11/12/2018

Heroínas dessa História: mulheres e a memória dos mortos pela ditadura militar

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No próximo dia 15, sábado, projeto realiza roda de conversa com a militante Criméia Schmidt de Almeida na Unibes Cultural

 

No próximo sábado, dia 15 de dezembro, o Instituto Vladimir Herzog realiza mais uma roda de conversa Heroínas dessa História, desta vez com a histórica militante política Criméia Schmidt de Almeida, que há anos trabalha na Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Realizado na Unibes Cultural, a partir de 10h30, o evento promoverá um diálogo sobre as mulheres que tiveram familiares mortos pelas mãos dos agentes da ditadura militar e fizeram de suas vidas uma permanente luta por Memória, Verdade e Justiça. As mediadoras da mesa serão as coordenadoras do projeto, Carla Borges e Tatiana Merlino.

O objetivo do encontro é democratizar as informações levantadas pelo Heroínas, uma série de publicações que apresentará a trajetória destas corajosas mulheres, contando suas histórias e estimulando a reflexão sobre a questão de gênero e as violências de Estado do passado e do presente. A primeira edição, ainda em produção, abordará quinze, entre de mais de setenta histórias mapeadas em um levantamento inicial. Os perfis tocam em diferentes aspectos da ditadura militar brasileira e abrangem as diversas regiões do país, retratando um mosaico de resistências cotidianas.

Durante a ditadura militar brasileira, as mulheres atuaram em diversas frentes na resistência ao regime e na luta por democracia. É notável seu protagonismo na mobilização pela anistia política e também nos diferentes movimentos que se organizaram para fazer face aos desmandos do período. Nesses percursos, sofreram toda sorte de violações, invariavelmente associadas e agravadas pelo fato de serem mulheres. No entanto, embora recentes iniciativas tenham procurado lançar luz sobre a questão de gênero e a resistência à ditadura militar, pouco ou quase nada se fala sobre as mães, esposas, filhas, irmãs e amigas daqueles e daquelas que morreram nas mãos dos agentes da repressão, nem de sua batalha para manter viva a sua memória e exigir do Estado as respostas devidas até hoje.

De Carolina Rewaptu, cacique Marawatsede que se motiva a formar-se professora para aprender e ensinar sobre a perseguição sofrida por seus parentes no Mato Grosso, a Ana Dias, liderança da Zona Sul paulistana que mobilizou mulheres na luta por direitos e grande responsável por manter viva a memória do operário Santo Dias. De Zuzu Angel, reconhecida estilista que morre buscando o filho desaparecido, a Elizabeth Teixeira, militante das Ligas Camponesas e companheira de João Pedro Teixeira, também assassinado. Enfim, tantas mulheres que a exemplo de Clarice Herzog, não desistiram de buscar e cobrar as respostas devidas pelo Estado brasileiro.

A atuação destas mulheres tem contribuído para o ainda incompleto processo de transição para a democracia e criou importantes referências na luta por justiça para os crimes cometidos. Essas trajetórias fazem parte da nossa história. São posturas inspiradoras e servem como um incentivo para que todos nós, sobretudo as mulheres de todas as idades e das mais diversas origens, se sintam encorajadas a seguir em suas batalhas diárias por igualdade e por direitos. Contribuem também para compreender, a partir de vivências e relatos, a importância do protagonismo feminino na construção da nação e no fortalecimento da democracia. Conhecê-las é fundamental para preencher os espaços em branco gerados pela violência de Estado e para não deixar que essas violações voltem a acontecer. E também, por fim, para reparar, minimamente, o lapso histórico e reiterado de deixar de dedicar-lhes o devido reconhecimento por defenderem o direito de todos nós à memória, à verdade e à justiça.

O Heroínas dessa História é uma realização do Instituto Vladimir Herzog, com apoio da Editora Autêntica e patrocínio da Klabin e Caixa – Governo Federal.

 

Biografias 

Carla Borges | coordenadora do projeto Heroínas dessa História, é ​formada em Relações Internacionais (UnB) e Mestre em Educação (USP). Trabalhou no Escritório da UNESCO em Genebra e no Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em Brasília e na Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão do Ministério da Educação. Foi chefe de Gabinete do Secretário Executivo da Secretaria-Geral da Presidência da República e Coordenadora de Políticas de Direito à Memória e à Verdade da Secretaria de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo na gestão Haddad.

 

Criméia Schmidt de Almeida | histórica militante política, é uma das mulheres que serão perfiladas no projeto Heroínas dessa História. Foi companheira de Andre Grabois, um dos comandantes da guerrilha do Araguaia, desaparecido em 14 de outubro de 1973. Militante do PCdoB, em dezembro de 1972, quando estava com cerca de seis meses e meio de gravidez, foi sequestrada e levada para a Operação Bandeirante (Oban), junto com os sobrinhos, onde foi torturada. Seu filho, João Carlos, nasceu, no Hospital da Guarnição do Exército e seu companheiro não pode conhecê-lo. Desde então é militante da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos. Em 2005, Crimeia e seus familiares moveram uma ação declaratória contra o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi naquela época, responsabilizando-o pelas torturas sofridas. Três anos depois, a Justiça de São Paulo acatou a ação, e Ustra se tornou o primeiro agente da ditadura a ser declarado torturador.

 

Tatiana Merlino |​ coordenadora do projeto Heroínas dessa História, é jornalista com enfoque em direitos humanos. Foi editora da edição online da revista Carta Capital, editora executiva e repórter da revista Caros Amigos; editora e repórter no Jornal Brasil de Fato. Foi fundadora do canal de comunicação Ponte Jornalismo, onde atuou como repórter e editora; e também da Agência Pública, de jornalismo investigativo. Trabalhou na Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva” entre 2012 e 2015. É coeditora do livro Luta, substantivo feminino – Mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à Ditadura; organizadora e editora do livro Infância Roubada – Crianças atingidas pela Ditadura Militar no Brasil (Comissão da Verdade do Estado de São Paulo, 2014). Em março de 2015 foi homenageada pela Comissão de Anistia por seu trabalho em defesa dos direitos das mulheres e na reconstrução da memória histórica e esclarecimento da verdade de fatos ocorridos durante o período ditatorial no Brasil.

 

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SERVIÇO
Roda de Conversa – Heroínas dessa História 
Data: 15 de dezembro – 10h30 às 13h00
Local: Unibes Cultural
Rua Oscar Freire, nº 2500, ao lado do metrô Sumaré 
Entrada aberta e gratuita.

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