Roberto Campos (BNDS). Na época ele era formado em economia e tinha chances de ir para o Centro de Altos Estudos em Albany, em Nova York, porém, da reunião surgiu um comício na porta do BNDS, onde Milton foi preso e saiu na capa vespertina d’O Globo.

Milton falava com muito orgulho da resistência à ditadura e do papel dos jornalistas. Em entrevista ele conta que com uma máquina de escrever, mimeógrafo e alguns colegas mais próximos, às nove horas da noite deu vida ao primeiro jornal clandestino contra o regime. Foi preso na mesma noite enquanto distribuía o jornal Resistência pela cidade, e após ser solto, precisou de ajuda de amigos (Sudene) para sair de Recife antes de ser preso novamente, indo para o Rio e posteriormente SP.

Em 2005 o Rio de Janeiro lançou a série Cartilhas Contemporâneas, que aborda fatos relevantes do Brasil e do mundo de forma resumida, uma delas era sobre Vladimir Herzog e foi escrita por Milton Coelho, intitulada “Uma visão da história para jovens”. Durante o período em que foi preso Milton foi torturado e relatou que teve os dentes quebrados e o pulmão perfurado.

Milton também chegou a lecionar, primeiro segundo ele, para complementar renda e depois porque gostava de partilhar. Passando por diversos formatos de jornalismo, gostava de  experimentar e não se considerava especialista em nada. Nessa trajetória, embora não tenha sentido que teve boas experiências no rádio, admirava rádios como Band News e CBN. Ele também via nos avanços novas formas de contar histórias, chegou a criar um blog próprio.

Fonte:

Câmara dos Deputados

ABI

Carta Capital

Tribuna PR

Publish News

Perseu Abramo

Nasceu: 17 de julho de 1929

Falecimento: 6 de março de 1996

 

Nascido em São Paulo (SP), 17 de julho de 1929, Perseu Abramo foi um sociólogo, mestre em ciências humanas e jornalista brasileiro. Ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP) tendo realizado seu mestrado na Universidade Federal da Bahia (UFBA) em 1968.

Entrou no jornalismo em 1946 como suplente de conferente de revisor no Jornal de São Paulo, passando a exercer a função de repórter de 1948 a 1950, no mesmo jornal. Neste último período, foi também repórter na Folha Socilista, jornal ligado ao Partido Socialista Brasileiro.

O jornalista colaborou também no jornal A Hora de 1950 a 1952 e neste último ano, ingressou no “O Estado de S. Paulo”. Perseu foi encarregado por seu tio, Cláudio Abramo, de reformular a reportagem do jornal.

Um dos contratados na ocasião do ingresso de Abramo no Estadão, Alexandre Gambirasio, recorda em entrevista à Folha de S. Paulo em 03 de agosto de 2021 que o jornalista “selecionou vários jovens universitários por um sistema de testes criado por ele mesmo”. Entre esses nomes, estavam o próprio Gambirásio, Vladimir Herzog e Luiz Weiss, na época iniciantes na profissão.

No Estadão, Perseu permaneceu por 10 anos e atuou em diversas funções, como: redator da seção de Internacional, redator de noticiário local, repórter, chefe de reportagem, cronista semanal, redator e responsável pelas seções de Interior e de Esportes, subsecretário de redação. Em 1960 o jornalista coordenou a equipe que fez a cobertura da inauguração de Brasília, rendendo um Prêmio Esso de Reportagem.

Entre 1962 a 1970 se dedicou à docência no ensino superior, tendo lecionado na recém inaugurada Universidade Nacional de Brasília (UnB) de 1962 a 1964. Juntamente com estudantes e professores da UnB, Perseu se opôs à ditadura militar, tendo sido preso em 09 de abril de 1964 durante a invasão do Exército na universidade.

Em 1970, ingressou na Folha de S. Paulo, onde atuou nas editorias de Esporte e Ilustrada. Em 1972, assumiu a tarefa de montar e dirigir a editoria de Educação, onde abriu espaço para pautas políticas em meio a repressão da ditadura militar. Nesta editoria, pautas como a situação das escolas, aprovados nos vestibulares, encontros da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) receberam cobertura.

