Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns (in memoriam), Tim Lopes (in memoriam) e Rose Nogueira foram os escolhidos pela comissão do prêmio.
A Comissão Organizadora do 39º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos definiu, em sua última reunião, o nome dos homenageados de sua próxima edição. Foram escolhidos o cardeal Dom Paulo Evaristo Arns (in memoriam) e os jornalistas Rose Nogueira e Tim Lopes (in memoriam). A cerimônia de entrega do prêmio, evento no qual serão concedidas as homenagens, acontece no dia 31 de outubro no Tucarena, em São Paulo.
Dom Paulo Evaristo Arns
Nascido em Forquilhinha, em Santa Catarina, Dom Paulo iniciou seus estudos na cidade natal. Em 1939, ingressou na ordem franciscana do Seminário São Luiz de Tolosa, em Rio Negro, no Paraná. Em 1940, entrou no noviciado em Rodeio, Santa Catarina. Até que em 30 de novembro de 1945 foi ordenado padre em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
Sua atuação pastoral sempre foi voltada aos habitantes da periferia, aos trabalhadores, à formação de comunidades eclesiais de base nos bairros e à defesa e promoção dos direitos da pessoa humana. Não à toa, foi descrito por Dom Angélico Sândalo Bernardino como o “rosto da periferia de São Paulo”.
Durante a ditadura, sob o sufoco imposto pelos militares, Dom Paulo se agigantou. Sua atuação contra a repressão ganhou destaque já em 1969, quando passou a defender seminaristas dominicanos presos por ajudarem militantes opositores.
Em 31 de outubro de 1975, uma semana depois do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), Dom Paulo realizou um culto ecumênico em memória de Vlado na Praça da Sé. O ato reuniu 8 mil pessoas e se transformou na maior manifestação pública de repúdio à ditadura militar. Ao lado do arcebispo, estavam o rabino Henry Sobel e o reverendo evangélico Jaime Wright.
Por tudo isso, por tantos outros episódios, e por ter sido um dos principais nomes na luta contra a ditadura no país, ficou conhecido como o “Cardeal da Esperança”. Em 14 de dezembro do ano passado, vítima de uma broncopneumonia, Dom Paulo Evarist Arns morreu. Seu corpo foi sepultado na Catedral da Sé, em São Paulo. Defensor dos pobres e dos marginalizados, nunca se curvou diante dos poderosos e dizia que a sua igreja deveria ser voltada para as periferias – humanas e geográficas. Sua memória está e permanecerá por muito tempo, muito presente no Brasil, em toda a América do Sul e mundo afora.
Rose Nogueira
Jornalista profissional desde a década de 1960, Rose Nogueira está entre as poucas mulheres que iniciaram a carreira quando as redações eram majoritariamente masculinas. Desde então, trabalhou em jornais como a Folha de S. Paulo, em revistas como a 4Rodas e em várias emissoras como a TV Cultura, Rede Globo e TV Brasil.
Pioneira, Rose é uma das criadoras e foi diretora da TV Mulher, programa exibido pela Globo na década de 1980 que se tornou referência no jornalismo ao inovar na linguagem e por tratar de temáticas, como o feminismo e sexualidade, de forma inédita na televisão brasileira. Mesmo aposentada das redações, aos 73 anos ela mantém a rotina de escrever, está sempre ligada nos noticiários e, como toda repórter que se preza, segue curiosa e questionadora.
Rose também viu e viveu na pele o golpe de 1964. Apoiadora da Aliança Libertadora Nacional (ALN), ela chegou a abrigar em sua residência, na capital paulista, o líder Carlos Marighella. Acabou sendo presa em 1969, cerca de um mês depois de dar à luz seu único filho, Carlos Guilherme Clauset, o Cacá, que hoje segue os passos da mãe no jornalismo.
Depois de ser vítima de tortura física e psicológica no Departamento de Ordem Política e Social (Dops), passou nove meses no Presídio Tiradentes, na chamada “Torre das Donzelas”, tendo entre as companheiras de cela a veterana jornalista Edith Negraes e a então militante da Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares), Dilma Rousseff.
Em 1971, Rose Nogueira foi julgada e absolvida pela Justiça, mas a jornalista nunca deixou a luta pela condenação dos torturadores e pela verdade e justiça às vítimas do regime repressivo.
Tim Lopes
Há 15 anos, o país conheceu o rosto do repórter de TV que nunca aparecia na tela. Tim Lopes se tornava a notícia principal da edição de 11 de junho de 2002 do Jornal Nacional. Seu rosto no telão ao fundo da redação, que, de pé, o aplaudia.
Sua partida precoce mostrou ao grande público a face mais cruel dos ataques à liberdade de expressão no país. Tim Lopes foi identificado como jornalista quando trabalhava no Complexo do Alemão e, por exercer esse ofício, foi torturado e morto por traficantes. O Brasil de 2017 não é muito diferente do Brasil de 2002: ainda hoje, repórteres de diferentes veículos são alvos de censura, agressões, ameaças e, infelizmente, assassinatos.
A Comissão Organizadora do Prêmio Vladimir Herzog homenageia Tim Lopes pelo repórter que foi, indubitavelmente. Mas estende a homenagem ao legado de Tim. Uma morte sem sentido como a sua não cabe na razão humana. Mas engendra transformações: há quinze anos, jornalistas se mantêm unidos em defesa de valores democráticos, da liberdade de expressão e da segurança para atuar como repórteres. Esta homenagem é também um lembrete de que juntos somos mais fortes e estamos mais protegidos.