O governador de São Paulo, João Dória, decidiu mudar o ouvidor das polícias do estado. E, pela primeira vez em 25 anos, quebrou o rito de escolher o mais votado da lista tríplice apresentada pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana (Condepe).
Dória escolheu o advogado Elizeu Soares Lopes – último colocado na lista tríplice – para assumir o lugar do sociólogo Benedito Mariano – primeiro colocado na votação do Condepe.
O Instituto Vladimir Herzog espera que o novo ouvidor possa dar continuidade ao trabalho de Mariano à frente da instituição, mas lamenta profundamente que, pela primeira vez em 25 anos, o escolhido pelo governador do estado não tenha sido o primeiro da lista tríplice.
Causa estranheza o fato de que Mariano foi substituído logo após a divulgação de um relatório feito pela Ouvidoria que aponta aumento de 98% nas mortes causadas por policiais da Rota, a força mais violenta da Polícia Militar (PM) paulista.
Ainda segundo este documento, a letalidade da Polícia Militar subiu 11,5% entre 2018 e 2019. Nesse mesmo período a PM foi responsável por 95% das mortes de civis.
Saudamos o agora ex-ouvidor Benedito Mariano, que teve seu período à frente da Ouvidoria marcado pelo diálogo permanente com a sociedade civil, com os membros da corporação e, acima de tudo, por uma atuação combativa e crítica frente à violência policial.
Além disso, Benedito Mariano foi capaz de garantir autonomia e independência para a Ouvidoria – características indispensáveis para a boa gestão de um órgão tão complexo e relevante como este.
Entendemos que é missão do novo ouvidor dar sequência às iniciativas que buscam promover mudanças nos protocolos de atuação e alertar sobre o aumento dos casos de morte de civis em ações da PM.