Palestra 3: “O Impacto dos Meios de Comunicação na Cultura da Violência contra as Mulheres”.

Palestrante: Roz Hardie, CEO da Object, Organização Feminista do Reino Unido, que promove uma campanha permanente para desconstruir o sexismo e a cultura de objetificação das mulheres na mídia.

 

TRANSCRIÇÃO

MESTRE DE CERIMÔNIA

Boa dia, senhoras e senhores. Peço, por favor, que todos possam se acomodar pra gente começar o segundo dia do seminário. Tenho alguns avisos… pras pessoas que precisarem de certificados, precisa mandar o nome completo junto com o CPF pro e-mail info… vou soletrar: i-n-f-o – @ – s-c-o-v-a-w – .org. vou repetir: info@ “s-c-o-v-a-w”.org.

Gostaria de reforçar o convite também pra quem quiser compartilhar suas experiências na cabine que tem ali na saída do teatro, gravar o seu depoimento, depois esse material vai estar disponível no site do seminário e no site do Instituto Patrícia Galvão e Vladimir Herzog.

Alguém tem alguma dúvida sobre o e-mail, precisa que repita? Sim? Sim. Então, quem quiser certificado, manda o nome completo com CPF até amanhã para o e-mail info@ s c o v a w.org. Até amanhã. Daí, o certificado, eles mandam o certificado pro e-mail de vocês:  s c o v a w.

Esses papéis que estão na cadeira de vocês é um questionário de avaliação. Depois… nós pedimos pra que depois vocês possam preencher e avaliar o seminário e depois, podem ser entregues pras moças aqui do evento, da organização.

Para abrir o segundo e último dia do I Seminário Internacional Cultura da Violência Contra as Mulheres, nós teremos a palestra O Impacto dos Meios de Comunicação na Cultura da Violência contra as Mulheres. Para ministrar essa palestra, nós convidamos Roz Hardie, CEO da Object, Organização Feminista do Reino Unido, que promove uma campanha permanente para desconstruir o sexismo e a cultura de objetificação das mulheres na mídia.

ROZ HARDIE (SEM TRADUTORA)

 … uma exilada em Londres, que foi sexualmente torturada por soldados. Ela era… foi exilada durante a ditadura e ela me ajuda a entender a importância dessa batalha que nós travamos. Temos uma história de tradição de narrativas sobre como as coisas funcionam, incluindo microfones. O que é certo, o que é errado, quem temos que ser… e muito disso é controlado pela mídia.

E hoje eu quero falar sobre a história que estamos contando aqui sobre violência contra mulheres e meninas. Se não falarmos dessas histórias, talvez o nosso trabalho seja em vão. É um prazer estar aqui; eu espero que aquela energia que eu vi ontem, eu quero… eu queria conseguir botar isso numa garrafa e levar pra casa.

Eu estou muito impressionada de estar aqui, porque a minha presença aqui hoje é improvável. Há 29 anos, eu sofri uma violência, uma situação de violência. A minha história não é muito ruim; eu sei que pelo menos um terço das mulheres aqui nessa sala tem uma história de sofrimento e sobrevivência, histórias de dor…

Mas na minha vida, eu vivi isso e eu tive a coragem de sair pela porta, continuar vivendo, de aprender a continuar vivendo. Então, não subestimem a importância do que vocês estão fazendo aqui nesses dois dias. Porque vocês estão facilitando a sobrevivência de pessoas como eu pra que a gente fale, conte nossas histórias, não “se sinta” sozinhas. E vocês já estão fazendo muita coisa, eu acho que estão fazendo ainda mais.

Eu fiquei particularmente animada… parece uma viagem pela memória. Eu vi que vocês têm essa resolução de tolerância zero em relação a violência contra as mulheres. Eu venho de Edimburgo, na Escócia, e lembro de uma viagem que a minha cidade fez, a cerca de 20 anos, tentando transmitir essa mensagem pro domínio público.

