Da mesma edição do semanário extraímos pontos principais do trabalho “Considerações Gerais sobre a TV-Cultura “, que Vlado preparou:
– Jornalismo em rádio e TV deve ser encarado como instrumento de diálogo, e não como um monólogo paternalista. Para isso, é preciso que espelhe os problemas, esperanças, tristezas, e angústias das pessoas ás quais se dirige.
– Um telejornal de emissora do governo também pode ser um bom jornal e, para isso, não é preciso “esquecer” que se trata de emissora do governo. Basta não adotar uma atitude servil.
– Vale a pena partir para uma “jornalistização” da programação da TV-2: mais documentários semanais ou mensais, debates misturados com reporta’ Bens, programas-pesquisa.
– É preciso dotar o setor de jornalismo de recursos técnicos, financeiros e profissionais, para que alimente não só um telejornal diário, mas toda uma gama de programas, direta ou indiretamente, necessitados de trabalhos jornalísticos.
Entre as sugestões para reformular a estação, Vlado alinhava duas medidas urgentes:
“Criação de um Departamento de Publicidade e Promoção, integrado por profissionais de comprovada competência e que acreditem no papel e nos objetivos da Fundação. O setor levaria informações a outros veículos (jornais, revistas) sobre a nossa programação, estimulando e controlando a sua divulgação. Isso integraria as emissoras da Fundação no contexto dos “mass media” paulista e nacional, afastando assim uma das cortinas de sigilosidade que afastam a público. Por que deixar de divulgar programas exclusivos, reportagens especiais? Nesse setor, deve-se investir seriamente em material humano. Do contrário, acabará como simples serviço de relações públicas.
– Busca de uma “nova imagem” junto ao público. Por defeito de origem, as emissoras da Fundação agridem o público a partir das próprias denominações. Nos Estados Unidos, o canal educativo é chamado “public tetevision”, denominação menos pomposa e agressiva do que “cultural” ou, o que é pior, “educativa”. Mas, se o nome não pode ser mudado, a “imagem” certamente pode. A imagem é derivada da programação como um todo, isto é, é inútil querer “melhorar” este ou aquele programa. É preciso garantir uma média de qualidade e interesse, que reconquiste a confiança do telespectador quando gira o botão para o Canal 2. Ai, então, será preciso cuidar do problema do horário. Pouco adiantará inverter rios de dinheiro num programa, se este for lançado em horário infeliz. A consideração é válida também quando se considera a programação como um todo. Tem sentido querer atrair audiência para um telejornal, se ele for ao ar após uma exaustiva aula de Inglês? Afinal, até os especialistas da Globo reconhecem que os altos índices de audiência do Jornal Nacional se devem ao fato de vir “ensanduichado” entre duas novelas do horário nobre.
– A nova imagem não irá depender de um passe de mágica. Virá de dentro do público, que descobrirá, de repente, que o Canal 2 passou a se interessar por ele.
E, é lógico, isto resultará de uma política de programação, visando objetivos prioritários relacionados com a realidade em que vive a porção de público que se pretende atingir em determinado horário e determinado programa”.