Enaltecimento à ditadura não deve ser tolerado nos espaços de poder legislativo
O Instituto Vladimir Herzog vem a público repudiar a defesa explícita ao golpe de 64 no Brasil, feita pelo deputado Ricardo Salles (PL-SP) durante sessão da CPI do MST na Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira (3).
O ex-ministro afirmou que “na balança, 64 foi muito necessário”, exaltando os militares que depuseram o presidente João Goulart. Ao se dirigir ao general Gonçalves Dias, que participa da comissão, completou aconselhando o ex-ministro do GSI a não hesitar em defender o golpe de 1964, “porque foi a sua turma, os militares de 64, não os de hoje, que souberam defender os valores importantes que estavam em xeque naquele momento”.
O enaltecimento de uma época tão tenebrosa de nossa história não pode ser tolerado, sobretudo quando feito por parlamentares eleitos democraticamente. Sob o mandato de Bolsonaro e seu intento golpista, atos como esse incentivaram e organizaram setores violentos da sociedade, que não demonstraram qualquer constrangimento em expor o saudosismo da ditadura, da intolerância e do autoritarismo do Brasil de 64, tendo como ápice a invasão ao Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio do Planalto em 8 de janeiro.
É preciso falar da certeza da impunidade que mantém tais figuras confortáveis o suficiente para agir de maneira criminosa contra a democracia brasileira. É igualmente necessário rever as pendências do Estado com a história assombrosa do período da ditadura no país, para que os horrores desse tempo sejam expostos tal como são: inaceitáveis e repugnantes.
Depois de um período crítico de trabalho em defesa da democracia no período recente de eleições no país, o Instituto Vladimir Herzog segue constantemente cobrando que sejam revistos os retrocessos em relação às recomendações da Comissão Nacional da Verdade. Entendemos que um passado mal resolvido vem à tona carregado de valores morais e conservadores, que mascaram ações de um Estado que matou, desapareceu e torturou milhares que se colocaram em defesa da liberdade e dos direitos humanos no Brasil. Não toleraremos que idólatras de um tempo nefasto expressem livremente discursos criminosos a partir do Congresso Nacional.
Assim, o IVH defende que as falas do deputado sejam imediatamente investigadas pela Comissão de Ética da Câmara dos Deputados. Responsabilizar exemplarmente aqueles que investem contra as liberdades e o Estado Democrático de Direito é parte fundamental do processo de fortalecimento da nossa democracia.
Ditadura nunca mais!
