01/02/2021

Carlos Brickmann

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A pergunta feita foi: em que circunstâncias você assinou o documento? Por intermédio de quem o recebeu, onde trabalhava, que idade tinha etc.

Carlos Brickmann

Lembro-me daquele manifesto, claro. Eu trabalhava na Visão, e o Quartim [A.P. Quartim de Moraes] tinha forte atividade no sindicato. Quando falou no assunto, vários assinaram, não apenas eu. Embora tenha conhecido pouco o Vlado, todo o caso me envolvia. Meu primo Chael [Chael Charles Scheier, 1946-1969] tinha sido morto sob tortura, e o atestado de óbito dele fui eu quem levei ao Estadão, para um editorial histórico. E o caso Vlado praticamente caiu no meu colo: o Fernando Morais estava sendo caçado e foi para o apartamento da irmã, no prédio em que eu morava. Ela não estava em casa. Ele subiu alguns andares e ficou no meu apartamento. Chamei mais um amigo jornalista, o Décio Pedroso, e fomos ao Hospital Albert Einstein conversar com o dr. Josef Fehér, que viria a ser presidente do hospital, cardiologista do presidente Geisel e responsável por montar uma rede de saída para perseguidos políticos. O que ele me disse: se o Bê topasse, seria colocado num avião (creio que da Alitalia) e desceria no Aeroporto Ben Gurion, em companhia da esposa. Lá eles teriam passaportes israelenses autênticos, e poderiam ficar lá ou ir para outro país. O Bê raciocinou que teria de ficar muito tempo fora e optou por se esconder numa das fazendas em que seu pai engarrafava água mineral. Ah, sim: foi o Bê que me disse que o Vlado tinha sido morto na mesma operação policial que o visava.

13/9/2020.

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