27/10/2022

A coragem – e não o medo – para salvar a democracia

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Neste domingo, 150 milhões de brasileiras e brasileiros irão às urnas para participar daquela que é, certamente, a eleição mais importante da história do Brasil desde a redemocratização. Não se trata – como, aliás, já não se tratava em 2018 – apenas de uma escolha entre projetos econômicos diferentes; políticas sociais distintas ou espectros ideológicos divergentes. Nossa escolha é entre a vida e as armas; entre a democracia e o autoritarismo; entre a civilidade e a barbárie.

Jair Bolsonaro representa as armas, o autoritarismo e a barbárie. Ao longo dos últimos quatro anos, foi ele o responsável pela conduta criminosa na pandemia que já vitimou quase 700 mil vidas; foi ele o responsável por impedir a investigação dos inúmeros escândalos de corrupção envolvendo o orçamento secreto, seus ministros e familiares; foi ele o responsável por fazer com que 33 milhões de brasileiros deixassem de ter o que comer e, assim, o país voltasse ao mapa da fome.

Não podemos aceitar a continuidade deste projeto de destruição dos alicerces da democracia brasileira. O Brasil não aguenta mais quatro anos deste pesadelo. O mundo não aguenta mais quatro anos de Jair Bolsonaro.

Há pouco menos de dois anos, o mundo assistiu, de forma perplexa, aos episódios que se sucederam após a derrota de Donald Trump na eleição dos Estados Unidos e que culminaram com a tentativa de invasão ao Capitólio. Não há dúvidas de que a sanha golpista de Jair Bolsonaro fará com que, sob o comando dele, tenhamos algo parecido aqui no Brasil.

De forma extremamente preocupante, apesar da ação contundente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os últimos dias foram marcados pela escalada de movimentos que buscam única e exclusivamente a descredibilização do processo eleitoral do próximo domingo.

A indústria da desinformação continua a disseminar conteúdos falsos em grandes veículos, sob o amparo do corporativismo de outras empresas de comunicação e da morosidade das plataformas digitais. A campanha do presidente inventou uma denúncia infame – já desmentida e rejeitada pelo TSE – de que rádios do nordeste não estariam levando ao ar propagandas eleitorais dos dois candidatos à presidência de forma equânime. Como se não bastasse, acumulam-se as denúncias de empresários praticando assédio eleitoral e tentando, de forma desumana, manipular a opinião e corromper o voto de trabalhadoras e trabalhadores em todo o país.

A Constituição brasileira é soberana ao dizer que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio do voto universal, direto e secreto. Garantir a integridade do processo eleitoral e, mais do que isso, evitar pronta e categoricamente qualquer tentativa de deslegitimar o resultado das urnas é mais do que uma necessidade – é a obrigação de todos aqueles realmente comprometidos com a sobrevivência da democracia brasileira e o futuro da democracia em todo o planeta.

Jair Bolsonaro não está mais preocupado com eleitores indecisos ou ganhar votos no domingo. O que ele quer é tumultuar o ambiente para fragilizar as instituições e, assim, fortalecer sua insistente tentativa de fraudar o processo eleitoral. Plataformas de conteúdo digital, jornalistas, empresas de comunicação, organizações da sociedade civil, organismos internacionais, governos de outros países e todo o sistema judiciário brasileiro não podem assistir passivamente ao avanço dessas articulações antidemocráticas e precisam agir desde já.

Esse é o único caminho para que a eleição deste domingo entre para a história como o momento em que o Brasil deu um basta ao autoritarismo, ao elogio à violência e à permanente instabilidade entre os poderes, e reafirmou com coragem o seu compromisso em direção à construção de um país mais justo, plural e verdadeiramente democrático.

Instituto Vladimir Herzog

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