O Instituto Vladimir Herzog vem por meio desta nota denunciar e repudiar de forma veemente os ataques virtuais que o jornalista independente Gilmar Ferreira, do Mato Grosso do Sul, vem sofrendo após publicar uma matéria sobre a conduta no mínimo questionável do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, em meio à pandemia do novo coronavírus.
Segundo matéria publicada por Gilmar em suas redes sociais, e também por outros veículos de maior porte, como o jornal Folha de S. Paulo e os portais UOL e G1, o ministério da Saúde aproveitou a emergência do avanço do coronavírus no Brasil, que permite ao governo fazer contratações sem a realização de licitação, para beneficiar antigos amigos.
Conforme publicado no Diário Oficial da União na semana passada, a pasta fez uma compra de aventais hospitalares no valor de R$ 700 mil da Prosanis Indústria e Comércio de Produtos Médicos e Hospitalares Ltda. De acordo com a Receita Federal, a Prosanis, aberta em 2013, tem em seu quadro societário o empresário Aurélio Nogueira Costa, que tem outros negócios no ramo. Entre eles, a Cirumed Comércio Ltda., aberta em 1991 e que foi a principal empresa doadora de campanha de Mandetta nas duas vezes em que ele disputou uma vaga de deputado federal.
A Cirumed tem um vasto histórico de envolvimento em irregularidades apontadas por órgãos de fiscalização e é alvo de inquérito civil do Ministério Público do Mato Grosso do Sul, que apura irregularidades no Hospital Regional do Estado envolvendo notas fiscais frias.
Após a publicação da matéria evidenciando tais irregularidades, Gilmar Ferreira passou a ser covardemente ofendido e ameaçado, o que o obrigou a encerrar suas contas em redes sociais. O jornalista já está tomando as medidas jurídicas cabíveis e já acionou o Ministério Público do Mato Grosso do Sul para tomar as devidas providências em relação aos crimes que vem sendo cometidos contra ele.
Portanto, pedimos às entidades responsáveis que identifiquem, investiguem e punam os responsáveis o mais rápido possível. Não podemos mais aceitar este cenário de ataques covardes e sistemáticos a jornalistas, comunicadores, adversários políticos, movimentos sociais, organizações da sociedade civil e a todos que fazem críticas ou, de alguma forma, se opõem ao atual governo e seus representantes.
Há mais de dez anos, o Instituto Vladimir Herzog – entidade que leva o nome de um cidadão brutalmente torturado e assassinado por fazer jornalismo – trabalha para fazer com que a sociedade se mobilize na defesa pela democracia, pelos direitos humanos e pela liberdade de expressão. Neste sentido, destacamos aqui um de nossos projetos: a Rede Nacional de Proteção a Comunicadores, iniciativa que tem como objetivo a criação de uma ferramenta que garanta a atuação livre e segura de jornalistas e comunicadores que, constantemente, são alvos de ameaças, agressões e assassinatos.
Por meio deste e de tantos outros projetos, reafirmamos nossa missão de cultivar e defender a livre circulação de ideias e reforçamos nosso compromisso em reagir a cada tentativa de cerceamento da liberdade de expressão.