Ricardo Carvalho
20/06/2021

Ricardo Carvalho: um contador de histórias

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Autor de importantes obras sobre Dom Paulo Evaristo Arns e sobre a atuação da imprensa brasileira durante a ditadura, Ricardo Carvalho faleceu neste domingo, 20 de junho, em São Paulo.

Jornalista, escritor, documentarista e um grande defensor dos direitos humanos, Ricardo Carvalho faleceu neste domingo, 20 de junho, em São Paulo.

Um contador de histórias, como ele mesmo gostava de se definir, Ricardo formou-se em jornalismo nos anos 70 e começou sua carreira como repórter na “Folha de São Paulo”. Depois, foi diretor de jornalismo da TV Cultura, editor-chefe dos programas “Bom dia, São Paulo” e “Globo Repórter”, da TV Globo, e participou de inúmeros programas em várias outras emissoras de TV, como Futura, TVE, SBT e Bandeirantes.

Foi um dos primeiros jornalistas a tratar a questão ambiental com a devida atenção na imprensa brasileira. Nos anos 80, criou uma produtora dedicada exclusivamente à realização de documentários, programas de TV e outros vídeos sobre temas como meio ambiente, sustentabilidade e biodiversidade.

Com o tempo, descobriu uma nova vocação: a de escrever biografias. É o autor, por exemplo, do livro “Maestro! A volta por cima de João Carlos Martins”, que inspirou o filme “João, o Maestro”, sobre um dos mais importantes regentes da música brasileira.

Foi com esta faceta de biógrafo que Ricardo Carvalho deu aquela que, provavelmente, tenha sido sua maior contribuição para o jornalismo e para a sociedade brasileira: contar, com uma impressionante riqueza de detalhes, a história de Dom Paulo Evaristo Arns.

A interminável pesquisa de Ricardo sobre a vida do arcebispo emérito de São Paulo rendeu dois livros: “O cardeal e o repórter”, publicado em 2010 e vencedor do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos; e “O cardeal da resistência”, publicado em 2013; além de um documentário: “Coragem! As muitas vidas de Dom Paulo Evaristo Arns”, lançado em 2017 e produzido em parceria com o Instituto Vladimir Herzog.

Dom Paulo Evaristo Arns e Ricardo Carvalho com o livro “O Cardeal e o Repórter”
Dom Paulo Evaristo Arns e Ricardo Carvalho com o livro “O Cardeal e o Repórter”, vencedor do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos em 2010 .

A relação com o Instituto Vladimir Herzog, no entanto, começou muito antes. Ricardo foi figura importante na criação do IVH, em 2009, e compôs o primeiro grupo de conselheiros da instituição. Mais do que isso, foi um dos idealizadores do “Resistir é Preciso”, projeto que conta a trajetória da imprensa alternativa que atuou no Brasil durante a ditadura militar e que fez com que o IVH ganhasse notoriedade e relevância nacional.

Nos últimos anos, Ricardo Carvalho era diretor da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e representava a instituição na Comissão Organizadora do Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos.

Ricardo ajudou a escrever a história do jornalismo brasileiro e nela foi inscrito. Foi um jornalista raro, com vocação para contar histórias, compromisso com o interesse público e determinação em lutar pelos direitos humanos.

Frequentemente, por sermos o país que somos, nos vemos propensos a certos esquecimentos. Ricardo Carvalho, no entanto, jamais será esquecido. Sua trajetória de vida e, principalmente, seu amor pelo jornalismo continuarão a nos inspirar a seguir lutando. Sempre!

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