A pergunta feita foi: em que circunstâncias você assinou o documento? Por intermédio de quem o recebeu, onde trabalhava, que idade tinha etc.
Ancelmo Gois
O ano em que os jornalistas se uniram contra a tirania
Eu sou filho político da geração de 68, aquele ano marcado pela rebeldia
juvenil em todo o planeta. No meu caso, com 19 anos, jovem repórter da
Gazeta de Sergipe e estudante em Aracaju, “O ano que não terminou” – na
formulação do mestre Zuenir Ventura – terminou, sim, para mim, na prisão.
Mais exatamente no 28º Batalhão de Caçadores, uma unidade do Exército
local, depois do AI-5, em dezembro. Fiquei em torno de um mês.
Quando saí da cadeia fui escolhido – já então no PCB – para fazer,
clandestino, um curso de formação política na antiga União Soviética, na
escola do Komsomol, braço da juventude do Partido Comunista da URSS. Lá
fiquei pouco mais de um ano, retornando ao Brasil no segundo semestre de
1970 e fixando residência no Rio.
No Rio comecei a trabalhar nas antigas revistas técnicas na sucursal carioca
da Editora Abril. Fazia também “frilas” para a revista Realidade, onde conheci Audálio Dantas, que veio a ser posteriormente presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo e que exerceu um papel importante de resistência naqueles “anos de chumbo”. A ditadura estava, digamos, no auge de sua brutalidade. Era época também do chamado “milagre brasileiro”, o grande crescimento econômico.
A soma desses dois fatores colaborou para uma certa anestesia política – inclusive nas redações. Tudo mudou com o impacto causado pelo assassinato do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, dentro do DOI-Codi paulista. Foi um sentimento de “basta” que tomou conta dos
coleguinhas, como, de resto, de todo o país.
“Em nome da verdade” foi obra de engenharia política dos colegas de São
Paulo. Mas eu, trabalhando na sucursal da Abril e mesmo pela ligação com
colegas paulistas do PCB, acompanhava toda a movimentação. Quando o
Manifesto ficou pronto fiz parte do grupo carioca que recolheu adesões mesmo junto a colegas politicamente mais conservadores. A repulsa à barbárie era maior do que qualquer eventual diferença política.
“Em nome da verdade” foi, acho, a maior manifestação política dos jornalistasem todos os tempos. Eu estava lá.
P.S.: Em abril de 1976 terminei respondendo a um processo político – foto – no
Dops carioca. Mas essa é outra história.
14/2/2021.