A jornalista mexicana Anabel Hernández, que participou em Outubro do ano passado, em São Paulo, no Seminário Internacional sobre Violência contra Jornalistas, promovido pelo Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, teve sua residência invadida por um grupo armado, em Dezembro último.
A invasão foi agora revelada pela revista mexicana Proceso e a denúncia, a seguir reproduzida, foi replicada no blog Jornalismo nas Américas da University of Texas at Austin, que abriga o Knight Center para o Jornalismo nas Américas.
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Um grupo armado invadiu a casa da jornalista mexicana Anabel Hernández antes do fim do ano, segundo a revista Proceso.
Mais de dez pessoas, armadas com rifles AK-47 e outras armas, cercaram a rua onde vive Hernández no dia 21 de dezembro e entraram em várias outras casas perguntando pelo domicílio da jornalista. Desligaram várias câmeras de segurança nas residências, incluindo as que estavam instaladas na casa de Hernández.
A jornalista não estava em casa na hora da invasão.
Os indivíduos, que se identificaram primeiro como agentes da Polícia Federal e depois como “zetas”, prenderam temporariamente e agrediram dois agentes de segurança designados pelas autoridades da Cidade do México para proteger Hernández, que estavam no domicílio da jornalista no momento da invasão.
Os motivos da ação são incertos. O grupo ficou no bairro da jornalista por cerca de meia hora sem qualquer providência das autoridades.
Jornalistas de diferentes organizações em vários estados mexicanos e Espanha assinaram uma carta dirigida ao presidente do país Enrique Peña Nieto e outros funcionários criticando a invasão e pedindo uma investigação do ocorrido.
“Às autoridades lembramos que a impunidade, derivada de sua omissão para investigar e punir as agressões contra jornalistas, é o contexto perfeito para que os embates continuem e, com eles, sigam em perigo não só aqueles que se dedicam a informar profissionalmente, mas a sociedade em seu conjunto, que com cada agressão vê em risco seu direito de acessar e receber informação”.
Hernández fez uma denúncia na Promotoria Especial para a Atenção a Crimes Cometidos contra a Liberdade de Expressão, que abriu uma investigação para saber se o incidente está relacionado com outras ameaças e intimidações que a jornalista vem sofrendo nos últimos três anos.
Hernández recebeu proteção das autoridades do Distrito Federal desde a publicação de seu revelador livro Os Senhores do Narco, no qual detalha as raízes do narcotráfico no México e acusa funcionários, empresários e altos escalões da Polícia Federal de conluio com o crime organizado.
Em várias ocasiões desde então, Hernández recebeu informação que Genaro García Luna, ex-titular da principal agência policial nos últimos seis anos, pretendia assassiná-la. Hernández acusou García Luna de enriquecimento ilícito e de vínculos com o cartel de Sinaloa.
Em 16 de dezembro, cinco dias antes do incidente, a revista Forbes classificou García Luna como uma das 10 pessoas mais corruptas do México e citou o livro de Hernández como referência. No mesmo dia, García Luna escreveu diretamente ao editor-chefe da revista, Steve Forbes, assegurando que o artigo se baseia em “mentiras e carece do rigor jornalístico próprio de sua revista, os argumentos da fonte que utiliza são falsos”.
Embora as escoltas da Procuradoria Geral de Justiça do Distrito Federal acompanhem Hernández 24 horas do dia desde 2010, sua família foi vítima de um ataque durante uma festa de aniversário em 2011, várias de suas fontes foram ameaçadas, assassinadas ou encarceradas, e em março de 2013 a jornalista novamente recebeu informação de que se encontrava em perigo.
Hernández criticou numerosas vezes a ineficiência do Mecanismo de Proteção a Jornalistas do governo federal em garantir sua proteção ou responder a emergências.