Perseu se enxergava de fato como Um Trabalhador da Notícia (título do livro, organizado por sua filha Beatriz Abramo), enxergando o ofício do jornalista como parte da classe trabalhadora. Essa visão, o levou a se tornar uma das lideranças da greve dos jornalistas de 1979, tendo sido demitido da Folha.

De 1980 a 1981, trabalho no seminário político Movimento. Já em 1981, passa a editar o Jornal dos Trabalhadores, órgão do Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), e outras publicações.

Durante sua vida, Perseu atuou também em diversos cargos técnicos e profissionais ligados à área das ciências sociais, majoritariamente em órgãos públicos.

Abramo participou também de diversos movimentos sociais. Ainda como secundarista, atuou na campanha pela anistia e contra a ditadura Vargas. Se juntou a Esquerda Democrática (que foi extinta por força do Ato Institucional nº 2, de 1965 e mais tarde deu origem ao Partido Socialista Brasileiro (PSB)). Durante a ditadura militar, participou de greves, apoiou a luta contra a ditadura, por reforma partidária e anistia.

O jornalista se aproximou de diversos sindicatos, como o dos Metalúrgicos do ABC, Bancários e Petroleiros. Com isso, participou dos movimentos a favor da criação do Partido dos Trabalhadores (PT), fundado efetivamente em 1980. Perseu se engajou nas atividades do partido, tanto na elaboração do manifesto e regimento interno, quanto nas campanhas de filiação.

Perseu participou também da formação da Comissão de Liberdade de Imprensa e criação dos Conselhos de Representantes de Redação e do Conselho Consultivo do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo. Além disso, foi um dos idealizadores do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, criado pelo mesmo sindicato.

Em vida, idealizou o centro de pesquisas e debates do PT, inaugurado em 05 de maio de 1996, cerca de dois meses após a morte do jornalista. A fundação criada para atender a essa necessidade, foi chamada de Fundação Perseu Abramo.

Fonte:

Arquivo Nacional – DIBRAQ

Fundação Perseu Abramo

Ruth Escobar

Nasceu: 31 de março de 1935

Falecimento: 5 de outubro de 2017

Maria Ruth dos Santos Escobar foi uma produtora e atriz luso-brasileira com uma importante participação no teatro brasileiro.

Nascida no ano de 1935, a atriz deixou Portugal ainda na adolescência, quando emigrou para o Brasil ao lado de sua mãe, em 1951. Após casar com o filósofo e dramaturgo Carlos Henrique Escobar, Ruth mudou-se para a França e fez cursos de interpretação.

No Brasil, Ruth Escobar fundou sua própria companhia teatral, intitulada Novo Teatro. Em parceria com o diretor Alberto D’Aversa, a atriz dirigiu diversas peças e participou de experiências de palco, como Antígone América. Após sua separação com Carlos Escobar, Ruth iniciou a juntar recursos financeiros para o seu próprio teatro. Em sua carreira, a criação do Teatro Popular Nacional marcou a democratização da arte, com um projeto que levava espetáculos para a periferia de São Paulo através da adaptação de um ônibus em palco.

Conhecida por ter revolucionado a arte e a política, o trabalho teatral desenvolvido por Ruth teve impacto internacional. O Teatro Ruth Escobar, fundado em 1963, foi palco de históricas manifestações políticas e se mantém hoje como grande referência em produções artístico-culturais.

Fonte:

Itaú Cultural

Alesp

Samuel Mc Dowell

Nasceu: 1952

Samuel Mac Dowell de Figueiredo teve uma infância marcada pela cultura em Pernambuco. Seu contato com a música surgiu com a tia, que tinha uma coleção de discos de compositores barrocos, em contraste com a mãe, que odiava recitais de piano. Porém, a carreira que decidiu seguir foi a do direito, o que o levou ao Largo de São Francisco em São Paulo.

