O Instituto
O ano de 2024 marca os 60 anos de um dos episódios mais nefastos da nossa história: a ditadura militar. Datas como essa são um importante marco contra o esquecimento de um período que aprofundou a desigualdade social, amordaçou a imprensa e promoveu o desrespeito sistemático aos direitos humanos.
Apesar disso, em uma sociedade marcada pelo esquecimento, políticas de memória seguem invisibilizadas na esfera pública, limitadas socioculturalmente por binarismos que separam passado e presente. Mas isso não implica a inexistência de pessoas preocupadas com a questão e de ações sendo tomadas.
O Instituto Vladimir Herzog foi criado pela família e amigos em 2009 para celebrar a vida de Vlado. Inspirado na corajosa luta de Clarice Herzog, é parte de um esforço coletivo e tem como missão trabalhar pela defesa da democracia, dos direitos humanos e liberdade de expressão.
Em 2024, completamos 15 anos de existência. Para celebrar, trazemos a exposição SOBRE NÓS – 60 anos de resistência democrática no Brasil. Nela, apresentamos um panorama histórico de pessoas em situação de luta, movimentos e organizações sociais que atuaram —e atuam— em defesa de nossas liberdades, de 1964 até os dias de hoje.
Sobre Nós, que só foi possível graças ao trabalho das pessoas que atuam no Instituto Vladimir Herzog e à confiança dos financiadores e apoiadores desse projeto, também é uma forma de chamar atenção para o fato de que a defesa da democracia, da liberdade e da justiça só se faz em conjunto.
A Exposição
Nosso passado recente evidencia que a democracia não termina necessariamente com uma ruptura violenta, como o golpe militar de 1964 no Brasil, mas pode ser minada pelo enfraquecimento gradual de instituições críticas, como o Judiciário e a imprensa, e pela erosão dos direitos garantidos pela Constituição. Via de regra, notamos aquilo que nos falta quando já não existe. Celebrar a democracia como um bem comum implica poder questioná-la e reconhecer que, para além de eleições justas e da igualdade de poder político para todos os cidadãos, na ausência de parâmetros que meçam suas qualidades, a continuidade de um regime democrático depende da vontade e manifestação popular.
Na costura de materiais resultantes de projetos executados ao longo dos 15 anos de existência do Instituto Vladimir Herzog com conteúdos, personagens e movimentos que lhe são caros, Sobre Nós elenca momentos importantes de resistência civil nas últimas seis décadas e reitera a importância do ativismo social como mecanismo garantidor de liberdades individuais e coletivas. O conjunto de documentos textuais, registros fotográficos, audiovisuais e obras de arte apresentados tensiona o período da ditadura militar com o da redemocratização, suscitando questões de moralidade e justiça; nós ainda não desatados da nossa história.
CURADORIA
Luis Ludmer – Coordenação
Lorrane Rodrigues – Coordenação
Flora Matheusa
Laura Faerman
Vladimir Herzog: legado e fundação do instituto
Celebrando seus 15 anos de existência, a história do Instituto Vladimir Herzog permeia todo o espaço expositivo. O instituto nasceu a partir de encontros entre trajetórias pessoais e familiares, que trazem um exercício autobiográfico através das experiências que essas pessoas tiveram com Vlado. Mais do que a história de morte do nosso patrono, são suas histórias de vida e experiências individuais que são transmitidas em nossos projetos e atividades expostos. Seu legado, ao lado dessas outras atividades, conversam diretamente com uma parcela da sociedade que insiste em fazer desse país um lugar melhor.
Prêmios PVH e PJJ
imprensa de resistência 1964-2024
Desde a sua primeira edição, em 1979, o Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos reconhece o trabalho de jornalistas, escritores, fotógrafos e artistas do traço que colaboram com a defesa e promoção da democracia, da cidadania e dos direitos humanos. Atualmente é promovida por uma comissão organizadora composta por 17 instituições da sociedade civil, além da família Herzog.
Já o Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão foi idealizado no ano de criação do IVH, em 2009, com o objetivo de oferecer aos estudantes de jornalismo a oportunidade de desenvolverem um trabalho jornalístico prático e reflexivo desde o projeto de pauta até a realização de uma reportagem. A iniciativa é uma homenagem a Fernando Pacheco Jordão, grande amigo de Vlado e jornalista que atuou em importantes meios da imprensa nacional e internacional.
A arte como linguagem de resistência
A arte, em seus diferentes suportes, serve como linguagem para expressão de ideias e posicionamentos combativos diante das agruras sociais e políticas que assolam a realidade brasileira. A exposição incorpora obras criadas nestes 60 anos de luta em defesa da democracia que possuem essa clara dimensão política e apontam novos horizontes de lutas, questionando assim as estruturas tradicionais. Sobre Nós mapeia alguns artistas que entrelaçam, por meio de uma multiplicidade de formatos e técnicas, narrativas de resistências e de empoderamento, em contrapartida aos movimentos reacionários dos últimos anos.
