Croqui em tons de verde e roxo do Auditório Vladimir Herzog
21/07/2022

Na ditadura, Auditório Vladimir Herzog foi trincheira da resistência contra a repressão

Compartilhar:

Por Gabriela Teixeira

Criado para representar os direitos e interesses dos jornalistas paulistas, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) foi fundado em 15 de abril de 1937 e, atualmente, conta com 8 regionais espalhadas pelo estado, além da sede na capital. É nesta última, localizada no bairro República, que fica o Auditório Vladimir Herzog.

A decisão por assim nomeá-lo foi tomada no dia 27 de outubro de 1975, horas depois do enterro de Vlado no Cemitério Israelita do Butantã. Naquela noite de segunda-feira, o prédio do Sindicato estava apinhado não apenas por jornalistas, mas também artistas, parlamentares, estudantes e sindicalistas de outras categorias. Todos reunidos para saber quais seriam os próximos passos da diretoria sindical em relação às prisões ilegais de jornalistas e, sobretudo, à morte de Herzog.

Em meio aos clamores por ações mais incisivas e gritos de “Vamos pra rua!”, surgiram duas propostas, rapidamente aprovadas em consenso: batizar o espaço onde a reunião acontecia em homenagem a Vlado e realizar um culto ecumênico em sua memória, ideia concretizada quatro dias depois em um ato inter-religioso que levou cerca de 8 mil pessoas à Praça da Sé e marcou a retomada democrática. Mas, para alguns dos presentes na reunião do dia 27, aquelas iniciativas e o comunicado que a diretoria do Sindicato pretendia publicar demandando das Forças Armadas a responsabilidade pela integridade dos colegas detidos e maiores esclarecimentos sobre o assassinato de Vlado ainda não eram o bastante.

Presidente do SJSP na época, Audálio Dantas se recorda em seu livro As duas guerras de Vlado de como precisou manter a serenidade diante dos ânimos exaltados dos demais, ciente de que qualquer movimento precipitado poderia dar aos militares da linha-dura o pretexto de que precisavam para realizar uma onda de repressão sem precedentes. “Eu tinha claro que era preciso manter a linha de atuação do Sindicato, que rapidamente ia se transformando numa importante trincheira, espaço para uma reação organizada contra a repressão”, escreveu.

Foi também desta trincheira que o manifesto Em nome da verdade foi encaminhado à Justiça Militar, em janeiro de 1976. O documento, que analisava as conclusões do Inquérito Policial-Militar instaurado para averiguar as circunstâncias da morte de Herzog, apresentava também um abaixo-assinado com 467 assinaturas de jornalistas quando foi enviado ao juiz-auditor. Posteriormente, quando todas as adesões foram contabilizadas, o número total de assinaturas do manifesto subiu para 1.006. 

Uma contestação inédita da versão oficial do caso, o Em nome da verdade é descrito por Fernando Pacheco Jordão como uma manifestação legitimada pela dor e que, mais uma vez, colocava os jornalistas na vanguarda da atuação política. “A nenhum dos que assinavam escapava o sentido político da iniciativa. […] Todos sabiam, portanto, que seus nomes seriam publicados e, por isso, expostos a eventuais represálias. Mesmo assim, eram poucos os omissos que invocaram os mais variados pretextos para não assinar”, relatou o jornalista no Dossiê Herzog.

Nos últimos 47 anos, o Auditório foi palco de inúmeros outros momentos marcantes da história do jornalismo brasileiro. Entre os mais recentes, destaca-se o adeus a Audálio Dantas, falecido em 30 de maio de 2018, aos 88 anos. Tal qual em 1975, a sede do Sindicato foi lotada por quem via no jornalista uma referência de luta por direitos, democracia e liberdade. Vlado e Audálio podem ter partido, mas na trincheira dos resistentes, seus legados seguem vivos.

Este texto faz parte da campanha “85 anos Vladimir Herzog: espaços de memória”. Pensada para celebrar a vida e a obra de Vlado, a ação enaltece lugares de memória que levam seu nome na capital paulista. A campanha, que recebe apoio do Itaú Cultural, também convida o público a conhecer mais sobre Vlado no Acervo Vladimir Herzog e inicia um mapeamento dos lugares de memória que levam seu nome em todo o Brasil. Se você conhece um lugar/espaço com o nome de Vladimir Herzog, envie as informações para o IVH neste formulário.

Compartilhar:

Pular para o conteúdo