A cerca de 22 anos, ficou decidido que tratar da violência contra mulheres não poderia ser feito individualmente, teria que ser feito uma educação pública, era preciso falar de proteção jurídica, reações adequadas entre a polícia, o judiciário… era preciso haver trabalho de prevenção contra crime, aconselhamento de segurança, era preciso haver abrigos, aconselhamento…

Mas o trabalho de prevenção tinha que ir debaixo pra cima e falar das atitudes subjacentes sobre a aceitação disseminada de violência contra mulheres e meninas e também nas instâncias individuais. E era preciso acabar com aquele blá-blá-blá de que ninguém podia usar saias curtas e dar justificativas para os criminosos e não pras vítimas.

Os últimos anos foram impressionantes. É muito interessante descer a rua e ver cartazes como “nenhum homem tem direito de fazer isso”. A ideia de que um homem simpático possa bater na mulher… é preciso saber que o Estado está contra isso, está do nosso lado; isso ajuda a determinar o debate em todos os partidos políticos, direita, esquerda, há um acordo de que o contexto trata do abuso dos homens do poder.

As pessoas falam sobre a violência dos homens contra mulheres, mas eu quero falar sobre o outro lado, quanto ainda precisa ser feito. Uma colega falou ontem sobre o  Grand Theft Auto, esse jogo… esse jogo nasceu na Escócia, eu tenho vergonha de dizer isso.

No ano passado, eu falei no parlamento da Escócia, falando de mulheres impressionantes que desenvolveram estes pôsteres impressionantes, mas eu vejo, eu vi esses pôsteres no natal do ano passado, são produtos que são vendidos pra crianças.

E esse “ jogador” permite que o jogador simule a atitude de um homem tendo sexo com uma prostituta e depois assassiná-la. Qualquer uma de nós que tenha filhos, que tenha contato com meninos, a gente tem que se preocupar com esse tipo de coisa. É um jogo virtual, mas a gente sabe que há uma probabilidade grande de mulheres que trabalham com prostituição morram.

Elas são exploradas e isso começa muitas vezes na infância. Isso não é uma escolha, não é uma carreira. Elas poderiam escolher não fazer isso. Eles poderiam escolher não vender mais esse jogo, fazer um jogo diferente, mas é uma questão de lucro; eles permitem que esses jogadores estuprem e matem mulheres em nome do lucro.

Então, nessa época do ano, no ano passado no Reino Unido, assim como em todo o mundo, estávamos naquela febre da Copa do mundo – eu adoro futebol, o meu time está indo muito mal agora no campeonato, mas… – muita gente estava falando de futebol, das Copas do passado e do Pelé, do Garrincha…

Havia uma outra história do brasil que estava circulando no meu país e era essa história aí, dessa foto. A história das mulheres brasileiras que são sexualizadas, estão sexualmente disponíveis. As brasileiras eram vistas como peitos, como bumbuns, como brasileiras que vão à praia.

E eu quero falar dessa fotografia, porque ela tem um significado na grande mídia e na publicidade de massa e como elas são cúmplices da sexualização das brasileiras e de outros povos. Mas eu quero falar um pouquinho sobre a minha organização, que se chama Object, a gente aprendeu algumas lições, histórias das campanhas que fizemos sobre a objetificação de mulheres, o que deu certo e o que deu errado…

Por que que a gente tem que falar sobre instituições e lucro e não apenas sobre pessoas e as histórias das pessoas que têm poder? A Object foi fundada por “Sasha REcoff”(?), que estava trabalhando num hospital  e ela viu um bebê olhando um jornal, uma menina olhando um jornal, que era publicado pela News Corp, publicado pelo Rupert Murdoch, que a cada ano, ao longo de 42 anos, havia uma foto de uma mulher nua na página 3 daquele jornal.

Ela viu uma criança olhando aquela foto e aquilo foi um catalizador para estabelecer essa organização e tentar juntar o poder das pessoas. Porque ela achava que isso era problemático. Uma americana chamada Jean Kilbourne disse sobre a publicidade que “transformar um ser humano numa coisa é quase sempre o primeiro passo pra justificar a violência contra essa pessoa”.

A gente não quer simplificar, a gente não quer dizer que uma foto de um bumbum de uma brasileira vai causar violência contra as brasileiras. Ele cria um contexto no qual fica mais fácil que a gente seja vista como nada apenas do que a soma de nossas partes sexuais.

E é fácil, facilita que a violência ocorra, a gente vira menos do que um humano. É pra isso que a gente serve. É como se fosse uma mulher morta, sem vida, ali, numa publicidade do Grand Theft Auto.

