Informações portal/ sopacultural
Lembrando os 50 anos do Golpe Militar no Brasil, o Museu do Ingá, espaço da Secretaria de Estado de Cultura, inaugura no dia 01 de julho (terça), às 18h, a exposição “Ressonâncias – Rio de Janeiro, 1964”, uma reflexão sobre as dimensões políticas, sociais e culturais do golpe de Estado enfatizando seus desdobramentos na história regional do Rio de Janeiro.
Para refletir sobre as repercussões do movimento político de 1964 e as marcas deixadas na memória do Brasil recente, a exposição apresenta material de acervos públicos e privados, reunindo pela primeira vez registros documentais e iconográficos de época, além de depoimentos.
Serão cerca de 150 documentos divididos entre as salas do belo prédio que, entre 1903 e 1975, foi a sede do poder executivo fluminense e palco da política estadual em 1964, e que atualmente é o Museu do Ingá, em Niterói.
A curadoria da exposição é do historiador Paulo Knauss, diretor geral do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, e da historiadora Andrea Telo da Côrte, coordenadora do Centro de Estudo de História Fluminense do Museu do Ingá. O resultado desta pesquisa foi possível a partir da parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura, Superintendência de Museus, a Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ), a Comissão da Verdade e da Justiça (CEV-Rio) e o Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro (APERJ).
Em 1964, Niterói era a capital do antigo estado do Rio de Janeiro. O município do Rio de Janeiro constituía o estado da Guanabara, criado em 1960 com a transferência da capital federal para Brasília. A baía da Guanabara reunia assim dois governos estaduais: a Guanabara, então governada por Carlos Lacerda, e o Rio de Janeiro, comandado por Badger da Silveira. Diante do golpe de estado, o governo de cada margem assumiu uma posição, dividindo politicamente as águas da baía.
Diferente de Carlos Lacerda, líder da ala mais conservadora udenista, cuja memória é muito celebrada em que pese às polêmicas em que esteve envolvido, Badger Silveira foi relegado ao esquecimento, ao silêncio, tendo sido um importante aliado do presidente deposto João Goulart.
Os curadores da exposição ressaltam que esta é a primeira vez que o público poderá relacionar um fato nacional – como o golpe de estado que depôs o presidente Goulart e acabou por interromper a rotina democrática – e sua repercussão na política regional, destacando as diferentes posições dos governantes a partir de seus respectivos palácios de governo – o Ingá e o Guanabara. “No caso do Palácio do Ingá, um importante teatro dos acontecimentos da época, a exposição Ressonâncias cumpre uma importante função ao trazer para o presente flashes da história do antigo estado do Rio, extinto pelo decreto da fusão em 1975, e de seu último governador eleito, Badger Silveira”, explica Andréa Telo da Côrte.
Paulo Knauss, por sua vez, conta, ainda, que a mostra lança luz sobre como o ginásio esportivo do Caio Martins serviu de presídio político em 1964 e como na Ilha das Flores, onde funcionou a antiga hospedaria de imigrantes, se estabeleceu uma prisão política a partir de 1968. “Estes dois centros de prisão política, junto com a Fortaleza de Santa Cruz, exemplificam como a repressão política se instalou em terras fluminenses”. E acrescenta: “A exposição também chama atenção para a questão dos mortos e desaparecidos fluminenses e provoca o debate sobre uma época em que política e violência se misturaram de modo único na história nacional”.
A exposição
A mostra apresenta cerca de 150 documentos, entre jornais, fotografias, livros e folhetos censurados, a maioria inédita, ambientada nas salas do Museu do Ingá.
Logo no início a exposição aborda “O dia do golpe” destacando as manchetes de jornais que anunciaram o golpe de Estado iniciado no dia 01 de abril de 1964. O visitante poderá ver como os jornais do Rio de Janeiro e de Niterói expressaram o fato da política nacional que repercutiu na esfera regional.
