18/09/2017

Fernando Pacheco Jordão. Presente!

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Não cabe usar verbos no passado para o Fernando, a quem temos de dizer um adeus pleno de comovida tristeza. Sua inteligência, lealdade, generosidade, resiliência e permanente bom-humor inspiram que ele esteja sempre presente.

Não queremos, não admitimos que ele se vá.

Até porque ele também continua e continuará ao nosso lado no Prêmio Jovem Jornalista Fernando Pacheco Jordão, que em poucos anos já foi disputado por quase dois mil estudantes e seus 650 professores-orientadores de cerca de 200 escolas de jornalismo de praticamente todos os estados do Brasil. São jovens jornalistas como aqueles por cujo desenvolvimento profissional Fernando se empenhou com carinho desde sempre.

Neste momento que a todos nós imensamente confrange, quando transmitimos nossa consternação e solidariedade a sua esposa, a querida amiga Fátima, filhos e netos, a melhor homenagem ao Fernando que podemos fazer – e a que ele mais apreciaria – é destacar os pontos de maior relevo da sua brilhante trajetória profissional. Sem muitos adjetivos, que ele detesta.

Fernando Pacheco Jordão começou no jornalismo em 1957, como redator e locutor de rádio-jornal, na antiga Organização Victor Costa, que abrangia as rádios Nacional, Excelsior e Cultura. Passou depois para a rádio Difusora, que fazia um excelente jornalismo na redação da Rua Sete de Abril, em São Paulo, sob a liderança de Armando Figueiredo.

Na Difusora Fernando foi secretário dos rádio-jornais e também locutor de voz potente e clara dicção. Durante dois anos acumulou esse trabalho com o de copydesk no Estadão, seu único emprego em jornal, onde alguns focas tinham a sorte e o prazer de trabalhar ao lado dele, aprender com seu talento jornalístico, gozar de sua espirituosa veia de humor e ironia – e também se embevecer com sua técnica de preparação de cigarros de palha, os “paiêros”.

Mais tarde atuou na TV Excelsior, como editor e apresentador do “Show de Notícias”, telejornal diário que inovou no jornalismo de televisão. Em 1964, após o golpe no Brasil, foi contratado pelo Serviço Brasileiro da BBC, o qual aliás, logo em seguida, absorveu também Vladimir Herzog, o que proporcionou a ambos, ex-colegas de Estadão, a oportunidade de voltar a trabalhar juntos e, com suas jovens famílias, abrigar-se um pouco da ditadura no Brasil e conhecer a Europa.

Antes de voltar para cá, em 1968, Fernando fez em Londres um curso de produção de televisão e, ao regressar, foi convidado a atuar na TV Cultura, onde produziu programas didáticos, documentários e até dirigiu um teleteatro premiado em festival interno.

Fernando Pacheco Jordão criou a seguir o jornalismo na TV Cultura, com o programa diário “Hora da Notícia”, numa época de censura brava, até ser demitido em 1974, visto como subversivo. Nesse mesmo ano, ele foi para a TV Globo, onde editou o “Jornal Nacional” em S. Paulo e a seguir tornou-se diretor do “Globo Repórter”.

Dirigente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo na época do assassinato de Vladimir Herzog, Fernando escreveu o livro “Dossiê Herzog – Prisão, Tortura e Morte no Brasil”, que já está na sexta edição e constitui documento fundamental para a História do Brasil.

Ficou na TV Globo até 1979, quando foi demitido após uma greve dos jornalistas. Depois disso ainda foi correspondente da “IstoÉ” em Londres e da Editora Abril em Paris, quando se despediu das redações e atuou como assessor de imprensa em duas campanhas de Mário Covas ao governo do Estado, bem como de Geraldo Alckmin.

Essa é a notável e talentosa trajetória de realizações do nosso amigo irmão Fernando Pacheco Jordão, merecedor, como pessoa e como profissional, de todas as nossas homenagens, que passam agora, com nossas lágrimas, para a história da cidadania e do jornalismo brasileiros, pelas vozes e corações do Instituto Vladimir Herzog, de todos os seus conselheiros, dirigentes e colaboradores.

Instituto Vladimir Herzog
14 de setembro de 2017

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