A pergunta feita foi: em que circunstâncias você assinou o documento? Por intermédio de quem o recebeu, onde trabalhava, que idade tinha etc.
Olavo Avalone Filho
Pedagogia da perseverança
O Caso Herzog marcou fortemente meu início no jornalismo, e depois toda a minha trajetória profissional, pois meu primeiro chefe, o editor e professor Perseu Abramo, esteve à frente de importantes reuniões sindicais nas quais se discutiram o fato e as consequências do crime contra a vida do jornalista Vladimir Herzog, o Vlado, assassinado nas dependências do DOI-CODI do II Exército, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975.
Minha estreia na profissão foi no jornal Folha de S. Paulo, na Editoria de Educação, onde em maio daquele ano, vindo diretamente do curso de Pedagogia da USP, ingressei como repórter e pude, ao lado de uma equipe de primeira linha, vivenciar experiências transformadoras de trabalho e de vida, sempre pautadas por ética, equilíbrio e bom senso.
Naquele 1975 de opressão e medo, na quase reta final dos Anos de Chumbo, muitos jornalistas e outros cidadãos viviam sob tensão constante. A gente sabia que pessoas continuavam sob tortura em porões militares e civis. Foi nesse cenário que chegou até nós, como uma bomba, a informação mentirosa de que Vlado havia se suicidado no cárcere (?!). Ele se apresentara espontaneamente ao DOI-CODI para ser interrogado…
Diante dessa calúnia horrorosa, inconformados, jornalistas, juristas, políticos e outros trabalhadores e empresários de diversos setores da sociedade civil passaram a realizar ações de protesto. Entre as muitas iniciativas, jornalistas compuseram um abaixo-assinado e o fizeram publicar no jornal O Estado de S. Paulo em 3 de fevereiro de 1976. O documento, que teve como título “Jornalistas e o Caso Herzog: Em Nome da Verdade”, recebeu a assinatura de 1.004 jornalistas. Fui um deles.
O Caso Herzog é amplamente conhecido nos dias atuais. O inconformismo e o tempo se incumbiram de resgatar a verdade dos fatos e fixar nas mentes e corações das pessoas de bem lições que nunca devem ser esquecidas. Como benefício social inestimável, aí prevaleceu a pedagogia da perseverança.
Olavo Avalone Filho é educador, jornalista, escritor, 73 anos.
2/2/2021.