Policial pegou celular do repórter do SBT e jogou no chão. Comando disse que vai apurar conduta do policial.
Uma equipe de reportagem do SBT Interior, que cobre a região noroeste paulista, foi agredida por um policial militar durante uma audiência na Justiça de um caso que levou políticos de Urânia (SP) à prisão.
A audiência era para testemunhas de acusação, inclusive policiais federais, contarem à Justiça sobre as investigações de desvios de verbas federais feitas pelo ex-prefeito de Urânia Francisco Airton Saracuza.
Saracuza e funcionários de confiança da prefeitura foram presos no início desse ano depois que os agentes descobriram a falta de dinheiro dos cofres da prefeitura.
Nesta terça-feira (1º), na primeira audiência do caso, um policial que fazia a escolta dos réus na chegada ao Fórum impediu que o repórter cinematográfico fizesse imagens, na rua, da chegada do carro da polícia. O PM ficou o tempo todo segurando o equipamento do cinegrafista.
Com o cinegrafista impedido pelo policial, o repórter, então, começou a filmar pelo celular. O PM pegou o celular dele e jogou no chão. O aparelho quebrou.
A Polícia Militar publicou uma nota dizendo que havia uma ordem verbal da Justiça para que a PM impedisse que a imprensa fizesse imagens no local e que a rua estava interditada.
A interdição foi feita por um único cavalete no meio da rua. O comando disse ainda que vai apurar a conduta do policial.
Repúdio à imprensa
O SBT Interior disse que repudia qualquer ato violento que interfira na liberdade de imprensa de qualquer veículo de comunicação.
Já a Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) emitiu nota considerando inaceitável que profissionais de comunicação sejam agredidos e intimidados por policiais militares durante cobertura jornalística e pede às autoridades uma rigorosa apuração dos fatos.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) publicou nota dizendo que lamenta o ocorrido, que condena a atitude do policial e que a violência contra jornalistas é também um atentado ao direito à informação.
Sentimento de impotência
“Estou indignado. Em dez anos de profissão nunca passei por isso. O sentimento é de impotência”. Assim o repórter Márcio Adalto desabafou nas redes sociais sobre o episódio em que teve o celular quebrado.
Adalto contou ao Portal G1, nesta quinta-feira, que ele e o cinegrafista Ever Centurion eram os únicos da imprensa no Fórum para fazer a cobertura da audiência e que em nenhum momento ninguém os alertou sobre a proibição de filmagens ou entrevistas: “Quando chegamos havia dois cavaletes que impediam o trânsito de veículos, mas nenhuma faixa que impedisse a passagem de pessoas ou aviso que não poderíamos estar ali. Além disso, antes do ocorrido, entrevistamos o advogado de defesa e fizemos imagens da fachada. Os policiais estavam lá, eu os cumprimentei, eles viram a gente gravando e não falaram nada”.
O repórter diz que não recebeu nenhuma notificação por escrito da Justiça nem da Polícia Militar. “Se tivesse alguma proibição formal eles teriam nos impedido antes, mas só quando chegou a viatura que carrega presos é que, do nada, veio o sargento dizendo que não podia fazer imagens”, lembra.
Ele diz que o policial segurou a câmera do cinegrafista e sua reação foi filmar com celular. “No ímpeto peguei meu celular para gravar o flagrante, aquele abuso. Comecei a gravar e foi aí que tudo aconteceu. Foi muito rápido, questão de 10 segundos, difícil descrever com palavras, mas fiquei indignado demais. A calma do cinegrafista me trouxe uma calma que não tenho, caso contrário poderia estar preso, com certeza.”
Adalto agradeceu a solidariedade da imprensa, dos órgãos ligados a ela e aos colegas de profissão. “Agradeço aos colegas de profissão que repudiaram o ato, em especial aos amigos da imprensa de Santa Fé do Sul, Brasília, e ao importante gesto da TV TEM. Essa união é o que nos motiva a prosseguir. Sempre”, escreveu.