“A gente foi cercado por mais de 50 homens, alguns estavam armados. E mesmo assim a gente tentou explicar para eles por que aquela área é terra indígena”
Txai Suruí, líder indígena
Concentração de cabeças de gado
(em milhões)
A maior concentração encontra-se na Amazônia Legal, abrigando 44,5% do total, o que representa 104,3 milhões de cabeças de gado.
Conforme as informações mais atualizadas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até o ano 2022, o Brasil possui uma população bovina de 234 milhões de cabeças.
“Desde que a reportagem foi ao ar, toda semana tinha uns dois ou três garimpeiros querendo falar comigo”
Fábio Diniz, jornalista da Globo
Também em Rondônia, Fábio Diniz, correspondente da Globo na Rede Amazônia, foi perseguido por garimpeiros após publicar uma reportagem para o Fantástico sobre o comércio ilegal de mercúrio. Através de amigos, o jornalista ficou sabendo que estavam monitorando seus passos. “A partir daí eu não tive mais paz com relação ao garimpo”, disse.
O jornalista chegou a ficar afastado do dia a dia na redação da TV, mas as perseguições e ameaças persistiram por vários meses após a publicação da reportagem. Diniz chegou a comunicar as ameaças sofridas dos garimpeiros à Polícia Federal, mas não sabe qual será o desfecho dessas denúncias.
Garimpo e mineração em terras indígenas
(área ocupada entre 2013 e 2022 em hectare)
Número que só em 2022, a área ocupada pelo garimpo ilegal no Brasil cresceu.
A Amazônia concentra 92% de toda essa área de garimpo.
“Os governos falam tanto em proteger a floresta e a Amazônia, mas não vai ter floresta se não tiver quem defenda a floresta”
Darlon Neres, comunicador popular
Após denunciar madeireiros ilegais no oeste paraense, em setembro de 2023, o comunicador popular Darlon Neres teve que se afastar da sua comunidade em Santarém por três meses e chegou a ter escolta policial. “Recebi ameaças por meio de conhecidos. Fui informado sobre pessoas que estavam circulando na região do assentamento mostrando a minha foto. Depois também recebi áudios em redes sociais”, explica.
Darlon representa um tipo de comunicação popular bem comum na Amazônia, principalmente em regiões afastadas, onde a imprensa tradicional não chega. Através de programas de rádio e de grupos em aplicativos de mensagens, ele ajuda a divulgar o trabalho dos agricultores do assentamento e combate notícias falsas sobre a existência de áreas improdutivas.
“Fazer comunicação na Amazônia é muito desafiador. Às vezes temos que passar dois dias em um barco para poder dar voz e visibilidade àquelas comunidades. Quando algum comunicador é ameaçado e violentado porque denunciou uma ilegalidade, a gente não sabe para quem recorrer”.
Exploração ilegal de madeira na Amazônia
Estima-se que 40% da área com registro de exploração de madeira na Amazônia foi desmatada ilegalmente. Sendo que 15% ocorreu em áreas protegidas legalmente, como terras indígenas e unidades de conservação, segundo levantamento da Rede Simex (Imazon, Idesam, Imaflora e ICV).
A vastidão da Amazônia, rica em recursos naturais e palco de uma complexa teia de interesses, é também um desafio para os jornalistas que buscam ir além de estereótipos, expondo suas realidades. Os relatos e experiências de jornalistas e comunicadores no exercício da profissão revelam a insegurança sentida por quem trabalha na maior floresta tropical do mundo.
Apurações que envolvem o garimpo ilegal, a exploração madeireira, a expansão agrícola desenfreada e até mesmo o narcotráfico na região amazônica motivam ameaças, agressões e mortes, como as do jornalista Dom Phillips e do indigenista brasileiro Bruno Pereira, assassinados em 5 de junho de 2022 enquanto faziam uma incursão para apurar crimes ambientais na região do Vale do Javari, no Amazonas.
“A vida de jornalista é arriscada na Amazônia porque a vida dos amazônidas têm valido pouco”, escreve a repórter Sônia Bridi no prefácio deste relatório. Ela própria já sofreu ameaças de morte na região e, em 2022, após quase 40 anos de profissão e diversas idas à Amazônia, pela primeira vez precisou reportar acompanhada de seguranças armados.
O Instituto Vladimir Herzog ouviu 10 jornalistas e comunicadores populares que foram alvo de violência devido ao seu trabalho na Amazônia, e registrou como esse contexto de hostilidade representa um ataque a toda a sociedade.
As entrevistas feitas para esse relatório mostram as angústias e medos de quem reporta sobre a Amazônia. Além disso, buscam revelar quais são os setores da economia, legal e ilegal, que financiam a violência contra jornalistas e comunicadores.
Afinal, ainda nas palavras de Bridi, “para garantir uma sociedade segura, precisamos saber onde está sendo cometido um crime, como e onde agem os criminosos. Por isso, uma sociedade só é segura quando há segurança para os jornalistas.”
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