Com cerca de 800 cantores e mais de 20 corais, multidão cantou músicas que marcaram a resistência à ditadura, como “Pra não dizer que não falei das flores” e “O bêbado e a equilibrista”
A Catedral da Sé, em São Paulo, recebeu no último dia 25 de outubro um ato interreligioso em homenagem ao jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado nas dependências do Destacamento de Operações de Informações do Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI), há exatos 40 anos.
O evento aconteceu no mesmo local da celebração em memória do jornalista, ocorrida seis dias após sua morte, em 31 de outubro de 1975, conduzida pelo cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, pelo rabino Henry Sobel e pelo pastor James Wright, que reuniu oito mil pessoas na mesma Catedral e em seu entorno, para protestar contra a barbárie cometida pela ditadura militar, que vigorava no país desde 1964.
Cerca de 800 cantores e mais de vinte corais se concentraram na Praça da Sé, subiram as escadarias e entraram na Catedral cantando o refrão de “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré, composta em plena ditadura. Quando todos já estavam dentro da igreja, a canção foi apresentada por completo, junto à banda que estava próxima ao altar. Logo após, começou o ato envolvendo diversas religiões.
“A violência policial matou meu pai, a violência policial continua matando centenas, milhares de pessoas nas periferias. Isso é absolutamente inaceitável, a sociedade tem que começar a se organizar e exigir o fim disso”, declarou em seu pronunciamento, na abertura do ato, Ivo Herzog, diretor-executivo do IVH e filho de Vlado, que tinha nove anos quando o pai foi assassinado. Para ele, é importante manter essa memória viva como inspiração para aquelas pessoas que continuam indignadas com uma série de violências que ainda hoje ocorrem na sociedade.
Ivo também fez questão de lembrar a importância de Dom Paulo Evaristo Arns, que conduziu o culto em 1975, mas que, por problemas de saúde, não esteve no ato deste ano. “O carinho, o abraço, as palavras dele. A família estava sofrendo muito e veio uma pessoa muito humana que cuidou da gente”, disse Ivo.
Clarice Herzog, presidente do IVH e viúva de Vlado, disse que seu sentimento diante do ato é de vitória da sociedade. “A dor, a revolta, o ódio que eu senti, aconteceram há 40 anos e me mobilizaram a fazer tudo. Eu tinha que fazer alguma coisa, eu tinha que provar para a sociedade que o Vlado tinha sido assassinado e eu consegui fazer isso”, declarou à reportagem da TV Globo.
A performance musical do ato foi dirigida pelo maestro Martinho Lutero Galati e contou com a presença de nomes como Sérgio Ricardo, Cida Moreira e Annie Murath Carrasco. O evento também foi prestigiado por figuras importantes da política e do jornalismo brasileiros, como Eduardo Suplicy, Rogério Sottili, Alberto Dines, Audálio Dantas, Ricardo Carvalho, Sérgio Gomes, entre outros.