Essa foto aqui é uma publicidade, não tem nada a ver com mulher, é uma propaganda de sapato masculino. E é prazer dizer que a empresa que fez isso, eles pediram desculpa e disseram que vão anunciar seus sapatos dizendo que eles são bons para os seus pés e não pro bumbum de uma mulher.

A objetificação, objetos, por que que a gente se chama de objetos? Um sujeito age, um objeto sofre essa ação. Então, essa rosa aqui é um objeto, é uma coisa; ela não tem sentimento, não tem pensamentos, ela não tem a própria ação.

Olhamos o jornal Sun, em 2012, com as nossas ativistas, com jovens mulheres, a gente comprou várias edições do jornal e dividiu imagens de mulheres e homens em duas metades. Todas as fotos de mulheres eram objetificadas, muitas vezes mal… com pouca roupa… talvez não dê pra ver, mas depois eu posso mostrar melhor as imagens pra vocês.

Todas as mulheres à esquerda da foto, sobretudo os seios, mulheres sem roupas, objetificadas. Os homens apareciam como executivos, jogadores de futebol, pessoas que fazem coisas, que agem. E pra nós foi importante ilustrar o que a imprensa faz e como era a ação do Sun naquela época, mas isso também ajudou as pessoas a ver essa diferença.

Tem gente que não tem capacidade de vir aqui, as pessoas veem na prática. A gente mostrou esse jornal pra várias jovens meninas. Como é que você acha, o que que você acha disso, como ele te apresenta? Isso ajuda a aprender e criar uma nova geração de ativistas.

Eu tenho uma razão pessoal pra ter esse problema com o Sun. Um amigo querido, que era Jack “Queen”(?), ele teve a sua personalidade destruída por esse jornal. A gente poderia fazer uma palestra completa sobre a estereotipação das mulheres trans na imprensa.

A gente falou sobre isso ontem; eu acho que isso é um tema muito importante. A Marai levantou isso ontem. Quero falar rapidamente sobre essa campanha dos Estados Unidos. Eles falam sobre um teste, são aquelas batatinhas fritas industrializadas. É o teste da batatinha industrializada.

Se você está objetificando uma imagem. Você tem que começar se fazer algumas perguntas quando você está tentando encontrar os problemas. Então, essas pessoas são tratadas como comodidades, como coisas que podem ser vendidas. Tem aquela publicidade de sapato… e aqui, ele está escolhendo as mulheres, é uma seleção de mulheres.

Essa aqui é a imagem… essa imagem mostra uma pessoa sexualizada que está sendo ferida, sexualizada e que não pode dar o próprio consentimento. Ali em cima, à direita, isso foi publicado… saiu no bairro de ‘Hakning”(?), em Londres. Era de uma boate… e tem a ver com a Miley Cyrus, a cantora. Vocês conhecem a Miley Cyrus?

Aí, temos aquele fotógrafo, Terry Richardson. Àquela época, muitas modelos haviam… estavam fazendo acusações de assédio sexual contra esse fotógrafo, Terry Richardson. Então, ele aqui estava sofrendo essas acusações  e ele estava introduzindo um revólver no bumbum de uma modelo.

Então, mais uma vez, as, as… o poder das pessoas funciona. Isso aqui foi retirado em dois dias, é um prazer anunciar isso. E o promotor dessa boate ficou com uma imagem muito negativa. Então, essa cultura das pessoas… tiram essas fotografias, mandam, isso gera reclamações… Elas não deveriam nem aparecer em primeiro lugar, mas pelo menos agora a gente tem um lugar pra reclamar desse tipo de coisa.

A outra imagem vem da Itália. É uma publicidade de um paninho que você usa pra limpar o banheiro, diz “elimina todos os vestígios”. E ali atrás, tem um corpo feminino deitado numa cama e o homem está saindo. Isso aqui foi publicado em… pôsteres na Itália, em outdoors. Era como se fosse uma cena de um feminicídio. Isso pra nós é muito perigoso!

Por que que você vai vender um produto de limpeza mostrando uma cena de feminicídio? Essa imagem de uma pessoa sexualizada, ela pode ser trocada por uma série de outros corpos? Esse é um, esse é outro, são objetos?

