12/05/2017

Aos 98 anos, morre Antonio Candido, o mestre do Brasil

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Com informações do jornal “O Globo”

Crítico literário, pensador social e militante político, Antonio Candido revolucionou a maneira de ver a cultura nacional e de interpretar o Brasil.

Morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 98 anos, o escritor Antonio Candido. O mais influente crítico literário do Brasil no século XX estava internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo. Segundo comunicado da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo, o velório será realizado nesta sexta no Hospital Albert Einstein, das 9h às 17h.

Antonio Candido de Mello e Souza chegou a prestar exame para a faculdade de medicina antes de ingressar, em 1939, nos cursos de Direito e Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Nessa mesma época, em 1940, estreou na imprensa no exercício da crítica literária, na revista “Clima”.

A linguagem fluente e a visão aguda fizeram com que rapidamente, somente três anos depois, fosse contratado para assinar críticas de rodapé na “Folha da Manhã” (atual “Folha de S. Paulo”) e, em seguida, no “Diário de S. Paulo”. Desde o início, seus textos se caracterizaram pela clareza – assim como o dos modernistas do período, que cultivavam o coloquialismo, embora, diferentemente destes, Candido pertencesse às primeiras gerações de formação universitária na área de ciências humanas no país, identificado com um estilo de raciocínio estético então novo no país.

Foi um intelectual que transitou, como poucos no país, entre esses dois universos – o da clareza exigida no cotidiano jornalístico e o da profundidade acadêmica, tendo consolidado em sua obra, sobretudo no clássico “A formação da literatura brasileira”, de 1957, conceitos fundamentais para se entender não apenas a literatura brasileira, como para aprofundar as interpretações sobre a cultura nacional. A crítica e o trabalho teórico de Candido se beneficiaram de sua dupla formação, na área de Ciências Sociais e na de Letras.

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Em 1965, recebe o Jabuti – mais importante prêmio da literatura brasileira. Voltou a ganhar a mesma honraria em 1993, além do Prêmio Machado de Assis (1993), o Prêmio Camões (1998) e o Prêmio Juca Pato (2007).

Durante a ditadura, atuou como defensor de causas humanitárias, denunciando como a repressão policial estava corroendo o Brasil e desagregando a nossa sociedade. Para ele, as arbitrariedades da perseguição política contaminaram em grande parte a atuação das polícias, numa herança que se faz presente até os dias de hoje. Ficou famoso também seu depoimento em pleno governo de Ernesto Geisel, quando afirmou que era importante discutir o socialismo, palavra então desaparecida da arena política e que, nos ouvidos dos generais e de grande parte da população, era quase uma ofensa.

Com os ventos da abertura política soprando mais forte, Antonio Candido seria um dos notáveis que ajudariam a fundar o Partido dos Trabalhadores (PT) em 1980. Nos últimos anos, quando a saúde lhe permitia, costumava participar dos longos debates e mesas-redondas organizados pelo partido. Sua opinião orientou os rumos do PT  especialmente durante a Era Lula e, consequentemente, está por trás de algumas medidas sociais daquele governo.

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