Grupos participantes da Usina de Valores estão elaborando Planos de Bairro, promovendo mutirões, construindo hortas orgânicas e dialogando com lideranças políticas para enfrentar desafios coletivos identificados no processo formativo
Lideranças locais participantes do processo formativo da Usina de Valores realizam articulações e mobilizações em torno de problemas identificados coletivamente em comunidades de 16 periferias urbanas – em Recife (PE), Belo Horizonte (MG), São Paulo (SP), Guarulhos (SP), Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES) e Vale do Itajaí (SC).
No processo formativo de educação popular em direitos humanos, cada território debate e reivindica ações ao redor de temas emergentes em suas comunidades, como saúde pública e coletiva, crise climática, condições de habitação e planejamento urbano, buscando construir soluções coletivas.
Trata-se de iniciativa educativa do Instituto Vladimir Herzog realizada em parceria com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania e apoio de organizações locais em cada território, com objetivo de fortalecer o engajamento comunitário e apoiar iniciativas de luta por direitos em territórios periféricos.
Ao longo do processo formativo mediado por educadores territoriais no primeiro semestre de 2025, participantes compartilharam vivências e saberes sobre suas comunidades, articularam-se coletivamente e planejaram ações para seus territórios. As mobilizações se dão em torno de problemas identificados coletivamente.
As experiências com a metodologia ganharam diferentes formas nas comunidades: mutirões, rodas de conversa com moradores, caminhadas por diferentes bairros, reuniões para o desenvolvimento de Planos de Bairro e criação de fóruns.
Enquanto as ações coletivas são mobilizadas, entre os dias 27 e 29 de agosto, representantes dos diferentes grupos se reuniram em Brasília no Seminário Nacional Usina de Valores: Educação Popular em Direitos Humanos, realizado pelo Instituto Vladimir Herzog. A partir das vivências das mobilizações nos territórios, o Seminário produziu compromissos coletivos e reivindicações ao poder público para ampliar e fortalecer a educação popular em direitos humanos.
Abaixo, saiba mais sobre as mobilizações construídas em cada território a partir do processo de educação popular em direitos humanos.
Criação de Fórum da Quebrada fortalece integração cultural e educativa na zona leste de São Paulo
Na Vila Santa Inês, zona leste de São Paulo (SP), participantes estão construindo o Fórum da Quebrada reunindo representantes de entidades artísticas, educativas e culturais do território. A iniciativa também deve integrar lideranças da União e do Jardim La Penna.
A criação do Fórum foi motivada pela falta de visibilidade das atividades educativas, culturais e artísticas locais. Através de coletas e análises de dados, além de uma devolutiva para a comunidade, os participantes articularam um plano de ação para fortalecer a integração e ampliar a presença dessas iniciativas no território.


Este processo acontece na Vila Santa Inês em parceria com Varre Vila, organização local que realiza ações de educação ambiental e limpeza urbana.
Na zona leste de São Paulo (SP), o processo formativo também acontece em São Mateus, em parceria com a organização São Mateus em Movimento. Lá, os participantes discutem sobre os problemas e potencialidades identificados no território em mapeamentos e levantamentos já realizados nos encontros iniciais.
Zona norte de São Paulo: Plano de Bairro e fortalecimento comunitário
Na zona norte de São Paulo, moradores da Parada de Taipas reunidos pela parceria do Instituto Vladimir Herzog com o Instituto Esperança Garcia estão desenvolvendo um Plano de Bairro com propostas para ampliar a pavimentação das ruas. Em um encontro realizado no Instituto Esperança Garcia, participantes mapearam as vias sem pavimentação com o apoio de Ionilton Aragão e Ermelino Matarazzo, especialistas com ampla atuação e conhecimento sobre o território.
A iniciativa parte da compreensão de que a melhoria das vias pode ampliar a oferta de serviços, como novos pontos de parada para o transporte público. Para o grupo, o Plano de Bairro é um instrumento de fortalecimento e mobilização permanente, inspirado na experiência do Jardim La Penna, na zona leste de São Paulo.



