Entre junho e agosto, a área de Educação em Direitos Humanos do Instituto Vladimir Herzog, por meio do projeto Usina de Valores, realizou a segunda etapa de oficinas e curso de direitos humanos em seis territórios: Salvador, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo, Vitória e Alvorada. Essas vivências buscaram fortalecer uma cultura de paz e respeito à diversidade, como forma de se contrapor ao aumento da violência e discursos de ódio na sociedade.
Em cada território, as experiências tiveram desenvolvimento e características muito próprias, em articulação com os diferentes contextos e saberes. Foram desenvolvidas estratégias distintas a partir de um processo formativo com educadores dos territórios, que compuseram a equipe do Usina e construíram essa contextualização. Além disso, o Instituto Vladimir Herzog contou com parceria primordial de entidades atuantes em cada território para realizar o projeto.
Em comum, todos os encontros tiveram como eixo central os cinco valores difundidos pelo Usina de Valores: Bem-Viver, Escuta Ativa, Coexistir na Diferença, Engajamento Político e Dignidade Humana. Eles são conceitos transversais que se desdobram no curso de direitos humanos – com cinco encontros e módulos temáticos, totalizando 28 horas – e nas oficinas – atividades formativas livres, de caráter comunicacional e criativo em diferentes linguagens.
“Quando atuamos com Educação em Direitos Humanos, não se trata de explicar a teoria sobre os direitos, e sim de criar espaços que proporcionem a vivência em direitos humanos. Ou seja, espaços seguros de trocas de saberes, onde haja verdadeiramente escuta, respeito, diálogo”, explica a Coordenadora Educacional da área de Educação em Direitos Humanos do Instituto Vladimir Herzog, Crislei Custódio.
A primeira etapa do Usina de Valores nestes seis territórios aconteceu de março a maio de 2022, enquanto a segunda etapa se concentrou entre junho e agosto deste ano.
Trocar para fortalecer
Esta segunda etapa do Usina de Valores coincidiu em muitos territórios com um reencontro presencial e um movimento de reestruturação das redes territoriais. É o que aconteceu na Grande Vitória, por exemplo. “O curso e as oficinas movimentaram o pessoal aqui, a gente estava desanimado, precisando se ver. Muitas pessoas relataram durante o curso até estar num processo depressivo”, conta o educador Rafael Nascimento.
O percurso foi muito forte, a galera se encontrou num processo de força muito grande”, conclui.
Para a educadora Marília Gomes, o fator presencial também foi um grande diferencial nesta segunda etapa do Usina em Recife, que teve participantes ativos e instigados. Do Rio de Janeiro, Daiani Araújo comenta sobre a sensação de estar num espaço de troca e construção especialmente no contexto atual: “O Usina de Valores foi um respiro, um alívio, de encontrar pessoas que estão pensando numa mudança de perspectivas e de viver a vida, através da empatia, da escuta ativa, com base no respeito”.
“O Usina de Valores foi um respiro, um alívio, de encontrar pessoas que estão pensando numa mudança de perspectivas e de viver a vida, através da empatia, da escuta ativa, com base no respeito”.
Olhar para o território
O curso de direitos humanos do Usina está estruturado em cinco módulos temáticos com ênfase nas relações nos territórios, com temas como territorialidade, saúde mental, diversidade, desigualdade social e bem-viver. Assim, tomou percursos únicos em cada turma, de acordo com o contexto e as individualidades. No Rio de Janeiro, por exemplo, a educadora Daiani comenta: “Tivemos uma turma bem heterogênea, marcada pela participação de homens pretos de regiões diversas do Rio. A partir de cada vivência, a gente identificava e construía perspectivas diferentes sobre a relação do nosso corpo na cidade”.
As oficinas buscaram a expressão e sensibilização de participantes para suas identidades, direitos e relações com os espaços, além de instrumentalização para ações nos territórios. Daiani, educadora territorial no Rio, pontua que, apesar das diferentes linguagens, as oficinas procuraram alinhar arte e os valores do Usina como norteador e potência para expressar “o que somos e sentimos em relação ao nosso viver na cidade, ao nosso território e identidades”
Cada educador e educadora teve papel central para definição das linguagens. “Pra mim, era importante dialogar com as linguagens que vejo aqui em Salvador, dialogar com ações que a periferia já promove”, relembra Larissa Neves. Na Grande Vitória, as oficinas mobilizaram o Bonde das Favelas, grupo de artistas que já tinha vontade de retomar ações nas comunidades. Em Recife, as oficinas contaram com muitas pessoas ativistas de movimentos sociais na cidade.
Segundo a educadora pernambucana Marília, tanto o curso quanto as oficinas foram capazes de ampliar os olhares de quem esteve presente:
“Muitas pessoas relataram ter tido novas percepções e reflexões ao longo dos processos coletivos. Percebemos que essas atividades podem ser de fato muito transformadoras”.