Morreu nesta sexta em São Paulo, aos 79, o artista plástico Antonio Henrique Amaral, famoso pelas mais de 200 pinturas que fez de bananas nos anos 1970, uma metáfora tropical dos descaminhos da ditadura que começou com o golpe de 1964. Ele lutava contra um câncer de pulmão havia um ano e estava internado desde o início da semana no hospital Samaritano.
Suas bananas, que começaram verdes nas primeiras telas, depois amadureceram e ressurgiram podres ou destroçadas nas últimas telas da série, serviram de alegoria para a situação política agravante no país ao longo da ditadura.
“Queria esculhambar com o governo militar, que estava reduzindo o Brasil a mais uma república das bananas, como eram as republiquetas centro-americanas”, disse Amaral, em sua última entrevista à Folha, há dois anos. “Meu desafio era pintar e, ao mesmo tempo, refletir sobre a tortura e as prisões numa coisa explosiva, sarcástica, de deboche.”
Ele também é o autor do quadro “A morte no Sábado”, em homenagem a Vladimir Herzog, que foi exibido, na época, no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Posteriormente, a obra também foi exibida na mostra “Resistir é Preciso…”, realizada pelo Instituto Vladimir Herzog.
Nos últimos anos, a obra de Amaral vem sendo relembrada numa série de exposições, começando com uma retrospectiva dedicada a ele na Pinacoteca do Estado e uma mostra de desenhos na Caixa Cultural, ambas em 2013, e por último uma mostra individual neste ano, na galeria Bolsa de Arte, em São Paulo.
Depois de se tornar conhecido pelas pinturas de bananas nos anos 1970, Amaral ganhou uma bolsa do Salão de Arte Moderna e foi viver em Nova York, onde passou mais de uma década, sendo um dos primeiros artistas do país a trocar Paris pela metrópole americana como referência de vanguarda visual.
Em Manhattan, Amaral abandonou as bananas e passou a construir composições abstratas mais espontâneas, surgidas de rabiscos que ele fazia ao acaso. “Sua obra oscila entre momentos de grande liberdade e controle”, observa a crítica Maria Alice Milliet. “Essa é a modernidade no trabalho dele, o que faz com que não seja ultrapassado hoje.”
*Com informações de A Folha de S. Paulo