Com pouco tempo de formação, Mac Dowell juntou-se aos parceiros Marco Antônio Rodrigues Barbosa e Sérgio Bermudes, para representar a família Herzog em um processo contra a União Federal. Neste, evitaram acusar o Estado pelo assasinato do jornalista e utilizaram como principal argumento a constatação de que Herzog entrou com vida, na manhã do sábado, 25 de outubro de 1975, em uma dependência da União, e lá morreu. A responsabilidade civil era, portanto, da própria União, por negligência na guarda do prisioneiro.

Após a escalada do trâmite judicial, o juiz Márcio José de Moraes proferiu a sentença. Nela, a ré foi responsabilizada por prisão arbitrária, tortura e morte do jornalista, e por isso a familia deveria ser indenizada por causa dos danos materiais e morais decorrentes do crime. O caso foi encerrado em 1978, 3 anos após a morte de Vladimir Herzog, mas a esposa Clarice e os filhos Ivo e André disseram estar felizes e que a sentença tinha ido mais longe do que o esperado. 

Depois do sucesso do caso, os advogados se popularizaram e especialmente Mac Dowell seguiu no ramo de ações judiciais famosas. Nesta seara, representou a família de Manoel Fiel Filho, operário que foi preso, torturado e morto durante o Regime Militar, e esteve próximo aos juristas e jornalistas envolvidos com o caso da morte de Marighella, militante e político do Partido Comunista Brasileiro. Na vida privada, teve uma relação amorosa com Elis Regina até a morte da cantora, sendo assim considerado seu último namorado.

Atualmente, o jurista é sócio do escritório Rodrigues Barbosa, Mac Dowell de Figueiredo, Gasparian – Advogados, mas seu foco é nas artes. Ele é o fundador do Centro de Cultura Baía dos Vermelhos, em Ilhabela, onde ocorrem teatros, apresentações musicais, de dança e aulas para a formação de futuros artistas. O local tem 150.000 metros quadrados e dois teatros, começou seus serviços em 2013 e desde lá tem chamado a atenção da população local por causa de seus ingressos a baixo custo, geralmente entre 10 e 30 reais, e pelo alto nível das apresentações.

Fontes:

Veja

Escavador

TV Cultura

Istoé

Instituto Vladimir Herzog

Almanaque Folha

Therezinha Zerbini

Nasceu: 12 de dezembro de 1928

Falecimento: 14 de março de 2015

Therezinha de Godoy Zerbini foi uma figura central na luta pela democracia e pelos direitos humanos no Brasil, especialmente durante os anos de repressão da Ditadura Militar. Nascida em 1928, Therezinha iniciou sua carreira como assistente social e advogada, mas seu legado é amplamente reconhecido por seu incansável ativismo político.

Em 1951, conheceu e casou-se com o General Euryale de Jesus Zerbini, um dos poucos oficiais militares a se opor ao golpe de Estado de 1964. Essa postura de oposição resultou na cassação dos direitos políticos do general e sua aposentadoria compulsória, um evento que marcou profundamente Therezinha e influenciou seu engajamento na resistência contra a ditadura.

Durante a década de 1960, Therezinha já era ativa na política e na luta pelos direitos humanos. Em 1968, ela ajudou a organizar o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Ibiúna, um ato de resistência que resultou em sua prisão em 1970. Durante seu tempo na prisão, incluindo uma passagem pela sede da Operação Bandeirante (Oban) e pelo Dops, ela testemunhou as brutais torturas infligidas a outros presos políticos, embora ela própria não tenha sido torturada. Foi no Presídio Tiradentes, onde permaneceu por seis meses, que Therezinha conheceu Dilma Rousseff, com quem compartilhou os horrores da detenção política.

