Disseminação de violência, transtornos para a população, falsas acusações e interferência direta na democracia global são alguns resultados dos perniciosos processos de desinformação que ganharam espaço em todo o mundo nos últimos anos.
Para muitos estudiosos, o marco de inflexão que fez com que a desinformação se tornasse um problema de proporções globais foi a eleição de Donald Trump em 2016. Apesar da prática já existir há tempos, de fato aquela campanha eleitoral norte-americana colocou em prática ferramentas e métodos até então inéditos para fazer circular entre milhões de cidadãos as mais várias notícias falsas que buscavam – e conseguiram – manipular a opinião e o voto da população dos Estados Unidos. A velocidade das redes digitais e a intensidade dos ataques – anônimos ou não – encaminharam o debate para um extremismo que culminou com a invasão do Capitólio e a morte de 5 pessoas.
Aquele, no entanto, não foi um fato isolado. E os males decorrentes do avanço desses processos de desinformação atingiram praticamente todas as nações do planeta.
Aqui no Brasil, num trágico arremedo histórico, a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, também ficou marcada pela incontrolável circulação de notícias falsas, produzidas e disseminadas por um gabinete do ódio, que contou com métodos rebuscados e importados, recursos financeiros ainda desconhecidos e a absoluta negligência do Estado e das plataformas digitais para propagar uma lamentavelmente muito bem-sucedida campanha de difamação da reputação de jornalistas e opositores políticos do atual presidente do Brasil. Tal gabinete foi, posteriormente, dissecado no relatório da CPI da Pandemia, outra trágica realidade brasileira em que a desinformação na área da saúde, com fins políticos, custou vidas.
“Máquina do ódio” é o título do livro escrito pela jornalista Patrícia Campos Mello, que conta em detalhes como funcionou essa engenhosa e criminosa engrenagem que favoreceu a eleição de Bolsonaro em 2018. Por conta das reportagens escritas por ela na época, que ensejaram a publicação do livro, Patrícia foi covarde e violentamente atacada, inclusive pelo próprio presidente, que posteriormente foi condenado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo por ofender a jornalista.
Ela é uma das personagens desta série “Atingidas pela Desinformação”, coleção de reportagens em texto produzidas pelo *desinformante e pelo Instituto Vladimir Herzog, que será publicada no site do *desinformante a partir desta segunda-feira (26/9).
Levantamento feito com 73 deputadas e senadoras aponta que 80,8% delas já sofreram violência política de gênero e 90,4% acham que essas agressões afastam as mulheres da política. Tal situação nos afasta de uma democracia realmente representativa da participação feminina na sociedade brasileira.
No caso das jornalistas mulheres – que ocupam a posição de formadoras de opinião na sociedade – o quadro não é mais positivo. Jornalistas mulheres negras são mais atacadas nas redes que seus colegas homens e os ataques têm caráter misógino, machista e sexista, numa tentativa de intimidar o trabalho jornalístico, essencial para a manutenção da democracia.
Além de Patrícia Campos Mello, contaremos a história de Bianca Santana, Manuela D’Ávila, Renata Souza e Benny Briolly – mulheres que foram vítimas de desinformação e discurso de ódio nas redes e tiveram suas vidas atingidas pela produção e circulação de conteúdo falso em larga escala.
Fiquem ligados: o primeiro episódio, com a jornalista Bianca Santana, vai ao ar nesta segunda-feira, dia 26. Na quarta-feira, dia 28, teremos a história de Patrícia Campos Mello e na sexta, dia 30, Manuela D´Ávila. Na próxima semana, na terça-feira, dia 4, publicaremos o episódio com Renata Souza e na quinta-feira, dia 6, com Benny Briolly.