Por Gabriela Teixeira
Quando a Escola Municipal de Educação Fundamental Vladimir Herzog foi fundada na Cidade Tiradentes, em 1984, o distrito da Zona Leste ainda começava a ganhar vida. 38 anos depois, a região é uma das mais populosas de São Paulo, contabilizando mais de 200 mil habitantes. A explosão populacional, contudo, não foi acompanhada por políticas sociais e, segundo dados da Prefeitura de São Paulo, 8.064 das 52.875 famílias residentes no território estão em situação de alta ou muito alta vulnerabilidade.
É neste contexto que a EMEF Vladimir Herzog trabalha. Com 795 alunos matriculados e cerca de 70 pessoas compondo seu quadro de funcionários, a unidade educacional funciona nos turnos matutino e vespertino, oferecendo aulas em período integral para as turmas de 3° e 6° ano.
Tendo Vlado como patrono desde sua fundação, a EMEF – que originalmente se chamava “Wladimir Herzog” – cultiva com afinco a memória do jornalista. Quem a visita, se depara logo na entrada com um cartaz que exibe, ao lado de uma fotografia de Vlado segurando o filho Ivo, a frase “Aqui é uma escola pública de qualidade!”. Lá dentro, entre grafites e colagens, sua presença também é notada, especialmente durante a época de seu aniversário.
Este ano, para celebrar os 85 anos de Vlado, a escola realizou a quinzena “Vladimir presente: Resistência”, com atividades que, além de recreação, promoveram ações afirmativas pautadas nos direitos humanos. “Junto com as oficinas de arte, danças e jogos, também exibimos o filme Marimbás e documentários sobre o Vladimir, que depois são debatidos em sala de aula”, conta Keila Barreto, diretora da instituição.
Em um país em que 56% da população acredita que professores não devem falar sobre política em sala de aula, a EMEF não se faz de isenta, debatendo ativamente temas como o regime militar. Tal postura, mesmo que subjetiva, acaba por levantar questionamentos – Keila relata que já chegaram a perguntar por qual motivo o muro da escola foi pintado de vermelho. Para lidar com as indagações, o caminho escolhido pela instituição é o do diálogo: “Convidamos a família para percorrer a escola e observar o que realmente está sendo feito no âmbito pedagógico. Assim, desmistificamos os ideais que elas trazem.”
“É de extrema importância que a escola, que é um alicerce, seja também um espaço de memória. Quando assuntos importantes da história do nosso país e que remontam ao dia a dia são conversados dentro da escola com crianças e jovens, possibilitamos reflexões sobre o que pode ser transformado, o que podemos fazer diferente”, finaliza a diretora.
Este texto faz parte da campanha “85 anos Vladimir Herzog: espaços de memória”. Pensada para celebrar a vida e a obra de Vlado, a ação enaltece lugares de memória que levam seu nome na capital paulista. A campanha, que recebe apoio do Itaú Cultural, também convida o público a conhecer mais sobre Vlado no Acervo Vladimir Herzog e inicia um mapeamento dos lugares de memória que levam seu nome em todo o Brasil. Se você conhece um lugar/espaço com o nome de Vladimir Herzog, envie as informações para o IVH neste formulário.