Em 1975, ano internacional da mulher, Therezinha fundou o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA). Esse movimento teve um papel fundamental na campanha pela anistia dos presos políticos e na luta pela redemocratização do Brasil. O MFPA cresceu e, em 1978, se transformou no Comitê Brasileiro pela Anistia (CBA), uma organização que, com o apoio da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), pressionou com sucesso pela anistia ampla, geral e irrestrita, conquistada em 1979.

Após a anistia, Therezinha continuou sua militância, colaborando na fundação do Partido Democrático Trabalhista (PDT) ao lado de Leonel Brizola. Sua atuação política e social foi reconhecida e celebrada ao longo dos anos. Em maio de 2014, aos 86 anos, recebeu uma homenagem da Prefeitura de São Paulo por sua luta contra a ditadura militar e por sua contribuição para a democracia no Brasil.

Therezinha Zerbini faleceu em 14 de março de 2015, aos 87 anos, deixando um legado duradouro de coragem, resistência e defesa dos direitos humanos. Seu exemplo inspirador continua a ser uma referência para as gerações futuras na luta por um Brasil mais justo e democrático.

Dilma Rousseff, ex-presidente do Brasil e companheira de prisão de Therezinha, ressaltou sua importância em uma nota pública, destacando: “O País perdeu ontem uma cidadã que simbolizou como poucas a coragem da mulher brasileira. Tive o privilégio de conviver com Therezinha Zerbini em situações extremas: num cárcere da ditadura, onde nos conhecemos em 1970, e na luta pela Anistia, da qual ela foi pioneira, ao criar, em 1975, o Movimento Feminino Pela Anistia. Therezinha Zerbini tem lugar assegurado na História do Brasil, como protagonista de uma das mais belas campanhas democráticas que nosso País conheceu. É uma personagem da qual a família Zerbini e a cidadania brasileira devem se orgulhar para sempre.”

Fonte:

PDT
CONJUR
G1

Memorias da Ditadura

Zora Herzog

Nasceu: 1910

Falecimento: 2009

Zora Herzog, nascida Zora Wollner, veio ao mundo em 1910, na cidade de Osijek, na então Iugoslávia, atual Croácia. Sua história se entrelaça com eventos marcantes do século XX, desde os horrores da Segunda Guerra Mundial até a luta incansável por justiça durante a ditadura militar brasileira.

Em 1937, o casal de origem judaica, Zigmund e Zora Herzog moravam em Banja Luka, uma cidade da Bósnia e Herzegovina.  Zora foi à casa de seus pais, Ziga Wollner e Sirena Wolf, em Osijek, para dar à luz seu único filho Vlado, mais tarde conhecido como Vladimir Herzog. A família viveu os horrores da ocupação nazista, que em 1941 forçou-os a fugir, buscando refúgio primeiro na Itália, primeiro em Fonzaso, nas montanhas Dolomitas, depois em Fermo, na costa do Adriático. Seus pais, Ziga e Sirena, foram executados em Auschwitz. Seus sogros, Moritz Herzog e Gisela, morreram no campo de extermínio de Jasenovac, na Iugoslávia.

Vladimir Herzog tinha nove anos quando, após a ocupação da Itália pelas tropas aliadas, a família desembarcou no Brasil, em 1948. Os Herzog escolheram o Brasil como seu destino, onde Vlado se naturalizou. Zora e a família desembarcaram no Rio de Janeiro do navio Philippa e seguiram para São Paulo, onde seu esposo Zigmund viria a trabalhar na área de contabilidade em negócios de Leon Feffer, fundador da Suzano Papel e Celulose. Zora contribuía para o sustento da família de diversas maneiras, desde servir refeições até se tornar sócia em um empreendimento de confecção. Zora ficou viúva em 1972.

Em 1975, seu filho Vlado foi brutalmente assassinado pelas mãos do regime militar brasileiro. Zora, sua nora, Clarice Herzog, junto com outros familiares, travaram uma batalha por justiça. Foi somente em 1978 que o juiz Márcio José de Moraes, proferiu uma sentença histórica, responsabilizando o Estado pela morte de Vlado.

