O candidato à presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, apesar de ser signatário da carta-compromisso em prol de um ambiente livre e seguro para o exercício do Jornalismo nas eleições, tem usado recorrentemente o expediente de se voltar contra profissionais, de forma desrespeitosa, quando questionado por repórteres.
No início da campanha eleitoral, 11 organizações ligadas à liberdade de imprensa, dentre elas o Instituto Vladimir Herzog, enviaram uma carta compromisso aos candidatos e candidatas à presidência da República. O documento pedia que os postulantes ao Palácio do Planalto, seus partidos e coligações se comprometessem com a defesa de condições adequadas para o exercício da atividade jornalística no período eleitoral.
O texto recomenda sete posturas que as candidaturas deveriam assumir até o fim do segundo turno, entre elas, adotar em eventos públicos, atividades de campanha e no ambiente digital um discurso público que contribua para prevenir a violência contra jornalistas e comunicadores/as; e condenar publicamente qualquer forma de violência ou ataque contra jornalistas, comunicadores/as e a imprensa em geral.
A campanha de Ciro Gomes (PDT) informou aos organizadores do movimento que ele assumia esses compromissos. No entanto, episódios recentes envolvendo o candidato e profissionais de imprensa indicam que ele não seguiu exatamente os termos com os quais se comprometeu.
No debate do último sábado entre os presidenciáveis (24.set.2022), promovido pela CNN Brasil em parceria com o SBT, Estadão/Rádio Eldorado, Veja, Terra e NovaBrasilFM, ao ser indagado por Tatiana Farah, colunista do Terra, sobre uma possível adesão do PDT à candidatura de Lula (PT) em um eventual segundo turno, Ciro Gomes atacou o jornalismo e, indiretamente, a própria repórter:
“Uma das coisas graves que o lulopetismo corrupto tá produzindo no Brasil é a morte do jornalismo”, respondeu.
Na quarta-feira anterior (21.set.2022), durante a sabatina promovida pelo Estadão, em parceria com a Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), Ciro insinuou que o PT intoxicou a cabeça de Pedro Venceslau, repórter de política do Estadão e colunista da Eldorado. Venceslau tinha questionado se o candidato iria para Paris em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro (PL), como fez em 2018.
Em entrevista a um podcast de grande audiência, o pedetista fez uma acusação grave contra o mesmo repórter: disse que Venceslau havia feito trabalho sujo a serviço do gabinete do ódio de Lula e que, se ele fosse editor do jornal, demitiria o profissional.
Além do presidenciável, um representante do diretório nacional do PDT, partido de Ciro, também teve uma postura agressiva contra um jornalista. No domingo (25.set.2022), no programa do PDT nacional na internet, Gustavo Castañon chamou Leandro Demori, fundador da newsletter “A Grande Guerra”, de “bosta”. As ofensas foram proferidas depois que Demori citou na newsletter uma reportagem do UOL sobre filiados da legenda que estariam envolvidos em grupos de extrema-direita.
Para as organizações signatárias, um discurso que ataca o jornalismo não contribui para prevenir a violência contra jornalistas. Agir dessa maneira tem efeito contrário: fomenta, indiretamente, novas agressões. É do jogo democrático inquirir postulantes a cargos públicos sobre suas contradições – como também criticar reportagens e opiniões. Todavia, desacreditar profissionais e classificá-los como militantes disfarçados e enviesados produz um ambiente hostil em um ciclo eleitoral já marcado por extrema violência contra a imprensa.
As organizações instam o candidato Ciro Gomes a, no período de campanha que ainda resta, cumprir com o compromisso assumido de contribuir para um ambiente livre e seguro para o exercício do jornalismo.
Assinam:
ARTIGO 19
Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji)
Associação de Jornalismo Digital (Ajor)
Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)
Instituto Palavra Aberta
Instituto Vladimir Herzog
Intervozes
Repórteres sem Fronteiras (RSF)
Tornavoz