Você pode começar a ler O cardeal da resistência – as Muitas Vidas de dom Paulo Evaristo Arns pelo capítulo que quiser. Esta é uma das novidades do livro de autoria do jornalista Ricardo Carvalho, que o Instituto Vladimir Herzog lançará na quarta-feira, 23 de outubro, a partir das 19 horas, na Livraria Cultura do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista.
São 65 capítulos e 359 ilustrações que contam, na forma de reportagens, a trajetória de um dos mais importantes brasileiros do século XX. Um homem que, de 1966, quando chegou a São Paulo para ser bispo-auxiliar da zona norte da capital e até 1998, quando se aposentou como cardeal-arcebispo, se tornou um dos mais fortes símbolos de resistência à ditadura militar e aos desmandos de um capitalismo opressor e sufocante.
Em qualquer capítulo, você vai encontrar, independente do ano, uma ação de dom Paulo em defesa dos oprimidos e dos Direitos Humanos, contra a censura, a favor da liberdade, incentivando a organização do povo em comunidades, apoiando os movimentos sociais, denunciando a tortura, enfrentando militares – independente da patente – oferecendo a Catedral da Sé para missas e cultos ecumênicos de repúdio à ditadura militar.
O livro reúne informações inéditas, como as crônicas que foram escritas durante 28 anos sobre o dia a dia da arquidiocese, zelosamente guardadas desde 1998 nos arquivos da Igreja Católica e só agora reveladas, com exclusividade.
A obra apresenta ainda fatos curiosos, como quando, por exemplo, Fidel Castro encontrou como única saída política para encerrar, em Cuba, um seminário internacional sobre dívida externa, a leitura da carta que dom Paulo havia a ele enviado pelo Frei Betto. O livro mostra a íntegra desta carta. Outra curiosidade, que não se imaginaria: dom Paulo nunca teve conta em banco!
Ao mesmo tempo, Leonardo Boff conta, em detalhes, o tenso encontro em pleno Vaticano quando, em 1984, se defrontaram dom Paulo e o então todo-poderoso cardeal Ratzinger, que se tornaria anos depois o papa Bento XVI. Ratzinger escutou poucas e boas e, representando o que tem de mais conservador na Igreja Católica, continuou a perseguir a Teologia da Libertação que nasceu em 1968, em Medellin, na Colômbia, para atender as necessidades da Igreja na América Latina.
Especialistas, como o respeitado teólogo José Oscar Beozzo, tentam decifrar os bastidores do Vaticano para responder a uma pergunta sempre inquietante: Afinal, quem manda na Cúria Romana? Estas reflexões nascem para se tentar entender a perseguição implacável da Cúria Romana a dom Paulo que culminou, mesmo contra a vontade do papa João Paulo II, com a divisão da arquidiocese em dioceses autônomas. Este fato provocou uma das poucas frases explicitadas por dom Paulo contra a Cúria Romana: “Fui traído”, afirmou ele na época.
Uma Cúria que, desde setembro de 2013, está sofrendo mudanças profundas com o papa Francisco que, aliás, é o primeiro papa a receber um dos criadores da Teologia da Libertação, o peruano Gustavo Gutierrez, fato registrado pelo livro.
O livro lembra ainda que foi dom Paulo, com sua voz firme e serena, quem primeiro denunciou ao mundo: “O jornalista Vladimir Herzog foi assassinado!” (E não se suicidou, como queria o regime militar).
Você vai encontrar também depoimentos de muita gente que viveu passagens memoráveis ao lado do cardeal, como Clarice Herzog, Ricardo Kotscho, Frei Betto, Fernando Morais, Clovis Rossi, Leonardo Boff, Juca Kfouri, José Carlos Dias, Dalmo Dallari. Além do testemunho inédito de Maria Angela Borsoi, que, durante 40 anos, um mês e 14 dias, foi a secretária particular de dom Paulo, O Cardeal da Resistência.