Na Casa de Cultura Hip Hop Jaçanã, outro grupo busca formular ações para fortalecer o espaço de formação e mobilização local. Reconhecido como um ponto de participação comunitária, o local abriga conselhos, fóruns regionais e coletivos. Durante os encontros, identificou-se que o desconhecimento da comunidade sobre o espaço aumentava as vulnerabilidades, reforçando a necessidade de ampliar a divulgação e o engajamento dos moradores.
Iniciativas mobilizam ações de cuidado e bem-viver em Guarulhos
Na região central de Guarulhos, as mulheres do Bloco Maria Sapatão realizaram uma roda de samba e conversa sobre saúde mental de professoras na sede do Sindicato Apeoesp. O encontro aconteceu após o grupo identificar a falta de iniciativas de cuidado da saúde mental de professoras a partir de diálogos com profissionais da educação, conversas com especialistas e visitas a escolas. Agora, planejam atividades buscando oferecer acolhimento e fortalecer a rede de apoio para as professoras da cidade.


No bairro dos Pimentas, o grupo reunido pelo Coletivo Raiz promoveu um mutirão de limpeza, manutenção e construção de horta orgânica em parceria com o Quintal do Campus, da UNIFESP. A ação surgiu da percepção da escassez de espaços e iniciativas voltados ao cuidado do meio ambiente, preservação ambiental e promoção da soberania alimentar no bairro. O dia contou com oficinas de lambe-lambe, roda de capoeira, refeição comunitária no fogão de lei e o plantio de frutíferas.
No final de agosto, o grupo voltou ao espaço para um novo mutirão, desta vez com roda de pagode e samba, novas oficinas e atividades de plantio, buscando aproximar ainda mais os moradores e transformar o local em um ponto de encontro, aprendizado e mobilização comunitária. Para eles, ocupar e cultivar o espaço é também projetar um lugar de futuro.




Grupos de Belo Horizonte se organizam para levar reivindicações locais ao poder público
Em Belo Horizonte, dois grupos realizam o percurso formativo e estão mobilizando encontros com autoridades locais, representantes políticos e participantes de movimentos para enfrentar os problemas identificados no território: as condições de habitação e a falta de medicamentos nos postos de saúde.
Em uma visita à Vila Maria, um dos grupos, organizados em torno da Articulação Brasileira pela Economia de Francisco e Clara, realizou uma caminhada e se reuniu na varanda da Dona Rosângela, moradora da região, para um momento de troca e reflexão sobre os problemas cotidianos de moradia. Entre os relatos, a presença ostensiva da polícia na remoção forçada de famílias, a resistência dos comerciantes locais que dificultaram a construção das casas, os impactos das chuvas no acesso das crianças à escola e a falta de serviços básicos – os moradores não têm acesso regularizado à energia elétrica (Cemig) nem ao abastecimento de água (Copasa).

Também em Belo Horizonte, após identificar o problema da falta de medicamentos nos postos de saúde, outro grupo, este mobilizado pela parceria com a Coletiva Mulheres da Quebrada, realizou trocas sobre acesso à saúde pública, como consultas, exames, medicamentos e atendimentos especializados. As discussões promoveram uma reflexão conjunta sobre ações possíveis de serem tomadas coletivamente — desde acionar os canais de ouvidoria e fortalecer o diálogo com os profissionais da unidade até organizar mobilizações para cobrar melhorias. Ao final, buscaram acionar o vereador eleito pela comunidade e buscar os canais de atendimento da prefeitura para estabelecer um diálogo com o poder público.
Jovens de Recife organizam ações coletivas para enfrentar a falta de informação sobre riscos ambientais e gestão do lixo
Em Recife, jovens dos bairros do Ibura e da comunidade do Coque realizaram ações coletivas e circularam espaços públicos dos territórios para ampliar o acesso à informação sobre riscos ambientais e gestão do lixo. Os dois grupos são formados com o apoio do Massapê, entidade que atua desde 2016 para conectar pessoas em torno da transformação das cidades em lugares melhores para todos/as.
No Ibura, jovens realizaram uma ação de grafitagem em uma escultura feita com reutilização de latas, instalada na Praça dos Taxistas, em frente ao Compaz Paulo Freire. A peça foi construída pelo coletivo e está sendo instalada com apoio do Gabinete de Renovação Urbana. Durante a instalação, o grupo fez a pintura artística da obra.
A programação inclui abertura com apresentação de brega funk, seguida por um slam de poesia e a roda de conversa sobre justiça climática, com convidados do Ibura e coletivos locais para debater iniciativas territoriais.

