Na última segunda-feira, em encontro com empresários e políticos, Michel Temer defendeu a tese de que, em 1964, não houve no Brasil um golpe de Estado; e sim um desejo de centralização do poder. O presidente ainda apontou que, com a ditadura, “o povo se regozijou”, pois, segundo ele, o país tem uma “vocação de concentração do poder”.
É absolutamente inaceitável que o presidente da República proceda uma revisão histórica dessa natureza e tente, de alguma forma, dar uma conotação positiva ao golpe militar que instaurou uma ditadura que aterrorizou o país por mais de vinte anos.
Ao relativizar a ruptura democrática perpetrada pelos militares, o presidente certamente se esquece dos milhares de cidadãos que tiveram seus direitos políticos cassados, que se exilaram, que foram torturados e assassinados pelas forças repressivas do Exército.
Dessa forma, Temer evidencia, ainda mais, seu pequeno apreço aos valores democráticos e seu desprezo à luta de milhares de pessoas que colocaram em risco e sacrificaram as próprias vidas para que a democracia fosse reestabelecida em nosso país.
As manifestações de Temer tornam-se ainda mais alarmantes diante do atual cenário de constantes ameaças aos direitos humanos, às liberdades civis e às próprias instituições democráticas em si.
O Rio de Janeiro está, há pouco mais de um mês, submetido a uma intervenção militar que, até agora, teve como resultado o recrudescimento da violência, com a execução de uma vereadora que ousou denunciar abusos policiais, a chacina que vitimou cinco jovens estudantes e outros episódios que deixam o país em estado de permanente estarrecimento.
Como se não bastasse, um ex-presidente acaba de sofrer um atentado criminoso. Dois ônibus da caravana que Luiz Inácio Lula da Silva realiza na região Sul foram atingidos por três tiros, colocando em risco a vida não só do próprio ex-presidente, mas também de jornalistas que estão cobrindo o evento.
Nossa democracia está a perigo.
É preciso que todas as organizações e todas as pessoas que se dizem democratas se unam e formem um grande movimento em defesa da paz, da democracia e dos direitos humanos.
É o momento de repetirmos o que aconteceu em 1975, logo após Vladimir Herzog ser assassinado pela ditadura militar, quando atos ecumênicos e manifestações populares se espalharam por todo o país.
A escalada fascista subiu mais um degrau e o país precisa reagir.