Isso aqui esteve num jornal britânico chamado Daily Star. O dono é  Richard Desmond, é um milionário que ganhou muito dinheiro com pornografia, vendendo revistas de pornografia com mulheres asiáticas. Agora, ele tem um canal de televisão, ele tem dois grandes jornais e ele financia um partido de extrema direita no Reino Unido.

A gente conseguiu… fazer uma concorrência a essa pessoa que foi descrita como página 3. A gente conseguiu acabar com essa, essa página por causa dessa objetificação das mulheres. Eu acho que há dois anos, uma agência de publicidade não teria levado essa reclamação à sério; é porque hoje nós temos milhares de mulheres, as que levantam suas vozes dizendo que isso é inaceitável.

Então, agora a gente pelo menos já chegou a essa etapa em que essas coisas são retiradas do ar. Partes, essa imagem vende, mostra uma parte sexualizada de um corpo. Ou seja, uma mulher reduzida a simplesmente um seio ou a um bumbum. Eu estou aqui numa plateia brasileira dizendo que os britânicos mostram as brasileiras desse jeito, isso é importante.

Isso aqui não foi uma pequena coisa, isso é uma empresa que se chama Unilever… que vende um salgadinho. Isso aqui é uma empresa chamada Unilever, que vende sabão em pó e eles escolheram, conscientemente, vender esse salgadinho num mercado que se chama “Zul”(?), é essa foto á esquerda, é uma revista pornô, é uma revista de softporn.

Ou seja, diz aqui: você ganha o salgadinho de graça se você comprar essa revista. Você entra na Internet, gera a sua própria mensagem… como eu gosto, sobre como eu gosto. Fork é um garfo em inglês e é uma referência também a transar na praia. E aqui nós temos um turista sexual e a gente não conseguiu tirar isso do ar.

Eu espero que se isso acontecer novamente, isso “seria” retirado. Eu cometi um erro, eu reclamei sozinha e não consegui juntar as pessoas pra reclamar comigo. Então, aprendia a lição dessa, dessa história.

Essa imagem apresenta uma pessoa que substitui um objeto. Aqui, por exemplo, um corpo humano usado como cadeira ou mesa. A marai mostrou a foto de uma mulher que servia de banco. Isso aqui foi publicado há uma semana, é um clube de strip-tease no centro de Londres. Os clientes podiam comer sushi de cima de um corpo de uma mulher nua; se chama naked sushing. Então, isso acontece na realidade, era uma oportunidade pra comer sushi de uma mulher.

E a gente acha que isso é o estereótipo das mulheres asiáticas. A gente conseguiu parar com isso dizendo que era um problema de higiene. A gente não conseguiu impedir dizendo que era um problema de objetificação, mas a gente disse que era um problema de higiene. Eu espero que a gente possa mudar isso no futuro, mas pelo menos a gente tirou do ar.

É um desafio a proliferação desses… tipo de boate que existe no nosso país e que explora essas mulheres. Em geral, não tem muita dança que acontece lá não.

Nós falamos também sobre alguns tipos de marketing. Você pode comprar porcarias de que você não precisa. O marketing entra na sua mente, faz você acreditar que você quer essas porcarias e se, como homem ou mulher, você comprar essas coisas, se forem bem promovidas, haverá problemas em relação ao futuro desse problema, nós compramos muitas coisas de que não precisamos.

Há também problemas nos ideais criados de corpos que não são realistas. É muito difícil de evitar isso. Eu penso nas jovens pessoas que recebem todas essas informações e que não têm muito senso crítico.

Esse aqui é um exemplo dos anos 70. Foi uma propaganda de um carro, que dizia que se esse carro fosse uma moça, alguém iria lá beliscar o bumbum dele. E alguém escreveu: se ele fosse uma mulher, ele iria te atropelar. Então, isso foi uma coisa muito boa. Nós tentamos, com frequência, acabar com esse sexismo e nós tivemos, recentemente um caso semelhante e muitos dos nossos apoiadores mostraram vários slogans que diziam que alguém que comprasse esse carro sexista devia estar passando por uma menopausa masculina.