Educação e Movimento Secundarista
O movimento estudantil foi um dos grandes protagonistas da resistência democrática nos últimos 60 anos de história política brasileira. No decorrer da ditadura militar, os estudantes assumiram grande protagonismo, sobretudo a partir do falecimento do secundarista Edson Luís em 1968, morto por forças policiais. A partir desse evento, movimentos, intelectuais e ativistas passaram a se mobilizar contra o regime. A força dos secundaristas como articuladores políticos é vista até a atualidade, exemplo disto foram as ocupações estudantis em 2015, como parte dos atos de resistência contra os cortes na educação do Governo do Estado de São Paulo. A exposição, bem como o Instituto Vladimir Herzog, faz o exercício de pensar a potência construtora dos movimentos estudantis e a relevância da educação para criação de novos imaginários políticos, ainda mais democráticos e plurais.
Comissão Nacional da Verdade (CNV)
A transição política que colocou fim à Ditadura Militar (1964-1985) marcou —e ainda marca— a problematização pública das políticas de memória, verdade e justiça no Brasil. A Comissão Nacional da Verdade (CNV) ganha destaque na exposição a partir de duas recomendações: a número 20, que trata da questão da desmilitarização das polícias e o conjunto de recomendações destinadas aos povos indígenas. A partir delas destaca-se a omissão do Estado brasileiro no cumprimento às recomendações, e o papel que a sociedade civil tem desempenhado na cobrança de respostas e de ações de incidência para seu cumprimento.
Lutas por resistência - Caso Herzog / Caminhada do Silêncio
Falar sobre as resistências no país passa por entender vivências alicerçadas na ampliação da compreensão dos direitos humanos a partir de histórias de vida de pessoas que lutam por memória e justiça. É o caso de Clarice Herzog e sua luta, aqui destacada pelo Caso Herzog e a condenação do Estado Brasileiro pela falta de investigação, julgamento e punição aos responsáveis pela tortura e assassinato do jornalista Vladimir Herzog. Num âmbito mais coletivo, temos o caso da Caminhada do Silêncio, ato que busca rememorar e clamar justiça em nome das vítimas, dos desaparecidos e torturados pela ditadura militar, e integra, também, a proposta de ampliar a voz das pessoas e movimentos que lutam pela memória dos seus entes vitimizados pela violência do Estado contemporâneo. A exposição traz registros da edição de 2023.
MOSTRA: É PRECISO ESTAR ATENTO
Em cartaz de 11 a 14 de julho de 2024, a mostra de cinema É Preciso Estar Atento! é um evento enxuto de quatro títulos, que dialoga diretamente com a exposição Sobre Nós, e foi organizado pelo Instituto Vladimir Herzog na Cinemateca Brasileira. Serão exibidos 4 filmes documentários que abordam temas de resistência por meio da utilização de materiais de arquivo, entrevistas, depoimentos, gravações observacionais diretas da realidade durante manifestações de grupos e coletivos em defesa de suas liberdades. As sessões serão seguidas de debates com cineastas e especialistas de diversas áreas que atuam em defesa dos direitos humanos.
Domingo no Golpe
Dia 11 de julho de 2024 – 19:30
Direção: Giselle Beiguelman e Lucas Bambozzi.
Curta metragem (23’)
Classificação indicativa: 12 anos
Domingo no Golpe é um documentário “ready media” sobre os atos de 8 de janeiro de 2023, inteiramente produzido com as imagens das câmeras de segurança do Palácio do Planalto disponibilizadas à imprensa pelo GSI, por ordem do Supremo Tribunal Federal. A narração foi criada a partir de trechos do relatório final da CPMI dos Atos de 8 de janeiro de 2023, divulgado em 17 de outubro de 2023, lido pela senadora Eliziane Gama (relatora). Domingo no Golpe aborda um 8 de janeiro que não começou em 2023, e todavia, ainda não terminou.
Memória Sufocada
Dia 12 de julho de 2024 – 19h
Direção: Gabriel Di Giacomo
Longa metragem (75′)
Classificação indicativa: 14 anos
Coronel Ustra é o único militar condenado como torturador durante a ditadura. O ex-presidente Jair Bolsonaro o exalta como herói. Mas qual é a verdade? Através de buscas pela internet, o passado do Brasil vai sendo reconstruído e esbarra no presente.
Espero tua (Re)Volta
Dia 13 de julho de 2024 – 17h
Direção: Eliza Capai
Longa metragem documentário (90′)
Classificação indicativa: 12 anos
Um retrato do movimento estudantil que ganhou força a partir do ano de 2015, e ocupou escolas estaduais por todo Brasil. Acompanhando três jovens do movimento além das imagens de arquivo das manifestações a partir de 2013, o documentário tenta compreender as ocupações e as suas principais pautas do ponto de vista dos estudantes envolvidos.
Torre das Donzelas
Dia 14 de julho de 2024 – 18h
Direção: Susanna Lira
Longa Metragem documentário (1h37)
Classificação indicativa: 12 anos
O documentário Torre das Donzelas revisita o período em que o Brasil vivia sob uma ditadura militar, concentrando-se em um grupo de ex-presas políticas do sexo feminino que dividiu uma cela no Presídio Tiradentes em São Paulo. Rompendo 40 anos de silêncio, Torre das Donzelas visa recuperar as memórias dessas mulheres e de seu passado militante, a fim de compreender como esse período se reflete no país que estamos vivendo hoje.