A pergunta feita foi: em que circunstâncias você assinou o documento? Por intermédio de quem o recebeu, onde trabalhava, que idade tinha etc.
Vilma Gryzinski
Eu me lembro do som dos nossos passos na calçada do Viaduto do Chá, saindo da redação do Estadão para a Sé.
Os diretores do jornal haviam liberado todo mundo para ir ao ato ecumênico. Isso incentivou colegas que não eram de esquerda, muito menos simpatizantes do velho Partidão, a fazer talvez o primeiro protesto de suas vidas.
Um protesto um pouco temeroso e ao mesmo tempo catártico. Foi como se a morte de um “homem justo” como Vladimir Herzog tivesse servido para superar as barreiras do medo, o mais poderoso instrumento das ditaduras.
Não fazíamos ideia das tensões entre Ernesto Geisel e Sylvio Frota que a morte de um jornalista querido por todos ajudaria a confluir para o que viria a ser o processo controlado de fim do regime militar.
O humilde ato de colocar o próprio nome num abaixo-assinado contra a versão farsesca sobre aquela morte tornou-se mais fácil depois da “missa”, como todo mundo chamava o ato ecumênico.
Não vejo nada de heroico nisso, mas existe algo de valioso no momento em que pessoas comuns decidem conscientemente que têm um lugar a ocupar na marcha da história.
20/10/2020.