Na época em que Vladimir Herzog foi assassinado pela ditadura eu trabalhava na editoria internacional da revista Veja, em São Paulo. Tinha 37 anos. Quando o abaixo-assinado do manifesto em protesto pelo crime circulou no prédio da Editora Abril que abrigava as redações de tantas revistas que marcaram época no jornalismo brasileiro, a indignação contra a farsa era generalizada entre as pessoas que lá trabalhavam, como ocorria em crescente parcela da população brasileira.
Não seria necessário ter passado pelo calvário das prisões injustificadas e da tortura a que tantos, como eu, foram submetidos pelos golpistas de 1964 para querer marcar suas posições quanto à verdade que uma foto chocante mostrava. Qualquer pessoa digna teria assinado aquele documento, e mais não o fizeram, penso hoje, talvez por receio de perseguições da repressão policial ou por não terem tido oportunidade. Não recordo o nome de quem me apresentou o abaixo-assinado, mas tenho certeza de que o assinei incontinenti. E, quando de sua publicação, fiquei feliz por ter visto meu nome incluído num documento que contribuiu para trazer um pouco de luz naquele período de trevas e de dor. Hoje a leitura dos nomes ali colocados me remete com tristeza e vontade de que retorne um tempo em que a solidariedade e a indignação contra o arbítrio não tinham tantas fronteiras ideológicas.
23/5/2021.