Grupos de direitos humanos denunciaram Jagath Jayasuriya por ter comandado unidades militares que atacaram hospitais e mataram, torturaram e contribuíram para o desaparecimento de milhares de pessoas.
Com informações da Associated Press
Grupos de direitos humanos da América Latina denunciaram que o embaixador do Sri Lanka no Brasil teria sido responsável por crimes de guerra cometidos em 2009, durante a guerra civil no país asiático. O ex-general Jagath Jayasuriya é acusado de comandar unidades militares que atacaram hospitais e mataram, torturaram e contribuíram para o desaparecimento de milhares de pessoas.
Jayasuriya tem imunidade diplomática em seis países: Brasil, Colômbia, Peru, Chile, Argentina e Suriname. Os grupos que processam o embaixador esperam convencer os governos latino-americanos a extraditá-lo.
O advogado que coordena a iniciativa, Carlos Castreana Fernandez, informou à agência de notícias Associated Press na noite de segunda-feira 28 que as acusações foram apresentadas no Brasil e na Colômbia. Nos próximos dias, serão formalizadas petições na Argentina, Chile e Peru. Já as autoridades do Suriname se negaram a aceitar o processo, disse o advogado. “Esse é um genocídio que foi esquecido, mas vamos forçar países democráticos a fazerem alguma coisa. É só o começo da briga”, afirmou.
A reportagem tentou entrar em contato com o escritório do ex-comandante na Embaixada do Sri Lanka em Brasília por telefone e e-mail, mas não obteve resposta. O paradeiro dele é desconhecido. Fernandez disse que oficiais de Justiça brasileiros informaram que Jayasuriya deixou o país no domingo. A informação não pode ser confirmada pela Associated Press.
Os processos criminais, analisados pela agência, foram liderados pelo Projeto Verdade e Justiça Internacional, uma organização de direitos humanos com sede na África do Sul que se dedica a coletar provas. As ações têm três objetivos principais: pressionar as autoridades a abrir investigações sobre Jayasuriya, revogar sua imunidade diplomática e extraditá-lo.
Fernandez já trabalhou em casos internacionais contra o general argentino Jorge Rafael Videla e o chileno Augusto Pinochet. Ele também ajudou a acusar muitos criminosos de guerra e membros de grupos organizados na Guatemala, incluindo o ex-presidente Alfonso Portillo.
O Sri Lanka esteve em guerra civil em vários períodos entre 1983 e 2009. O conflito foi intensificado, em parte, pelas tensões étnicas entre cingaleses e tâmeis, e a insurgência contra o governo foi liderada por um grupo chamado Tigres da Libertação de Tamil Eelam. O objetivo era estabelecer um Estado tâmil independente na parte noroeste da ilha.
De acordo com as denúncias, Jayasuriya foi comandante da Força de Segurança Vanni entre 2007 e 2009, um dos períodos mais sangrentos de uma guerra que matou mais de 100 mil pessoas. Os números das Nações Unidas indicam entre 40 mil e 70 mil mortos somente na fase final do conflito.
Grupos de direitos humanos levaram anos tentando processar Jayasuriya, mas o governo de Sri Lanka se negava a julgá-lo. Poucos anos depois do fim dos confrontos, ele se retirou do Exército. Foi nomeado embaixador no Brasil em 2015.
A Question of Command Responsibility (Portuguese) from NoFireZone on Vimeo.