01/02/2021

Adélia Borges

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A pergunta feita foi: em que circunstâncias você assinou o documento? Por intermédio de quem o recebeu, onde trabalhava, que idade tinha etc.

Adélia Borges

Assinar o abaixo-assinado foi para mim decorrência de um envolvimento intenso na reação dos jornalistas de São Paulo ao assassinato de Vlado. Recebi a notícia de sua morte na manhã de 26 de outubro, um domingo. Eu e meu então marido Sérgio Buarque de Gusmão fomos avisados por nosso amigo Izalco Sardenberg – todos nós, jornalistas. Eu trabalhava desde 1972 na reportagem do Estadão. E também colaborava com o semanário Movimento, onde Sérgio trabalhava.

A notícia caiu como uma bomba. Sérgio e eu fomos então para o hospital Albert Einstein. Lá vimos amigos que tinham saído da prisão. Me lembro especialmente bem de Duque Estrada. 

Eu havia militado no movimento estudantil até 1973, quando conclui a graduação na ECA USP, e naquele momento participava ativamente da ação dos jornalistas via Sindicato dos Jornalistas. Virávamos dias e noites no sindicato, em assembleias, articulações, conversas. Era um movimento com muitas cabeças, a maioria bem jovens, como eu, que tinha 24 anos de idade. Uma coisa tinha sido tirar os pelegos da direção do Sindicato. Outra, muito diferente, seria reagir à morte de Vlado e nos sujeitarmos a sermos, também nós, presos, torturados e mortos – muitos de nós, aliás, eram ex-presos políticos. 

Participei com muito afinco e toda a energia e força juvenil para que a coragem vencesse o medo, que era de todos nós. Impossível esquecer o velório; impossível esquecer o ato religioso na Catedral da Sé no dia 31 de outubro. Olhando da perspectiva de hoje, fico muito orgulhosa de ter sido parte ativa na nossa reação. Foi um movimento importante na história de nosso país, construído com a força do coletivo. 

Estou tentando falar com amigos para refrescar minha memória; como não consegui, envio assim mesmo.

Na verdade eu me lembro mais da notícia da morte no dia 26 de outubro e de nossa reação grande por meio do Sindicato do que propriamente do abaixo-assinado. 

14/8/2020.

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