O sexismo nas propagandas é algo muito comum. Eu acho que nós precisamos falar também da pornografia, porque a indústria pornográfica é muito grande. Eu quero ser bem clara aqui, porque a liberdade de expressão é um direito dos seres humanos, assim como o direito à vida, mas nós temos que falar sobre o equilíbrio desses direitos.

Devemos começar concordando em que algumas coisas realmente são maléficas para o ser humano, fazem mal; então, não são liberdade de expressão, são evidências. Ontem, eu gostei de ouvir vocês falarem sobre o legado do imperialismo, da escravidão; eu acho que essa indústria pornográfica é algo extremo, focado apenas em lucros, é uma exploração nua e crua das pessoas e isso nos remete às épocas coloniais.

Eu acho que no mundo globalizado, cada vez mais globalizado, mulheres brancas e europeias como eu, ás vezes, tem que ouvir pessoas que têm… uma herança, um legado menos privilegiado digamos. Essas pessoas não valem menos, não posso focar apenas no meu interesse egoísta de fazer essas coisas “lucrar” com isso.

Esse aqui é um tipo de pornografia que se chama putas sujas latinas; é um negócio absolutamente horrível. Tem uma revista aqui que nos faz muito mal; é uma edição de uma revista de adolescentes brasileiras, uma edição focada em sexo anal. E um site chamado de imigrantes africanas exploradas e há fotos das vaginas de mulheres negras e coisas parecidas.

São mulheres muito jovens e são imigrantes africanas exploradas e isso faz mal para todos nós, isso é prejudicial para todos. É possível e eu sinto muito porque eu não posso falar de pornografia sem descrever o quanto isso é horrível.

Existe também um outro gênero que se chama Rosebudding. Isso gera prolapso anal, uma coisa muito violenta para a mulher e isso faz muito mal. Eu acho que isso gera uma crise de saúde pública. O intestino acaba saindo pelo ânus, é algo brutal e muito prejudicial para todos.

Isso, quero repetir, é uma foto que vem de um jornal que pode ser comprado no Reino unido e isso aqui apareceu durante o casamento real do príncipe… Eu não gosto muito da família real, mas isso aqui foi um filme pornográfico que foi produzido de uma mulher que … se chamava Kate Middleton e esse foi o filme pornográfico de uma mulher com o nome muito parecido com ela.

Se a futura rainha do Reino Unido pode ser sujeita a isso, o que mais pode acontecer? A mensagem é que você pode ganhar dinheiro explorando sexualmente mulheres. Eu acredito que a pornografia acontece com as mulheres… com mulheres de verdade de uma maneira desproporcional. Mas o poder do povo funciona; é importante que a gente não desista, que a gente não fique deprimido, porque se a gente se juntar é possível fazer a diferença.

Então, no Reino Unido, no ano passado… a publicidade que mais recebeu reclamações, 5 mil pessoas reclamaram dessa publicidade que foi publicada durante o julgamento de Oscar Pistorius. Vocês conhecem o caso do Oscar Pistorius? Ele foi acusado de matar a sua namorada e um apostador estava recebendo apostas, ganhando dinheiro em nome dele e também por causa da sua deficiência física e apostando em quem seria condenado.

E muita gente decidiu que nós éramos cidadãos e não consumidores e fizeram essas reclamações. Foi o terceiro, o terceiro mais reclamado foi o jornal The Sun… Mais de mil pessoas reclamaram. Isso está começando a mudar a mentalidade dos nossos, das nossas agentes regulatórias. Porque as pessoas estão reclamando.

Eu acho que isso também muda a mentalidade de mulheres e meninas. Elas diem: a gente não vai mais aceitar isso, a gente não aceita essa versão que é apresentada de nós… Algumas coisas que estamos fazendo aqui na Object, quando a gente fala de campanhas feministas, a gente tenta fazer tudo de uma vez só.

E uma das coisas que a gente descobriu é que é importante abraçar jovens ativistas. Chamando atenção para os problemas e ajudando as pessoas nessa jornada de pesquisas. Então, nesse ano, a gente pegou um outro jornal que havia exploração de mulheres, o Daily Star, a gente chamou atenção pra o fato de que eles têm muitas revistas femininas também.