A atividade integra as ações do coletivo 8ou80, criado a partir dos encontros da Usina de Valores com jovens do bairro em 2024. O grupo articula ações para informar moradores sobre os riscos das áreas de encosta — formações presentes no território que sofrem com deslizamentos durante o período de chuvas. Entre suas estratégias estão o uso de ferramentas de mapeamento popular, comunicação comunitária, mobilização social e produção cidadã de dados.
Na comunidade do Coque, jovens identificaram a falta de informação acessível sobre saneamento básico e gestão de resíduos e estão elaborando propostas focadas na produção de dados e no compartilhamento de informações com a população. O grupo realizou mobilizações em turmas do ensino fundamental de escolas da região e registrou, por meio de fotografias, pontos de acúmulo de lixo, compondo um mapeamento das áreas viciadas.

Ambos os grupos estão articulando estratégias similares para construir suas atuações de impacto: atrair público e fortalecer redes, investigar a partir da escuta e comunicar através da criação de canais e conteúdos de comunicação para dialogar com a comunidade sobre os riscos, os cuidados com o território e as ações coletivas.
Jovens aprendizes do Instituto Gênesis enfrentam questões de saúde pública nas ruas com arte e ação coletiva
Em Vitória, dois grupos são formados com jovens aprendizes que fazem formação no Instituto Gênesis. Em um dos grupos, 32 jovens realizaram oficinas de mural, cartazes, fotografia e poesia slam para refletir sobre o descarte irregular de resíduos no território. Agora, eles devem realizar uma ação junto de uma turma de biologia do ensino fundamental para o desenvolvimento de uma composteira.

Outro grupo, com 29 participantes, identificou a ineficiência de um posto de pronto-atendimento no bairro e trabalham na construção de um plano de ação para o território, depois de realizar diversas atividades para ampliar as reflexões sobre as violações do direito à saúde, como cinedebate, oficinas de podcast, mapa do território e rima. Como parte do processo, os jovens planejam diálogos em escolas do bairro.
Estudantes do Ensino Médio e EJA discutem saneamento básico na Rocinha
Na Rocinha, estudantes do Ensino Médio e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) identificaram o problema de saneamento básico através das trocas de vivências e saberes no percurso formativo, que acontece no território em parceria com o Museu Sankofa. Através do resgate e compartilhamento das memórias ligadas à água, as turmas foram sensibilizadas sobre direitos humanos e estão pensando soluções coletivas para o problema.

Entre os encontros, as discussões têm sido inspiradas pelo livro Rocinha: um percurso histórico por imagens (Selo InterSeções, Editora PUC-Rio), organizado também por integrantes do coletivo. O grupo está preparando uma ocupação no museu da escola durante a Semana Cultural, ocasião em que lançarão o livro, farão a doação simbólica de um exemplar e promoverão uma roda de conversa com atores locais.
O grupo foi formado em julho a partir de articulações com lideranças locais, coordenação e direção do Centro Integrado de Educação Pública (CIEP) Ayrton Senna. O encontro de abertura das atividades do grupo na escola contou com a presença da equipe central do Instituto Vladimir Herzog, de São Paulo, que apoiou em reflexões sobre os direitos humanos.
Imigrantes reivindicam políticas de moradia popular no Vale do Itajaí
No Vale do Itajaí, imigrantes organizados pela OSIDIBR (Organização Solidária pela Integração e Desenvolvimento dos Imigrantes no Brasil) participaram do Grito dos Excluídos e Excluídas, organizado na região pelo movimento Blumenau pela Vida, para reivindicar políticas de moradia popular. Vindos de diferentes bairros de Blumenau, identificaram a alta dos preços dos aluguéis como uma questão concreta que atravessava todas as vivências.
A cidade possui uma escassez de políticas habitacionais. Entre as questões levantadas pelos participantes, está o imbróglio da construção de 176 apartamentos do Minha Casa Minha Vida. O governo federal havia destinado R$ 29 milhões para as obras, ficando a cargo da prefeitura a realização da licitação. No entanto, mesmo após seis chamamentos públicos ao longo de 2024, nenhuma empresa demonstrou interesse em executar o serviço.

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