Mesmo em meio a dor, Zora Herzog encontrou forças para expressar sua gratidão ao juiz que reconheceu a injustiça sofrida por seu filho.

“Meu filho não voltará, mas seu bom nome não ficará manchado, seu desaparecimento não foi em vão para o país. […] Fizeram um símbolo do Vlado, justo ele que detestava a notoriedade […], mas a sua honra foi restabelecida graças a sua atuação de homem de bem.”

Zora Herzog faleceu em São Paulo em 2009, aos 99 anos. 

Fonte: 

Geni
Instituto Vladimir Herzog
Arts & Culture – Google
Toda Matéria
Usina de Valores

Ivo Herzog

Nasceu:  31 de agosto de 1966

 

 

Ivo Herzog é o primogênito de Clarice e Vlado. Tinha nove anos de idade quando seu pai foi assassinado no DOI-Codi, em São Paulo. Formado em Engenharia Naval, trabalhou em empresas multinacionais, no Brasil e no exterior. Em 2009, fundou o Instituto Vladimir Herzog, organização fundamentada nos valores que Vlado defendia e criada para preservar seu legado.

Fonte: Museu da Pessoa

 

André Herzog

 

 

André Herzog é o filho caçula de Vlado e Clarice. Arquiteto e urbanista de formação, desde 2003 trabalha no Banco Mundial, liderando projetos de habitação, infraestrutura urbana, e descentralização. Também faz parte do Conselho Deliberativo do Instituto Vladimir Herzog.

Clarice Herzog

Nasceu:  1 de julho de 1941

 

Clarice Herzog é socióloga, com carreira profissional na área de Publicidade. Em 1964, ela se casou com Vlado, com quem teve dois filhos: Ivo e André. Depois do assassinato do marido, em 1975, processou o Estado brasileiro e, desde então, luta por justiça e pela responsabilização dos envolvidos na morte de Vlado.

Fonte: Memórias da Ditadura

Dom Paulo Evaristo Arns

Nasceu: 14 de dezembro de 1921

Falecimento: 14 de dezembro de 2016

 

 

Dom Paulo Evaristo Arns foi arcebispo de São Paulo, com destacada atuação na luta pelos direitos humanos durante a ditadura militar. Em 1975, conduziu o culto ecumênico na Catedral da Sé em memória de Vladimir Herzog. Arns também liderou, junto com pastor Jaime Wright, o Projeto Brasil: Nunca Mais, sobre a tortura política no país.

Fonte:

Memórias da Ditadura

 

Fátima Pacheco Jordão

 

 

 

Fátima Pacheco Jordão é cientista social e especialista em pesquisas de opinião. Conselheira do Instituto Vladimir Herzog, é amiga próxima da família Herzog desde a juventude e esteve presente em diversos momentos importantes do casal Vlado e Clarice.

Fonte:

PSDB

João Gomes Martins 

 

 

João Gomes Martins era o juiz titular da 7ª Vara da Justiça Federal de São Paulo que, a princípio, seria responsável por julgar o processo que Clarice Herzog moveu contra a União por causa da morte de Vlado. Como Martins estava prestes a se aposentar, os militares previram que a sentença seria desfavorável e assim entraram com um mandado de segurança que o impediu de prolatar a sentença. O caso então caiu nas mãos de Márcio José de Moraes, auxiliar de Martins.

Fonte: Veja

Marco Antônio Rodrigues Barbosa

 

 

Marco Antônio Rodrigues Barbosa foi um dos advogados que representou a família Herzog na ação cível para responsabilizar o Estado pelo assassinato do jornalista. Também presidiu a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.

Fonte:

Instituto Vladimir Herzog

Sergio Bermudes

Nasceu: 2 de outubro de 1946

 

 

O advogado Sergio Bermudes foi o autor da petição inicial do caso Vladimir Herzog. Contrariando a família do jornalista, ele insistiu em propor uma ação civil pedindo que o Judiciário reconhecesse a responsabilidade do Estado pela morte do jornalista.

Fonte:

Conjur

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