Croqui em tons de verde e laranja de placa da Rua Vladimir Herzog.
07/07/2022

Em cidade acostumada a homenagear ditadores, Rua Vladimir Herzog é símbolo da democracia

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Por Gabriela Teixeira

De acordo com dados dos Correios, existem ao menos 13 ruas no Brasil que levam o nome de Vladimir Herzog (ou a variação “Wladimir Herzog”). Algumas estão nas regiões Norte e Nordeste, outras no Sul, mas a maioria se concentra no estado de São Paulo, inclusive na capital.

Localizada no bairro paulistano Água Branca, a aproximadamente 15 minutos de carro do Terminal Rodoviário Barra Funda, a Rua Vladimir Herzog tem como principal atrativo o MIS Experience, espaço cultural do Museu da Imagem e do Som que une arte e tecnologia em exposições imersivas e interativas. Em suas redondezas, ainda é possível encontrar a emissora da TV Cultura, cuja redação de jornalismo também homenageia Vlado. Mas, em uma cidade acostumada a batizar espaços públicos com nomes de ditadores, é pelo seu peso simbólico que ela realmente se destaca.

Até 2015, havia em São Paulo ao menos 38 logradouros associados à ditadura, segundo levantamento realizado pela coordenação de Direito à Memória e à Verdade (DMV) da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC). Foi quando, em agosto do mesmo ano, a Prefeitura lançou o programa Ruas de Memória, com o objetivo de alterar o nome desses espaços para os de pessoas referências na luta pelos direitos humanos e relevantes para os territórios. “É um resgate importante, uma reafirmação do compromisso de São Paulo com os valores democráticos. E tudo isso será feito em comum acordo com a comunidade”, declarou o então prefeito Fernando Haddad.

Seguindo recomendações do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) e do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), o Ruas de Memória vetava novas nomeações que glorificassem figuras da repressão e previa ainda mobilizações territoriais para promover reflexões sobre o autoritarismo e seus resquícios nos dias atuais, e a ressignificação e melhoria dos espaços públicos que seriam renomeados.

Passados 7 anos, poucos foram os avanços do projeto. Em entrevista de 2020, Clara Castellano, coordenadora adjunta de Políticas de Direito à Memória e à Verdade e uma das idealizadoras do programa, contou que o Ruas de Memória deixou de ser prioridade e passou por uma desestruturação na gestão Doria-Covas. “A gente queria que essa fosse uma política de estado, não de governo. […] Não teve o interesse de levar isso pra frente”, disse.

Mais recentemente, o atual prefeito Ricardo Nunes vetou a proposta de transformar a Praça Ministro Alfredo Buzaid, no Itaim Bibi, em Praça Lourenço Carlos Diaféria. Advogado, Buzaid foi ministro da Justiça durante o governo Médici e um dos principais defensores do AI-5. Diaféria, por sua vez, era jornalista e foi preso por escrever uma crônica crítica às Forças Armadas.

Para Gabrielle Abreu, coordenadora da área de Memória, Verdade e Justiça do Instituto Vladimir Herzog, o Brasil é “desmemorializado”. Isso se deve a um projeto político que mantém boa parte da população apartada das principais discussões do país e que implica em uma dificuldade coletiva de aprender com o passado, em tolerância a autoritarismos e repetição de equívocos. “Quando conhecemos nossa própria história e memória, desenvolvemos insumos para reflexões críticas a respeito das mazelas sociais e compreendemos a importância de lutar por nossos direitos”, explica.

A respeito de espaços como a Rua Vladimir Herzog, ela completa: “Os lugares de memória conectam nós, que vivemos no presente, com acontecimentos do passado. Vlado se dedicou integralmente à defesa da democracia, da liberdade de expressão e da cultura de paz. Os espaços de memória que carregam seu nome mantêm vivo o seu legado e inspiram gerações futuras.”

Este texto faz parte da campanha “85 anos Vladimir Herzog: espaços de memória”. Pensada para celebrar a vida e a obra de Vlado, a ação enaltece lugares de memória que levam seu nome na capital paulista. A campanha, que recebe apoio do Itaú Cultural, também convida o público a conhecer mais sobre Vlado no Acervo Vladimir Herzog e inicia um mapeamento dos lugares de memória que levam seu nome em todo o Brasil. Se você conhece um lugar/espaço com o nome de Vladimir Herzog, envie as informações para o IVH neste formulário.

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