Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo
Na madrugada de 3 de abril de 1964, três dias após o golpe militar, policiais do Departamento de Ordem Política e Social invadiam, sem ordem judicial, um apartamento no bairro do Flamengo, no Rio, e capturavam um grupo de estrangeiros. As torturas começaram ali mesmo. Horas depois, os homens da polícia política entravam em outro prédio, no Catete, e detinham mais pessoas. No fim do dia, nove chineses estavam presos, identificados como agentes internacionais instalados no Brasil para disseminar a revolução comunista.
Na verdade, os chineses detidos viviam legalmente no país. Dois eram jornalistas, quatro vieram montar uma feira de produtos da China e os demais estavam no país para comprar algodão. Os estrangeiros tornaram-se vítimas da paranoia anticomunista da época, alimentada pelo governador Carlos Lacerda. Foram condenados a dez anos de prisão por subversão, e, após mais de um ano detidos, acabaram expulsos. O Brasil nunca pediu desculpas nem devolveu o dinheiro apreendido com o grupo – um valor que hoje ultrapassa R$ 800 mil. Em seu país, eles se tornaram heróis nacionais e ficaram conhecidos como Nove Estrelas ou Nove Corações Vermelhos voltados para a Pátria. Brasil e China estabeleceram relações diplomáticas 10 anos depois, em 1974, mas o incidente ficou esquecido em arquivos secretos.
Os jornalistas Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo relatam o episódio no livro O caso dos noves chineses, 50 anos depois do ocorrido, e revelam os detalhes do primeiro escândalo internacional de violação dos direitos humanos da ditadura militar brasileira. Com base em documentos inéditos, entrevistas exclusivas, depoimento de um dos sobreviventes e ampla pesquisa, os autores reconstituem um episódio marcante da história recente do Brasil.
Em 1961, o vice-presidente João Goulart tornou-se o primeiro líder latino-americano a visitar a China comunista. Como consequência da viagem, foi assinado um acordo que resultou na vinda de nove chineses ao Brasil. A prisão dos orientais, em 1964, serviu como uma das justificativas para o regime militar implantar o Ato Institucional nº 1 e interrompeu o diálogo entre os dois países, que só foi retomado 10 anos depois, por iniciativa do presidente Ernesto Geisel.
Nas conversas entre o presidente e o seu chanceler Azeredo da Silveira, o caso aparecia com um “contencioso jurídico” que deveria ser resolvido para que a reaproximação pudesse ser completa. O estabelecimento das relações diplomáticas foi assinado em 15 de agosto de 1974, mas o assunto ficou em aberto. Na ocasião, os chineses deixaram com o Brasil a decisão de resolver a pendência.
Cinquenta anos depois da prisão e no aniversário de 40 anos daquele acordo histórico, ambos os países passaram por mudanças profundas. A China se transformou na segunda maior economia do mundo e o Brasil vive uma democracia. A história dos nove chineses, porém, permaneceu sem solução durante todo esse tempo.
Sobre os autores:
Ciça Guedes é jornalista e economista. Ao longo de 25 anos de profissão, trabalhou em O Dia, Folha de S.Paulo, Globo News, O Globo, e no departamento de comunicação de empresas como Banco do Brasil e Vale. Na Vale, coordenou a equipe que produziu o livro Nossa História, sobre os 70 anos da empresa, comemorados em 2012, e o roteiro do filme de mesmo nome, assim como o livro e o documentário sobre os 40 anos de relacionamento da Vale com a China, celebrados em 2013. Desde 2013, é secretária de Comunicação da prefeitura de Macaé, no Rio de Janeiro.
Murilo Fiuza de Melo é jornalista e historiador. Trabalhou por 14 anos em veículos da imprensa, entre eles Jornal do Brasil, Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo, atuando, basicamente, nas áreas de Economia e Política. No JB, escreveu diversas reportagens sobre o golpe militar, entre as quais Ditadura condenou torturadores, publicada em 25 de maio de 1997, na qual revelava o caso inédito de quatro soldados torturados e mortos dentro do Batalhão de Infantaria Blindada de Barra Mansa (RJ), em janeiro de 1972.
Título: O caso dos nove chineses
Autor: Ciça Guedes e Murilo Fiúza de Melo
Selo: Objetiva
Preço: R$ 39,90
Páginas: 254
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