01/02/2021

Rivaldo Chinem

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A pergunta feita foi: em que circunstâncias você assinou o documento? Por intermédio de quem o recebeu, onde trabalhava, que idade tinha etc.

Rivaldo Chinem

Bom, quando assinei o manifesto “Em nome da verdade” eu tinha 24 anos, trabalhava na Folha de S. Paulo, na editoria Local (ou Cidades), onde amigos como o Sérgio Gomes e outros pediram que eu assinasse o documento depois de lido. Foi o que fiz. Tenho em casa a página paga e impressa, se não me engano do Estadão. Ah, lembro que o Sérgio Gomes, com quem trabalhei na Agência Folha de Notícias, tinha sido torturado, deram-lhe um litro de desinfetante durante uma dessas horrendas sessões no Doi/Codi, o que lhe trouxe problemas intestinais. Meu colega também na Folha, para onde passei a trabalhar recomendado pelo Getúlio Bittencourt, e que tinha como diretor de redação Cláudio Abramo, foi o Paulo Sérgio Markun, também colega do Vlado, preso e torturado barbaramente pelo que me falaram.

No dia em que houve toda a confusão foi que fiquei sabendo da morte do Vlado, a quem conhecia desempregado, veja bem. Eu colaborava com o jornal Opinião e tinha na sede paulista uma senhora que fazia o papel de supersecretária do Fernando Gasparian, uma certa dona Sônia Garcia. Pois bem. Dona Sônia, sempre maravilhosa, reunia na antessala os jornalistas que ali colaboravam, como eu e o Vlado, por exemplo. Lembro que ele pedia emprego. Chegou a dirigir a sucursal paulista por um tempo. 

Reencontrei Vlado na entrada do prédio do sindicato dos jornalistas, conversamos algumas bobagens, demos uma olhada nas meninas colegas de nossa profissão e lembro que o Vlado fez algum comentário tipo “olhaí, que beleza…” Quanto ao Fernando Pacheco Jordão, eu o reencontrei em 1988 quando fui parar na revista Veja, a convite do Paulinho Moreira Leite. Éramos vizinhos de baia. O Jordão era editor-assistente de Internacional. Um colega e tanto. Varávamos dia e noite, ou melhor, emendávamos noite com o dia. Um colega nosso, filho do Emir Nogueira, Paulo Nogueira, chegou a dizer em alto e bom som que a escravidão já havia sido abolida no Brasil, mas na Veja ainda não…

Reencontrei o Jordão em uma cadeira de rodas durante lançamento de livro feito pela Lu Fernandes, se não me engano um livro do irmão do juiz do caso Herzog [O Ocaso da ditadura – Caso Herzog, de Mário Sérgio de Moraes, editora Barcarolla, 2006]. Ele me deu um grande e forte abraço. Depois falamos algumas vezes por telefone. 

Jordão era um grande colega de redação e um bom amigo. Sempre solidário, eu o consultava quando a direção da revista pedia que eu comparasse, por exemplo, uma batida de trem com a queda de um caminhão a 30 metros do solo, essas bobagens. Acho que a existência de um prêmio com o nome do Fernando [Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, instituído em 2009] só dá mais dignidade à nossa profissão.

Espero que essas boas lembranças tragam bons frutos para nossas futuras gerações.

6/9/2020.

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