Biografia de Camilo Vannuchi retrata a trajetória de Dom Angélico Sândalo Bernardino, um dos maiores nomes da igreja progressista, cuja coragem e compromisso com a justiça social marcaram as décadas de 1970 e 1980
A Autêntica Editora e o Instituto Vladimir Herzog lançam, em outubro, Dom Angélico: Um abraço de quebrar os ossos, de Camilo Vannuchi. Esta biografia detalha a vida de Angélico Sândalo Bernardino, um dos maiores nomes da igreja progressista e da resistência à ditadura militar no Brasil. O livro oferece um olhar profundo sobre sua atuação nas décadas de 1970 e 1980, momentos críticos de confrontos intensos entre o regime militar e as camadas populares, especialmente nas periferias de São Paulo.
Dom Angélico nasceu em 19 de janeiro de 1933, em Saltinho, no interior de São Paulo. Ele foi bispo auxiliar em São Miguel Paulista e na Vila Brasilândia, regiões que faziam parte da Arquidiocese então comandada pelo Cardeal Paulo Evaristo Arns. Foi também foi bispo de Blumenau (SC). Sua trajetória o tornou uma figura central na luta pela justiça social e pela defesa dos direitos humanos.
O texto de orelha, escrito pelo Padre Júlio Lancellotti, descreve Dom Angélico como “um bispo desconcertante, comprometido com os princípios do Evangelho e intransigente na defesa dos direitos humanos, dono de uma firmeza ímpar e disposto a se manifestar sobre temas que os outros bispos preferiam evitar”. Sua postura sempre foi de coragem e de firmeza.
Além de seu trabalho pastoral, Dom Angélico foi um fervoroso ativista político, com forte envolvimento nos movimentos sociais da época. Ele não se limitou a apoiar os mais pobres; se tornou um dos defensores mais ativos dos direitos humanos, se destacando em ações concretas de resistência contra o regime militar. Entre essas ações, destaca-se sua participação na luta operária, na mobilização por moradia e saneamento básico, e em outros movimentos populares, sempre buscando melhores condições de vida para as populações periféricas.
Entre os episódios mais emblemáticos, destaca-se sua famosa atitude de sentar-se nos trilhos do trem em 1977, após a tragédia em Arruda Alvim, quando exigiu das autoridades medidas de segurança para evitar novos acidentes. Sua postura frente à morte de Santo Dias, operário assassinado pela polícia em 1979, é outro exemplo de sua coragem e compromisso com a justiça. Ele não hesitou em se posicionar publicamente, denunciando a repressão e mobilizando a comunidade para lutar por direitos fundamentais.
A biografia também resgata a atuação de Dom Angélico como jornalista. Ele foi pioneiro ao usar a mídia para denunciar as injustiças sociais e políticas do Brasil, combatendo a censura e a violência da ditadura militar. Sua produção jornalística foi uma das formas que encontrou para dar voz aos oprimidos e questionar o regime.
Dom Angélico não viu o livro pronto: sua morte chegou em 15 de abril de 2025, aos 92 anos. Sobre ele, escreveu o presidente Lula, em nota distribuída à imprensa e publicada nas redes sociais. “Guardo as lembranças do grande amigo que fez da ternura e da bondade os princípios que guiaram sua vida. ‘Amai-vos, e não armai-vos’, era sua lição para todos nós”.
50 Anos por Vlado
O lançamento de Dom Angélico: Um abraço de quebrar os ossos está inserido na campanha 50 anos por Vlado, realizada pelo Instituto Vladimir Herzog para lembrar os 50 anos do assassinato de Vladimir Herzog pela ditadura militar. O projeto inclui diversas ações, entre elas a recriação do emblemático ato inter-religioso realizado em 1975 na Catedral da Sé, em São Paulo, com a participação de Dom Angélico e outras importantes lideranças religiosas, e que reuniu 8 mil pessoas em um forte protesto contra a repressão do regime militar, tornando-se um símbolo da luta pela redemocratização do Brasil.
Em 25 de outubro de 2025, cinquenta anos depois, o evento será recriado na mesma Catedral da Sé, e será dedicado não só à memória de Herzog, mas também a todas as vítimas da ditadura militar. A programação incluirá manifestações inter-religiosas, apresentações culturais e vídeos, incluindo a leitura da carta de Zora Herzog, mãe de Vlado, feita pela atriz Fernanda Montenegro. Estarão presentes no evento ainda amigos e familiares de Vlado, parlamentares, ministros, figuras públicas e José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça, representando as organizações realizadoras.
Sobre o autor
Camilo Vannuchi é jornalista e escritor, mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela USP. Foi membro da Comissão da Verdade da Prefeitura de São Paulo e secretário municipal de Cultura de Diadema (SP). É autor de biografias como “Marisa Letícia Lula da Silva” (Ed. Alameda) e “Eu só disse meu nome” (Ed. Discurso Direto), entre outras.
Clique aqui e conheça o catálogo completo da Autêntica Editora.
ASSESSORIA DE IMPRENSA GRUPO AUTÊNTICANúdia Fusco | [email protected] | (31) 98707-7095