E essas jovens ativistas fizeram uma colagem que mostra como as imagens pornográficas são justapostas a manchetes sobre violência contra mulheres. O dono dessa empresa disse, durante uma investigação, que ele não entendia o significado da palavra ética. Perguntaram pra ele sobre ética, ele falou: eu não entendo essa palavra.

Então, a gente botou uma pessoa com uma máscara e colocou… e levou pra ele de presente um dicionário como presente de dia dos namorados. Então, foi uma atitude de humor. A gente centra na nossa campanha contra o jornal Sun nessa imagem das mulheres. E o jornal Sun costuma ser lido por homens de classes sociais mais baixas e nós somos, num certo sentido, esnobes… nessa imagem das mulheres.

A gente tenta ver como os jornais mostram outros grupos. Então, o jornal The Sun, por exemplo, disse muitas mentiras contra os torcedores do Liverpool depois de uma tragédia em que os torcedores haviam tido um mal comportamento, em que … num incidente em que 96 pessoas morreram.

Vocês botaram o meu nome no Google, alguém viu uma foto minha com um narigão bem comprido? Quem faz campanha às vezes acontece isso no Google… Nós temos o que chamamos de lads mags, as revistas pra homem. São revistas de soft porn, aquela publicidade que eu mostrei das brasileiras apareceu numa dessas revistas.

E muito disso é pra lidar com essa ideia de que essas revistas pornográficas encontram brechas na legislação. Um grande varejista proibiu que as pessoas entrassem numa loja de pijama, mas eles vendiam revistas pornográficas, então, a nossa organização entrou de pijama nas lojas dessa organização pra chamar atenção pro fato de que eles proibiam de ir pijama. O que que era mais danoso, entrar na loja de pijama ou comprar uma revista pornográfica?

Então, são coisas que ajudam a avançar nessa causa. Temos pesquisas também… Às vezes, é possível esquecer, porque as pessoas têm vergonha de falar disso, as pessoas dizem que você é contra a nudez ou contra o sexo. Na verdade, a gente está falando de coisas danosas.

A gente descobriu que, no reino Unido, quase dois terços das pessoas – isso aqui foi uma pesquisa independente – quase dois terços das pessoas concordam com a frase de que pornografia faz com que a violência contra as mulheres pareça normal. Isso não é uma causa direta, mas é um contexto conforme eu já disse.

Pra encerrar, eu queria dizer que o poder das pessoas funciona. Não façam isso sozinhos, vocês não vão conseguir, vocês vão se deprimir. Tentem se divertir, pelo menos em alguma parte (?). Essa imagem vem de algumas das nossas migrantes que fazem parte de uma festa que a gente fez no dia dos namorados em Londres. Um grupo de nós dançou juntas. A gente dançou pra falar da violência contra as mulheres.

Porque isso é bom, a gente consegue se preparar para as próximas batalhas. Estude os ricos e poderosos. A gente às vezes… é preciso entender a indústria, a parte econômica, o modelo de negócio, se é possível… se você quer atrapalhar o que está, o que eles estão fazendo. Não tente fazer tudo, tudo sozinha. É melhor fazer pelo menos um pouquinho do que nada.

Eu falei sobre como as histórias formam a nossa vida. E eu vou voltar pra casa com as histórias fenomenais das mulheres que foram torturadas, que eu ouvi aqui, essas mulheres hoje chegaram ao governo. Isso é espetacular, eu acho q isso nos dá coragem pra dedicar mais a nossa energia quando voltar lá pro Reino Unido.

Tem uma história de que eu me lembro, não é do Brasil, é do Chile, que é um outro país que sofreu com a ditadura militar. Eu estava numa conferência da Anistia Internacional, foi no final da década de 90, e aí ficamos sabendo que o Pinochet tinha sido preso. Eu acho que muitos de nós lembramos de conhecer as refugiadas chilenas.

Em 20 anos, essa história que a gente começa a contar é de que os comitês internacionais de Direitos Humanos estão agindo com muito mais força jurídica contra a indústria mundial da pornografia, usando os processos jurídicos, as evidências como ponto de partida sobre como isso é danoso. E isso é importante para encontrar critérios relevantes nessa batalha.

Nós temos essas evidências hoje que são suficientes para levantar preocupação sobre como essas empresas lucram com essa exploração das mulheres. É essencial que a gente continue contando a nossa versão da história. Muito obrigada!