Numa das salas principais, “Os dois lados da história”, se caracteriza como a política regional se dividiu em 1964, contrapondo a posição favorável ao golpe do então governador da Guanabara, Carlos Lacerda, e a oposição do governador fluminense, Badger Silveira, que terminou sendo deposto em maio de 1964. Esta sala reúne fotos dos governadores, junto a uma ambientação sonora com o discurso de Auro de Moura Andrade declarando vaga a presidência do país. O acervo chama atenção para o papel do rádio e do fotojornalismo na política da época. Destaca-se, ainda, uma vitrine com material de campanha eleitoral do ex-governador do Rio de Janeiro, nunca exposto e caracteriza os modos de fazer política na época.
Em seguida, o visitante é conduzido à sala “Memórias da repressão e da resistência”. Documentos de arquivos retratam como a repressão política se organizou na região do Rio de Janeiro, que terminou por reunir o maior número de centros de repressão e tortura no país. A sala abriga, ainda, materiais referentes aos porões da ditadura em solo niteroiense como o ginásio esportivo Caio Martins, construído na década de 1950 que poucos dias após o golpe de 1964 passou a ser usado como presídio político, e a Ilha das Flores, que a partir de 1968 também foi usada como prisão e centro de tortura. O movimento de resistência é representado especialmente pela galeria de nomes de mortos e desaparecidos fluminenses, além de documentos sobre presos políticos e da luta pela anistia.
No espaço dedicado ao “Movimento Estudantil” são apresentados cartazes manuscritos que tematizam como os estudantes lideraram a mobilização social e a crítica política naquele tempo de autoritarismo no Brasil.
Por fim, na sala “Cultura sob censura” são reunidos cartazes impressos de filmes de cinema avaliados pelo serviço de censura e que são identificados pelo carimbo de controle. A censura foi uma face da repressão social, condicionando os rumos da criação cultural. Entre a proibição e o consentimento o regime político revelou suas contradições.
A curadoria
Paulo Knauss é doutor em História pela Universidade Federal Fluminense, com pós-doutorado pela Universidade de Estrasburgo, França. Desenvolve pesquisas na área de História sobre as relações entre Memória e Patrimônio Cultural; Imagem, Arte e Política. É professor do departamento de História e do Laboratório de História Oral e Imagem da Universidade Federal Fluminense. Desde 2007 exerce o cargo de Diretor-Geral do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. Entre suas publicações mais recentes, destaca-se o livro em coautoria Brasil: uma cartografia (Casa da Palavra, 2010).
Andréa Telo da Côrte é doutora em História pela Universidade Federal Fluminense. Desde 2008 é coordenadora do Centro de Estudos de História Fluminense do Museu do Ingá/Funarj, onde dedica-se à pesquisa sobre o Estado do Rio de Janeiro durante a República. Dentre seus principais trabalhos estão os seguintes livros: Nilo Peçanha e o Rio de Janeiro no cenário da Federação (Museu do Ingá/2009): Política, Economia, Finanças. Os discursos da Campanha da Reação República ((Museu do Ingá/ 2009); Praça da República: poder, identidade e história urbana em Niterói. (Niterói Livros, 2011), Amaral Peixoto: memória, história e política (Museu do Ingá, 2013), Prestamistas, comerciantes e doutores. Uma história dos judeus em Niterói. (Garamond, 2013), e Novos Capítulos de História Fluminense (Museu do Ingá/2014).
Serviço:
Ressonâncias – Rio de Janeiro, 1964
Abertura: Abertura: terça-feira, 01 de julho, às 18h
Visitação: de 02 de julho a 31 de agosto
Local: Museu do Ingá
Rua Presidente Pedreira, 78, Ingá, Niterói, RJ – + 55 21 2717-2919
Grátis
Visitas: terça a sexta: 12h às 17h
Sábados, Domingos e feriado: 13h às 17h
As visitas mediadas para grupos serão realizadas com agendamento prévio pelo telefone
(21) 2717-2903 – [email protected]