20/07/2016

Quatro anos sem Valério Luiz

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O assassinato do jornalista esportivo Valério Luiz, completou, no último dia cinco de julho, quatro anos. Morto a tiros quando saía da rádio onde trabalhava, em Goiânia, Valério Luiz Oliveira exercia há mais de 30 anos a profissão de cronista esportivo em Goiás, seguindo os passos de seu pai, que também trabalhou nas emissoras do estado, cobrindo noticias sobre esportes.
Em 2010 Valério começou a publicar críticas à gestão de futebol do Clube Atlético Goianiense, abrangendo os patrocinadores da equipe e o vice-diretor de futebol. Entre as críticas estavam a compra de resultados, acordos com torcedores do clube para exercer pressão sobre a comissão técnica, jogadores e a própria diretoria e uso de drogas nas concentrações.
As investigações da Policia Civil comprovaram que o mandante do crime fora o ex-vice-presidente de futebol do Atlético Goianiense, Maurício Borges Sampaio.

Na tarde do último dia 6 seu filho, Valério Luiz Filho, publicou um texto em sua página pessoal contando sobre o andamento do caso:

“Amanhã, 05 de julho, completam-se 4 anos desde o assassinato do meu pai, o jornalista Valério Luiz de Oliveira. As investigações terminaram em fevereiro de 2013, concluindo que o crime se deu por causa de críticas à diretoria do Atlético Clube Goianiense, em especial ao então Vice-Presidente e atual Presidente, Maurício Borges Sampaio. Maurício e mais quatro (o PM Ademá Figuerêdo, o PM Djalma da Silva, o faz-tudo Urbano Malta e o açougueiro Marcos Vinícius) acabaram denunciados pelo homicídio.
Percebo que o tempo decorrido desde então cria nas pessoas a falsa impressão de que o crime não se desvendou ainda. Se desvendou, sim. Toda a demora a partir de fevereiro de 2013 advém dos trâmites do processo no Judiciário, já que todas as oportunidades de defesa estão sendo dadas aos réus. Atualmente, estão mandados a Júri pelas duas instâncias do Tribunal goiano e recorrem a Brasília. Acompanho pessoalmente os recursos no STJ e no STF, pro Júri ser marcado o quanto antes.
Nunca pensei passar pelo que passei, e no dia da tragédia não tinha dimensão do impacto que teria sobre minha vida. Isso tanto pela perda quanto pelas enormes resistências contra nossa busca por justiça. A raiz do poder é ter aliados, e os assassinos tinham vários, que foram sistematicamente acionados à medida que avançávamos. Tivemos que enfrentar advogados, policiais, juízes, um delegado e até profissionais da imprensa. Aos poucos vi como o mal se infiltra no Estado e na sociedade organizada.
Essa luta fez com que nos organizássemos e buscássemos nossas armas. Muitas vitórias vieram, e não só pra minha família. Nossa militância contribuiu para que 4 casos não solucionados aqui no âmbito estadual fossem federalizados pelo STJ (IDC-3); para que a assistência às vítimas de violência enfim começasse a entrar nos debates públicos; para que o CNJ aposentasse um juiz ímprobo e fizesse o Tribunal finalizar o concurso pra cartórios, substituindo todos os interinos de Goiânia por concursados.
Amanhã faremos, como nos últimos 3 anos, uma caminhada pelo centro, em memória do ocorrido, em memória do meu pai, e em memória do nosso lado na luta: a liberdade de expressão e a vida. Não ficarei sentado esperando autoritários espalharem seus tentáculos pelo Estado que deveria me proteger. Jamais apoiarei a opressão, seja dos que matam de cara limpa ou dos que usam a farda, a toga ou a carteira pra isso. E tenho muito orgulho do pouco que conseguimos fazer até agora.”

valerio_luiz

Relembramos o caso, com a matéria sobre a visita de Valério Luiz Filho ao Instituto Vladimir Herzog. (clique aqui)

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